A ESPERANÇA DENTRO DE UM VASO DE BARRO

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Por Claudio Magris
"Todos nós somos um vaso de barro, frágil e pobre, mas é imenso o tesouro que nele trazemos", afirmou o papa Francisco, em sua conta no Twitter.
Também nessa frase, como em outras do papa, surpreendentes e nunca clamorosas, surpreende a tranquilidade – e, portanto, a força – com a qual ele desnuda fundamentais nuas e inquietantes da vida, da condição humana, da situação do mundo, da Igreja.

Francisco está colocando em ação – com a simplicidade de quem faz um trabalho necessário, difícil, mas não dramático – mudanças epocais, mas o faz sem qualquer pathos progressista e sem ansiedades atormentadas. Será difícil, justamente por causa do modo pelo qual ele as realiza, que as suas transformações possam desencadear a ênfase escandalizada dos adversários do Concílio ou as dúvidas tremendas e hamléticas de almas belas, temerosas das consequências de cada passo ousado.

O seu estilo desarma a priori tais resistências. Se tivesse sido papa quando os dois astronautas soviéticos, pioneiros do espaço, declararam pateticamente que não tinham visto Deus, Francisco provavelmente não teria reagido com a dolorosa tristeza de Paulo VI, mas talvez teria enviado um telegrama para agradecê-los por tê-lo tranquilizado, visto que teria sido embaraçoso se aqueles dois tivessem visto Deus, que, ao invés, nunca tinha se deixado ver diretamente pelo papa, ou se Deus fosse visível lá em cima – ou lá em baixo, por assim dizer – mais do que do nosso lado.

Nesse sentido, Francisco tem se revelado até agora extraordinariamente alto ao sustentar o tremendo peso que ele carrega, um verdadeiro grande líder "simples como uma pomba e astuto como uma serpente", como exorta o Evangelho e como deveria ser todo chefe e, antes ainda, todo ser humano. Há uma grande ironia cristã, e Francisco é mestre nela.

Somos todos vasos de barro, lembrou ele, sabendo que ele também o é. Não é uma coisa de nada, porque o barro se rompe facilmente, e as ocasiões de colisão com objetos duros e contundentes são muitas. Mas o tom com o qual ele o diz, desprovido de todo otimismo retórico, ajuda a continuar o nosso caminho bizarro, sem se preocupar muito com as batidas que se recebem e sem arruinar a existência com o contínuo medo do fim em que vamos aos pedaços.

E isso porque as suas palavras fazem sentir concretamente o infinito significado e valor que há em cada precário vaso de barro, em cada um de nós, e que a queda final não despedaça. São verdades que já foram ditas e que nós conhecemos, mas que precisam ser ditas novamente com força e originalidade para não se apagarem, assim como há a necessidade de que uma verdadeira poesia, de vez em quando, nos faça descobrir novamente a cor da aurora ou do mar.

Naturalmente, o papa sabem muito bem que alguns – muitos – vasos de barro são mais frágeis do que outros e quebram muito frequentemente. A astúcia cristã da serpente é necessária aos vasos mais frágeis até para treinarem o desvio, sempre que possível, dos golpes fatais; talvez para se unirem para dar um bom golpe contra algum vaso de ferro prepotente que, assim, aprende a ir aos pedaços também ele.

Com essa imagem, por si só deliberadamente não original, Francisco, sem dramas, desemparelha o jogo mais uma vez.
Corriere della Sera, 10-08-2013.

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