Jornal francês qualifica Francisco de 'novo animal político mundial'

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

"Um novo animal político está se impondo no cenário midiático mundial", diz o artigo assinado por Sylvie Kauffmann, diretora editorial do Le Monde. “Com ótima visibilidade, sorriso fácil, verbo hábil, mensagem impactante, o papa Francisco conquistou, no espaço de seis meses, um auditório que ultrapassa amplamente o de seus fiéis. Aos 77 anos, tem inquestionavelmente isso que os profissionais norte-americanos das relações públicas chamam de ´star power´. Fala muito e livremente. Beija, acaricia, brinca, escreve cartas, faz ligações telefônicas, tuiteia, e o mais importante, surpreende”, acrescenta. 
O jornal também se pergunta pelo que Francisco fará com esse ´star power´ e se conseguirá reformar a Igreja em profundidade. “Será Francisco o Papa do renascimento da comunidade católica?”. Enumera os gestos de austeridade e simplicidade que, diz, “sem dúvida tiveram efeito”. Também faz referência aos conceitos que assomou à sua mensagem: pobreza, misericórdia e discernimento.

E as expressões impactantes como “a globalização da indiferença” (pelos dramas de Lampedusa) ou o “quem sou eu para julgar um homossexual?”, entre tantas outras, que demonstram “que nenhum tema o assusta”.

Mas, acrescenta o artigo, “tratando-se da Igreja católica (...) estes símbolos não são por si só garantia de mudança”.

Na sequência, Kauffmann, que foi correspondente do Le Monde no leste europeu, compara Francisco com Mickhail Gorbachov que, disse, também foi posto por seus pares “como sucessor de anciãos à frente do Império em crise e também surpreendeu com gestos inesperados, uma audiência nova na expressão e no estilo, diagnósticos sem complacência e promessas de reformas que suscitaram esperanças muito loucas fora de seu país”.

“Também ele tratou de afastar o aparelho conservador da sua organização”, diz o artigo, continuando com o paralelo.

Kauffmann apela a outra comparação. O papa criou uma comissão para a “simplificação e a racionalização” das atividades econômicas e financeiras da Santa Sé, composta por sete leigos entre os quais se encontra George Yeo. Trata-se diz a editorialista, de um católico de Singapura, especialista em China, que vem estabelecendo há tempos uma comparação entre o Vaticano e a potência asiática.

“Em um artigo divulgado em agosto pelo sítio The Globalist, Yeo disse que ambos (o papa e Xi Jinping, o novo presidente da China) têm ao seu encargo um quinto da humanidade. A China e a Igreja são anciãs e administradas por mandarins. Ambas aspiram à liderança moral e cada uma vê na outra uma concorrente”, refere o Le Monde.

Yeo também diz que tanto a Santa Sé como a China estão muito presas ao centralismo democrático, ou seja, ao método criado por Lênin, que consiste em ouvir todas as opiniões da base, mas tomar a decisão na cúpula.

“A estrutura hierárquica do poder na China e na Igreja católica é atacada pela revolução das redes sociais que, entre outras coisas, revelaram a corrupção e os abusos sexuais”. E acrescenta o singapurense: “O presidente Xi, assim como o papa Francisco, consciente da gravidade do desafio, tomou medidas para adotar um tom novo, utilizando símbolos fortes”.

E o jornal conclui: “Não desejamos ao papa a sorte de Mikhail Gorbachov (que renunciou). Mas esperamos com impaciência um encontro entre Francisco e Xi”.
Religión Digital, 08-10-2013.

0 comentários:

Postar um comentário

 
São Francisco da Penitência OFS Cabo Frio | by TNB ©2010