Da hora sexta à hora nona a terra toda escureceu.
Is 53,4-5
A verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores; e nós pensávamos fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado! Mas ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço da nossa cura.
V. Lembrai-vos de mim, Senhor Jesus,
R. Quando tiverdes chegado ao vosso Reino.
" Por antiquíssima tradição, a Igreja neste dia e no seguinte não celebra a eucaristia.
À tarde, no horário mais oportuno, procede-se à celebração da Paixão do Senhor. Comemoramos os dois aspectos do mistério da cruz, o sofrimento que prepara a alegria da Páscoa, e a humilhação e opróbrio de Jesus, dos quais promana sua glorificação. Hoje já é Páscoa: Cristo, que morre na cruz, passa deste mundo ao Pai; do seu lado brota, para nós, a vida divina; passamos da morte do pecado à vida em Deus.
A solene ação litúrgica começa com a oração silenciosa de toda a assembléia, de joelhos. A celebração consta de três partes: liturgia da palavra, adoração da cruz e comunhão eucarística." (Missal dominical)
ORAÇÃO
Ó Deus, foi por nós que o Cristo, vosso Filho, derramando o seu sangue, instituiu o mistério da Páscoa. Lembrai-vos sempre de vossas misericórdias, e santificai-nos pela vossa constante proteção. Por Cristo, nosso Senhor.
PARA LEITURA E MEDITAÇÃO
Leituras: Is 52, 13-53,12 Ele foi ferido por causa de nossos pecados.
Sl 30 Ó Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito.
Hb 4, 14-16; 5, 7-9 Ele aprendeu a ser obediente e tornou-se causa de salvação para todos os que lhe obedecem.
Jo 18, 1-19, 42 Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo João.
DO OFÍCIO DAS LEITURAS
Da Carta aos Hebreus 9,11-28
Cristo, sumo sacerdote, com o seu próprio sangue,
entrou no Santuário uma vez por todas
Irmãos: 11Cristo veio como sumo-sacerdote dos bens futuros. Através de uma tenda maior e
mais perfeita, que não é obra de mãos humanas, isto é, que não faz parte desta criação, 12e não com o sangue de bodes e bezerros, mas com o seu próprio sangue, ele entrou no Santuário uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna. 13De fato, se o sangue de bodes e touros, e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros os santifica e realiza a pureza ritual dos corpos,
14quanto mais o Sangue de Cristo, purificará a nossa consciência das obras mortas, para
servirmos ao Deus vivo, pois, em virtude do espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha.
15Por isso, ele é mediador de uma nova aliança. Pela sua morte, ele reparou as transgressões
cometidas no decorrer da primeira aliança. E, assim, aqueles que são chamados recebem a
promessa da herança eterna. 16Onde existe testamento, é preciso que seja constatada a morte de quem fez o testamento. 17Pois um testamento só tem valor depois da morte, e não tem efeito nenhum enquanto ainda vive aquele que fez o testamento.
18Por isso, nem mesmo a primeira aliança foi inaugurada sem sangue. 19Quando anunciou a todo o povo cada um dos mandamentos da Lei, Moisés tomou sangue de novilhos e bodes, junto com água, lã vermelha e um hissopo. Em seguida, aspergiu primeiro o próprio livro e todo o povo, 20e disse: “Este é o sangue da aliança que Deus faz convosco”. 21Do mesmo modo, aspergiu com sangue também a Tenda e todos os objetos que serviam para o culto. 22E assim, segundo a Lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não existe perdão.
23Portanto, as cópias das realidades celestes tinham que ser purificadas dessa maneira; mas as próprias realidades celestes devem ser purificadas com sacrifícios melhores. 24De fato, Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, imagem do verdadeiro, mas no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor. 25E não foi para se oferecer a si muitas vezes, como o sumo-sacerdote que, cada ano, entra no Santuário com sangue alheio.
26Porque, se assim fosse, deveria ter sofrido muitas vezes, desde a fundação do mundo. Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. 27O destino de todo homem é morrer uma só vez, e depois vem o julgamento. 28Do mesmo modo, também Cristo, oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão, aparecerá uma segunda vez, fora do pecado, para salvar aqueles que o esperam.
Responsório Cf. Is 53,7.12
R. Foi levado como ovelha ao matadouro;
e, maltratado, não abriu a sua boca;
* Foi condenado para a vida de seu povo.
V. Ele próprio entregou a sua vida
e deixou-se colocar entre os facínoras. * Foi condenado.
Segunda leitura
Das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo
(Cat. 3,13-19: SCh 50,174-177) (Séc.IV)
O poder do sangue de Cristo
Queres conhecer o poder do sangue de Cristo? Voltemos às figuras que o profetizaram e
recordemos a narrativa do Antigo Testamento: Imolai, disse Moisés, um cordeiro de um ano e marcai as portas com o seu sangue (cf. Ex 12,6-7). Que dizes, Moisés? O sangue de um
cordeiro tem poder para libertar o homem dotado de razão?
É claro que não, responde ele, não porque é sangue, mas por ser figura do sangue do Senhor.
Se agora o inimigo, ao invés do sangue simbólico aspergido nas portas, vir brilhar nos lábios dos fiéis, portas do templo dedicado a Cristo, o sangue verdadeiro, fugirá ainda mais para longe.
Queres compreender mais profundamente o poder deste sangue? Repara de onde começou a
correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria cruz, e a sua origem foi o lado do Senhor.
Estando Jesus já morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista, um soldado
aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água,
como símbolo do batismo; o sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias.
Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.
De seu lado saiu sangue e água (Jo 19,34). Não quero, querido ouvinte, que trates com
superficialidade o segredo de tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico e profundo.
Disse que esta água e este sangue são símbolos do batismo e da eucaristia.
Foi destes sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação no Espírito Santo, isto é, pelo batismo e pela eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de seu lado traspassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa.
Por esta razão, a Sagrada Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão osso dos meus ossos e carne da minha carne (Gn 2,23), que São Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Pois assim como Deus formou a mulher do lado do homem, também Cristo, de seu lado, nos deu a água e o sangue para que surgisse a Igreja. E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono de sua morte.
Vede como Cristo se uniu à sua esposa, vede com que alimento nos sacia. Do mesmo alimento
nos faz nascer e nos nutre. Assim como a mulher, impulsionada pelo amor natural, alimenta
com o próprio leite e o próprio sangue o filho que deu à luz, também Cristo alimenta sempre com o seu sangue aqueles a quem deu o novo nascimento.
Responsório Cf. 1Pd 1,18-19; Ef 2,18; 1Jo 1,7
R. Não foi nem com ouro nem prata
que fostes remidos, irmãos;
mas sim pelo sangue precioso
de Cristo, o Cordeiro sem mancha.
* Por ele nós temos acesso num único Espírito ao Pai.
V. O sangue do Filho de Deus nos lava de todo pecado.
* Por ele.
Oração
Olhai com amor, ó Pai, esta vossa família, pela qual nosso Senhor Jesus Cristo livremente se entregou às mãos dos inimigos e sofreu o suplício da cruz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
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