'Prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma Igreja doente'

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Por Domenico Agasso Jr.
“A catequese é um pilar para a educação da fé e necessitamos de bons catequistas”; por isso, precisamos voltar a partir de Cristo, que significa “não ter medo de ir com Ele às periferias”, disse o papa Francisco durante a audiência com os participantes do Congresso Internacional sobre a Catequese (que terminou neste domingo), promovido no contexto do Ano da Fé. Do encontro, que trata sobre o tema “O catequista, testemunha da fé”, participaram 1.600 pessoas, entre catequistas, agentes de pastoral, professores e especialistas de diferentes realidades.

O pontífice agradeceu pelo serviço dos catequistas “à Igreja e na Igreja. Embora às vezes possa ser difícil, trabalhar tanto, comprometer-se e não ver os resultados esperados, é bonito educar na fé! Ajudar as crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos a conhecer e amar cada vez mais o Senhor é uma das aventuras educativas mais bonitas”. Francisco indicou, na sequência, que é necessário “ser catequista”. “A Igreja – explicou Bergoglio citando Bento XVI – não cresce por proselitismo, mas pelos testemunhos”. Ser catequista não é um trabalho: “Atenção, eu não disse ‘estar’ catequista, mas ‘ser’ catequista, porque envolve a vida toda. Guia para o encontro com Jesus com as palavras e com a vida, com o testemunho. E ‘ser’ catequista exige amor, amor cada vez mais forte por Cristo, amor por seu povo santo”. E este amor, “necessariamente, parte de Cristo”.

O papa refletiu sobre o conceito de “partir de Cristo”: “O que significa isto para um catequista, para vocês e também para mim, porque eu também sou catequista?”. Pelo menos três coisas.

Quer dizer, sobretudo, “ter familiaridade com Ele. Jesus recomenda insistentemente aos discípulos na Última Ceia, quando se prepara para viver o dom mais sublime do amor, o sacrifício na Cruz”. O Filho de Deus usa a imagem da videira e dos ramos “e disse: permaneçam em meu amor, permaneçam unidos a mim, como os ramos estão unidos à videira. Se todos estamos unidos a Ele podemos dar fruto e esta é a familiaridade com Cristo”. Assim, pois, o que um discípulo deve fazer acima de tudo é “estar com o Mestre, escutá-lo, aprender d’Ele. E isso vale sempre, é um caminho que dura toda a vida!”.

O papa que está reformando a Igreja através da “normalidade” contou uma das suas experiências cotidianas, “normal”: “Para mim, por exemplo, é muito importante permanecer diante do Tabernáculo; é estar na presença do Senhor, deixar-se guiar por Ele. E isto aquece o coração, mantém aceso o fogo da amizade, te faz sentir verdadeiramente o seu olhar, que está perto de ti e que te quer”.
O pontífice compreende que “para vocês não é tão simples: especialmente para os que estão casados e têm filhos, é difícil encontrar um momento de calma. Mas, graças a Deus, não é necessário que todos façamos a mesma coisa; na Igreja existe uma variedade de vocações e uma variedade de formas espirituais; o importante é encontrar a maneira adequada para estar com o Senhor; e isto se pode, é possível em qualquer estado de vida”.

Em seguida, Francisco indicou qual é o segundo elemento: partir de Cristo “significa imitá-lo no sair de si mesmo e ir ao encontro do outro. Esta é uma experiência bonita, um pouco paradoxal. Porque os que colocam Cristo no centro da própria vida perdem o centro. Quanto mais te unes a Jesus, quanto mais Ele se torna o centro da tua vida, mais te faz sair de ti mesmo, te ‘descentra’ e te abre aos outros”. O Papa continua: “o verdadeiro dinamismo do amor, este é o movimento de Deus mesmo! Deus é o centro, mas é sempre dom de si, relação, vida que se comunica... Assim, nos tornamos também nós se permanecemos unidos a Cristo, Ele nos faz entrar neste dinamismo do amor. Onde há verdadeira vida em Cristo, há abertura para o outro, há saída de si para ir ao encontro do outro em nome de Cristo”.

Por último, partir de Cristo “significa não ter medo de ir com Ele às periferias”. Uma das palavras chaves do Pontificado de Bergoglio: as periferias, não apenas geográficas, mas também existenciais. E a este respeito, o papa sugeriu “a história de Jonas, uma figura verdadeiramente interessante, especialmente em nossa época de mudanças e de incertezas. Jonas é um homem piedoso, com uma vida tranquila e ordenada; isto o leva a ter seus esquemas sempre muito claros e a julgar tudo com estes esquemas, rigidamente”.

E assim, quando “o Senhor o chama e lhe diz para que vá pregar em Nínive, a grande cidade pagã, Jonas prefere não fazê-lo. Nínive ultrapassa seus esquemas, está na periferia do mundo. E então foge, embarca num navio que vai longe”.

O pontífice recomendou reler o “Livro de Jonas. É uma parábola muito instrutiva, especialmente para nós, que estamos na Igreja. Ensina-nos a não ter medo de sair de nossos esquemas para seguir a Deus, porque Deus sempre nos ultrapassa, Deus não tem medo das periferias”. “Deus é sempre fiel – prosseguiu – é criativo, não é fechado, e por isto nunca é rígido, nos acolhe, vem ao nosso encontro, nos compreende”. Mas, para sermos fiéis, “para sermos criativos, devemos saber mudar. Para permanecer com Deus devemos saber sair, não ter medo de sair”.

E depois fez uma tríplice advertência: “Se um catequista se deixa possuir pelo medo, é um covarde; se um catequista se acomoda, acaba como estátua de museu; se um catequista é rígido, torna-se estéril”. É preciso mudar, para adequar-se às circunstâncias nas quais se deve anunciar o Evangelho, disso o papa: às vezes, na comunidade da Igreja, “é como estar em um quarto fechado, e aos poucos ficamos doentes; claro, se vamos para a rua podemos sofrer acidentes, mas eu digo que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma Igreja doente”.
Vatican Insider, 27-09-2013.

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