O caminhar juntos do papa

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Por Enzo Bianchi
O papa Francisco mostra que não tem e não quer um programa prefixado de pontificado, mas que está decidido a percorrer o caminho da adesão à realidade que se apresenta a ele dia após dia, buscando no Evangelho as escolhas a serem concretizadas.

"Quem é Jorge Mario Bergoglio?". "Eu sou um pecador. Essa é a definição mais certa. E não é um modo de dizer, um gênero literário. Sou um pecador". Assim o Papa Francisco se apresenta. Isentemos desde já que esse seu modo de dizer não é retórica, mas sim expressão da verdade: a verdade de quem foi humilhado pelo pecado e o confessa aos irmãos como sua verdadeira identidade diante de Deus. Uma operação de autenticidade nada fácil. Por isso, os padres do deserto diziam: "Quem reconhece o seu pecado é maior do que aquele que ressuscita um morto!".

Bergoglio – a pergunta se referia ao homem Jorge Mario, nem ainda ao papa – se reconhece, portanto, como homem fraco e frágil, pecador, mas que confia no amor de Deus, dom que não precisa ser merecido.

Essa primeira resposta fornece a chave de entrada para toda a entrevista concedida a Antonio Spadaro. E é sobre o fato de serem coirmãos jesuítas que os dois interlocutores tomam impulso no diálogo, porque o Papa Bergoglio é um jesuíta em todas as suas fibras: não por acaso as referências presentes na entrevista são quase todos a homens da Companhia de Jesus. Os santos Inácio e Francisco Xavier, o Bem-Aventurado Pedro Fabro, os teólogos De Lubac e De Certeau – um dos mais refinados patrólogo e um dos mais agudos teólogos da modernidade –, poetas como Hopkins, homens carismáticos como o padre Arrupe, que eu mesmo conheci como um santo que soube viver até as humilhações por parte de João Paulo II em uma obediência extrema e pacificada.

Desse pertencimento à tradição jesuíta, jorra a atenção do papa Francisco pelo discernimento, operação espiritual indispensável sobre a qual os padres monásticos orientais indagaram e que foi retomada por Inácio de Loyola como um dos pontos capitais do itinerário de seguimento do Senhor no mundo e na história.

Eu sempre disse – e escrevi na regra para a minha comunidade – que aqueles que presidem precisam de firmeza, discernimento e misericórdia como carismas indispensáveis para o seu ministério de unidade. O Papa Francisco parece ser sólido como uma rocha, bem fundado sobre Cristo e empenhado em discernir para governar com sabedoria.

Quanto à misericórdia, basta ver o que ele tem feito nesses seis meses de papado e aquilo que ele reitera na entrevista: ele perdoou e continua perdoando, ao custo de fazer emergir as urgências de reforma da Cúria e da Igreja. Nas suas homilias matinais em Santa Marta, ele adverte e repreende, até mesmo com dureza e paixão, aqueles que compartilham o governo da Igreja, os "homens da Igreja", mas ao mesmo tempo anuncia o perdão e deixa em seu posto os vários colaboradores.

O Papa Francisco mostra que não tem e não quer um programa prefixado de pontificado, mas que está decidido a percorrer o caminho da adesão à realidade que se apresenta a ele dia após dia, buscando no Evangelho as escolhas a serem concretizadas. Da sua experiência pessoal, ele busca obter instrução para não repetir os erros do passado: assim ele confessa que, no seu exercício de jovem provincial da Companhia, zeloso e com pouca experiência, ele governou de modo bastante autoritário.

Também por esse motivo, a Bergoglio sente a consulta "real, não formal" como uma graça e uma ajuda: ouvir os outros, ouvi-los em profundidade, coletar os pensamentos de todos e, depois, fazer discernimento para poder decidir na oração, sob a orientação do Espírito Santo, tanto quanto é possível para um homem que se exerce na obediência à palavra de Deus e na reta intenção.

Destacadas essas facetas sobre o homem, o cristão e o bispo Bergoglio, o que dizer da Igreja do Papa Francisco? Ele provém de uma Igreja jovem, do outro lado do mundo com relação a Roma, da periferia geográfica com relação a um centro ultramilenar. É o primeiro papa não europeu, e esse dado é muito mais decisivo do que poderíamos presumir.

Na minha vida, eu já conheci sete papas, com muitas diferenças entre si, principalmente entre os papas do Concílio e o primeiro papa estrangeiro depois de séculos, João Paulo II. Já naquela época houve uma profunda mudança no exercício do papado e, consequentemente, na orientação da Igreja, mas com Bergoglio a mudança é ainda mais profunda.

O seu pertencimento a uma das jovens Igrejas sobre as quais ele diz na entrevista que "desenvolvem uma síntese de fé, cultura e vida em devir", portanto, têm uma visão "diferente daquela desenvolvida pelas Igrejas mais antigas". São Igrejas jovens, que têm força, que olham para o futuro, que sentem a sua emersão como uma graça e uma possibilidade de mostrar com resultado um novo cristianismo depois de séculos de sofrimento, pobreza, sujeição ao Ocidente. Mas o Papa Francisco também sabe que, nas Igrejas antigas, há uma reserva de sabedoria que ele certamente quer levar em conta.

No entanto, jovem ou rica em anos, a Igreja é um "hospital", imagem presente na regra de Bento, onde o abade é advertido a se lembrar de que a comunidade é composta por pessoas doentes, frágeis, fracas, necessitadas de serem ouvidas, cuidadas, guardadas, "miseradas", para retomar o "miserando" do lema episcopal de Bergoglio.

É por isso que para o papa Francisco a "proximidade" é uma postura fundamental: o próximo não existe em si mesmo, o próximo existe quando cada um de nós decide tornar o outro seu vizinho, fazendo-se ele mesmo próximo, "mais vizinho". Bergoglio conhece bem essa verdade evangélica e sabe também como manifestá-la com gestos e palavras eficazes.

De tudo isso emerge uma visão precisa da Igreja. Não só uma Igreja que conhece o primado da misericórdia – aspecto do qual todos já se deram conta e sobre o qual muito já foi dito, mesmo depois da entrevista –, mas também uma Igreja sinodal, uma Igreja na qual se caminhe juntos, se faça "synodos", estrada juntos: fiéis, presbíteros, bispos e papa.

Na entrevista, o papa Francisco explica isso com clareza: a sinodalidade como método de vida e de governo da Igreja. Nenhuma renúncia ao ministério petrino, mas isso deve ser situado – como havia esboçado o Concílio Vaticano II – na sinodalidade episcopal e, portanto, na sinodalidade de toda a Igreja.

Não são novidades absolutas, porque quem tem memória se lembra, por exemplo, da carta pastoral "Caminhar juntos" do cardeal Pellegrino. Quantas semelhanças entre aquele arcebispo de Turim e o Papa Francisco! Eu também penso no convite dirigido aos religiosos para que dessem as suas casas aos imigrantes... O padre Pellegrino recebeu muito desconfiança por causa desse apelo, principalmente por parte de religiosos e religiosas que não apreciaram, de fato, a sua exortação.

Na entrevista, ele não se detém sobre as contradições já encontradas e que certamente irão aumentar e acompanharão constantemente o ministério do Papa Francisco. Eu não gostaria de parecer um arauto da má sorte, mas, evangelicamente, quando um cristão – e ainda mais um papa – levanta o estandarte da cruz, não como arma contra os inimigos, mas como caminho de seguimento do Senhor, ele só pode ir ao encontro de incompreensões e contradições, em uma solidão institucional pesada e cansativa. Não pode ser diferente, porque assim aconteceu com Jesus, e quem o segue fielmente, mais cedo ou mais tarde, vai se encontrar na mesma situação.

Existe um famosíssimo quadro de Rembrandt: um Pedro velho na prisão, no chão, com uma expressão de sofrimento no rosto e as mãos acorrentadas, mas que estão cruzadas para rezar. É um Pedro que, mesmo na prisão, parece cantar o ´´Erbarme dich" da Paixão segundo São Mateus de Bach, ao chorar o seu ser pecador.

Que o sucessor de Pedro saiba que, como está escrito nos Atos dos Apóstolos, assim também hoje, "enquanto ele estava na prisão, uma oração subia incessantemente a Deus de toda a Igreja por ele".
La Stampa, 21-09-2013.
*Enzo Bianchi é monge, teólogo, prior e fundador da Comunidade de Bose.

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