PADRES JÁ SE MOBILIZAM PARA ENFRENTAR O DESAFIO PROPOSTO PELO PAPA DURANTE A JMJ

domingo, 4 de agosto de 2013

Na Igreja São José, no Centro de BH, o padre Paulo Sérgio Carrara preside adoração em igreja lotada mesmo durante a semana: ele percebe que templo tem cada dia mais fiéis.


O papa Francisco foi bem claro na sua visita ao Rio de Janeiro (RJ) durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ): quer a Igreja nas ruas, bispos e padres próximos do povo, trabalhando para os pobres e formando jovens missionários. De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), não haverá uma reunião específica da instituição para tratar dos temas enfocados em homilias, discursos e demais falas do pontífice, ficando a cargo de cada arquidiocese e diocese do país definir sua linha de ação, atividades pastorais e práticas.

“Nós nos sentimos desafiados a intensificar esse caminho novo redesenhado e confirmado pelo pontífice”, diz o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. A Arquidiocese de BH é composta de 273 paróquias e 1,5 mil comunidades (igrejas, espaços de celebração etc.) de 28 municípios, onde vivem cerca de 3,5 milhões de católicos.

Mas, uma semana depois do encerramento da JMJ, que levou mais de 3 milhões de pessoas à Praia de Copacabana, no Rio, as palavras ecoam na capital e interior de Minas, mobilizando sacerdotes e fiéis. “Estamos vivendo um tempo novo. A passagem do papa pelo Brasil deu uma sacudida na Igreja, provocou uma retomada de consciência a respeito do evangelho”, afirma o padre Douglas Baroni, titular da Paróquia de Nossa Senhora do Montserrat, em Baependi, no Sul de Minas. A paróquia completou ontem 290 anos e o município foi sede, em maio, da beatificação de Nhá Chica. “Estamos falando não só nas missas, mas também nas reuniões do conselho paroquial, sobre os temas proferidos pelo papa, como ajuda aos pobres, formação dos jovens missionários, atenção aos idosos e outros”, conta o pároco.

Em BH, a fé mobiliza multidões, mesmo em dias de semana. “O papa quer uma Igreja missionária, centrada na busca de pessoas que estão distantes e afastadas”, acredita o reitor da comunidade São José, padre Paulo Sérgio Carrara. Ele diz que as portas do templo na Avenida Afonso Pena, entre ruas Espírito Santo e Tamoios, no Centro da capital, estão sempre abertas. “Batizamos todas as crianças que chegam aqui. Só fazemos questão de que os padrinhos sejam católicos. E recebemos todas as pessoas”, diz o padre Carrara. “Muitos assuntos ainda serão discutidos pela pastoral familiar, mas já fazemos um trabalho social no assentamento Dandara”, adianta.

É meio-dia de quinta-feira e a Igreja de São José, mesmo em obras e com andaimes, está com as laterais da nave e bancos totalmente ocupados – algo em torno de 1,5 mil católicos participam da adoração do santíssimo, ofício que completa uma década no mês que vem. Antes de se dirigir ao altar e dar a bênção a homens e mulheres, muitos deles em lágrimas, o padre Carrara conta que cerca de 80% dos frequentadores de missas e outras celebrações são pessoas que passam pela Região Central. “Notamos que o número vem crescendo gradativamente, da mesma forma que aumentam as confissões individuais”, diz.

Durante uma hora, as pessoas acompanham as orações e rezam contritas – o momento de maior emoção ocorre quando o padre eleva o ostensório. Sentada perto de um altar lateral, com um terço nas mãos, a bióloga Julcelma Ribeiro da Silva, moradora de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, está visivelmente emocionada. Ela se recorda bem das frases do papa e defende maior aproximação do clero com a população. “Eles podem estar mais presentes. Acho que até as outras religiões vão respeitar mais os católicos”, diz a bióloga, certa de que as famílias vão acolher bem os religiosos. “Pode voltar até o tempo em que os padres frequentavam todas as casas, assim como os médicos”, afirma.

Paciência
Com larga experiência religiosa – 48 anos de sacerdócio, 27 anos trabalhando na cúria e 19 anos na Capela Curial Nossa Senhora do Rosário, no Centro de BH – o chanceler da Arquidiocese de BH, monsenhor Geraldo dos Reis Calixto, cultiva uma qualidade fundamental para atender o chamado do papa: paciência. “Ele acabou de ir para o Vaticano. Ainda está cedo para definições e não houve uma reunião, uma assembleia. A pastoral da arquidiocese vai se adequar às palavras do papa”, adianta o chanceler. De início, o capelão da Igreja do Rosário considera fundamental paciência para ouvir e acolher, além de dar amor e carinho, como fez Francisco. “Diariamente, de segunda a segunda, reservo uma hora para a escuta, as confissões individuais.” Numa pasta preta que sempre carrega, a exemplo do papa, o chanceler leva um caderninho azul, no qual transcreve os bilhetinhos com pedidos dos frequentadores da capela curial. “Já são três cadernos e os levo para o altar”, mostra o monsenhor. 

Presença para diminuir a violência

A presença mais efetiva de padres nas comunidades de periferia pode até reduzir a violência, observa a auxiliar de enfermagem aposentada Leonor Evangelista, de 67 anos, moradora do Bairro Rosarinha, em Santa Luzia, na Grande BH. Este ano, uma escola estadual recém-inaugurada ganhou destaque na imprensa duas vezes devido à agressão de um professor por um aluno e disparos em dois estudantes. “A situação está séria em muitos lugares e os religiosos podem ajudar os jovens e os mais necessitados”, diz Leonor. Também participando da adoração do santíssimo na Igreja São José na quinta-feira, Celma Elena da Cruz, de 59, moradora do Bairro Candelária assegura que nas ruas os bispos, e padres receberão informações fundamentais para o trabalho pastoral. “Conversar é fundamental.”

A dona de casa Marta Maria Gomes, moradora do Bairro São Pedro, na Região Centro-Sul, gostaria de ver um acolhimento maior. “Quanto mais próximos, melhor, pois fica mais fácil para o pastor conhecer o seu rebanho”, diz. Na saída da igreja, o comerciário Ubiraci Afonso Amazonas, morador do Bairro Liberdade, na Região da Pampulha, também se mostra entusiasmado com as palavras do papa e espera que os padres possam sair das igrejas para fortalecer a fé e atender as comunidades. Já o agente de turismo Herbert da Silva Faria, de 45, morador do Bairro Santa Mônica, diz que é preciso haver disponibilidade dos religiosos.

No interior, principalmente onde há centros de devoção popular, os sacerdotes mantêm mais proximidade com os fiéis. Em Sabará, na região metropolitana, o titular da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário (16 igrejas), padre Rogério Messias dos Santos, revela que se formam laços de amizade fortes e os religiosos estão sempre perto das famílias. “Acho que as mudanças devem começar no seminário, na formação dos padres. Lá, eles devem ter informações de que devem fazer trabalhos nas ruas. O problema é que ainda há poucos padres e as paróquias não têm recursos para sustentá-los. Desse jeito, tenho que cuidar das igrejas, da administração da paróquia, celebrar missas, atender a comunidade e pagar as contas.”
Gustavo Werneck – Estados de Minas


0 comentários:

Postar um comentário

 
São Francisco da Penitência OFS Cabo Frio | by TNB ©2010