A excepcional figura de Francisco, segundo o Financial Times

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

No decurso de 2013 nenhuma figura capturou a imaginação do povo em todo o mundo mais do que o papa Francisco. Quando foi eleito 266º sucessor de São Pedro aos 13 de março, a direção da Igreja católica romana parecia estar em grande dificuldade. O Vaticano estava envolvido pelo escândalo dos abusos sexuais da parte do clero. Os católicos nos USA e na Europa deixavam a Igreja em grande número.
A improvisada retirada de Bento XVI no mês precedente – pela primeira vez desde 1294 que um papa renunciava por iniciativa própria – cristalizava a impressão de uma Igreja em crise. Nos nove meses desde sua eleição, o papa Francisco deu início a uma importante revisão na direção e na gestão do papado. E demasiado depressa para avaliar se conseguirá aplacar a difusa raiva pelos abusos sexuais do clero ou ir ao encontro das preocupações dos católicos apavorados pela rígida ortodoxia moral do Vaticano. Em todo o caso, houve três aspectos que neste ano o tornaram uma figura de grande fascínio para católicos e não católicos.

Antes de tudo há sua pessoal modéstia. Numa época na qual muitos são chocados pela vaidade de pessoas famosas ou pela riqueza de plutocratas, o papa se tornou rapidamente um símbolo global de compaixão e humildade. Escolheu viver num apartamento de duas peças antes do que no palácio apostólico. Abandonou a Mercedes papal para uma Ford Focus. Sua determinação de estar em numerosas ocasiões fisicamente e visivelmente próximo a enfermos e necessitados dá testemunho de um igualitarismo profundamente sentido.

Um segundo âmbito sobre o qual atraiu a atenção é o dos temas de sexo e matrimônio. Os mais recentes predecessores do papa Francisco – João Paulo II e Bento – eram fortes defensores da ortodoxia moral.

Enquanto ainda não impôs nenhuma mudança doutrinal, o atual pontífice mudou radicalmente o tom e a linguagem com a qual discutir sobre estes argumentos.

Quando, neste ano, um jornalista lhe perguntou como via o status dos padres gay na Igreja, ele lhe respondeu: “Quem sou eu para julgar:” A outro entrevistador disse que a Igreja estava “obsessionada” por problemas como aborto, matrimônio gay e contracepção.

Em terceiro lugar, introduziu uma série de reformas na gestão da Santa Sé que lhe permitem ativar a mudança. O papa nomeou um grupo de oito bispos na mesma linha para enfrentar problemas difíceis, marginalizando com o sínodo dos bispos fortemente conservador. Nomeou uma nova comissão para indagar sobre casos de abusos sexuais e encontrar modos de melhorar a proteção dos menores.

Particularmente impressionante é o modo com que preparou o Sínodo que será instalado no próximo ano para discutir problemas como divórcio, controle dos nascimentos e matrimônio homossexual. Antes daquele encontro, o papa solicitou às dioceses que distribuam um questionário a todos os paroquianos católicos, solicitando seu parecer sobre tais argumentos. Isto poderia indicar uma intenção de discutir estes temas sem serem ligados a tabus de velha data.

Aqueles que desejam urgentemente reformar a Igreja católica, não deveriam, no entanto, correr demais. Há grandes testes antes disso. Não é absolutamente certo que a comissão que indaga sobre os abusos sexuais examine a culpabilidade passada do Vaticano ou de parte do clero. Sobre muitos temas, como a ordenação presbiteral de mulheres, o novo Pontífice é doutrinalmente conservador.

Mas, o que impressiona a propósito do papa Francisco é a rapidez com quem se tornou uma autêntica figura de referência para aqueles que se preocupam com o que ele chama “aquele ídolo chamado dinheiro” e o modo pelo qual “caímos numa indiferença globalizada num mundo globalizado”. Muitos dos políticos de direita não estarão de acordo com sua crítica ao “capitalismo selvagem”. Mas, exprime suas preocupações e ânsias com uma sinceridade e autenticidade que nenhum líder mundial sabe igualar.
Financial Times, 29-12-2013.

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