Rio de Janeiro- Os fiéis da Arquidiocese do Rio foram surpreendidos na manhã de 12 de janeiro com o anúncio feito pelo Santo Padre de que a Igreja carioca recebia como presente de Deus a nomeação do cardinalato de seu arcebispo metropolitano, Dom Orani João Tempesta.
Com a criação do novo cardeal durante o Consistório que acontecerá em 22 de fevereiro, em Roma, a Arquidiocese do Rio, sede cardinalícia, retoma a tradição de ter à frente de seu trabalho pastoral um dirigente com o título de cardeal arcebispo.
A notícia da nomeação veio dentre as diversas atividades da Trezena de São Sebastião 2014. Completamente envolvido na programação, Dom Orani ainda conseguiu reservar tempo para celebrações de Ação de Graças, atendimento à imprensa e às muitas pessoas que quiseram prestar sua homenagem e manifestar seu carinho.
Em entrevista exclusiva para o jornal “Testemunho de Fé”, o cardeal eleito fala sobre sua infância, a passagem pelo mosteiro, o carisma cisterciense, a visita do papa Francisco ao Brasil e como dará continuidade a sua missão depois do cardinalato.
Testemunho de Fé (TF) – O que significa para o senhor ser um dos primeiros cardeais nomeados pelo papa Francisco?
Dom Orani João Tempesta – Creio que é um compromisso de estar com ele nesse momento de muitos ideais, como: a reforma interna da Igreja, uma maior presença e proximidade junto ao povo, especialmente os mais pobres, e uma evangelização mais constante, num diálogo maior com a sociedade. Claro que como bispos já temos essa obrigação e missão. Porém, agora como cardeal, a responsabilidade é ainda maior. Supõe que possamos traduzir através do nosso trabalho, da proximidade com o Santo Padre, nos conselhos que faremos parte, o desejo e o que o papa, que age iluminado pelo Espírito Santo, vê como importante para a Igreja nos dias de hoje.
TF – De coroinha a cardeal. Como foi a descoberta de sua vocação?
Dom Orani – Minha vocação nasceu na adolescência. Embora tivesse presente na época de coroinha e de criança, mas não muito clara, ela começou a esclarecer quando tive que decidir sobre a vida. Na época do ensino médio, após o antigo ginásio, apareceram as perguntas, e foi aí que o Senhor me iluminou para decidir pela vida religiosa, na Ordem Cisterciense, que eu conhecia. Foi uma sintonia muito grande daquilo que experimentei na vida cisterciense, com o meu desejo de seguir uma vida de oração, de trabalho, de ação pastoral. A época em que morei no mosteiro me fez muito feliz.
TF – Sua formação é monástica. Hoje o senhor é um cardeal da Igreja. Como sua espiritualidade o preparou para essa missão?
Dom Orani – Um dos fundamentos marcantes é o que São Bernardo coloca para os monges cistercienses: o “sentir com a Igreja”. Além da oração e do trabalho, que pode ser escolar, pastoral, no campo e muito variado, é preciso sentir com a Igreja. Creio que esse aspecto foi muito marcante em nosso mosteiro. O sentir com a Igreja local e diocesana, de estar junto com as preocupações da Igreja universal, do Santo Padre. Esse “sentir com a Igreja” marcou muito meu modo de ser. Então, a oração e o trabalho, que faz parte da vida monástica beneditina, segundo a Regra de São Bento, foram acrescentados com São Bernardo, com seu exemplo de preocupar-se com a Igreja. Na época do mosteiro, tínhamos um prior (superior de uma ordem religiosa) que falava muito desse amor à Igreja, o que marcou também minha presença. Assim, pude servir à diocese no Conselho de Presbíteros, no Colégio de Consultores, na Coordenação de Pastoral, sem deixar a vida monástica. Isso me levou a servir a Igreja diocesana, o Regional Sul 1 da CNBB e por onde estive até hoje.
TF – Sua ordenação presbiteral, em São José do Rio Pardo, foi realizada no dia 7 de dezembro de 1974. Nessa época passava em seu coração, como todo sacerdote, o desejo de servir ao seu povo. E agora como cardeal, o que passa em seu coração?
Dom Orani – Nunca pensei em deixar o mosteiro, nem minha cidade, onde eu fui ordenado e estava atuando. Lá servi primeiro como vice prior, depois como vigário paroquial, mais tarde como superior da casa, abade e como pároco. Sempre imaginei que terminaria minha vida por ali, e muito feliz de poder viver a vida de padre e religioso, que eu achava um belo equilíbrio. Quando a Igreja me chamou para ser bispo de Rio Preto, eu também achei que fosse terminar ali, em Rio Preto. Depois, fui pra Belém, no Pará. Foi uma bela experiência cultural. E também achei que fosse terminar por lá. Agora, no Rio de Janeiro, sou criado cardeal. Creio que aquilo tudo que vamos recebendo na gratuidade e sem esperar é sempre um dom, uma graça. Assim como Deus me conduziu por seus caminhos até hoje, vai continuar me conduzindo, porque não deve depender de mim e de minha capacidade, mas sim dessa graça de Deus.
TF – A seu ver, quais os maiores desafios da Igreja no mundo de hoje?
Dom Orani – Creio que o Papa tem colocado isso com muita clareza. Ele mostrou que a Igreja deve ser mais proativa e não tanto reativa, de adiantar as questões e ser um sinal para a sociedade. Como ele fez em muitas situações: em relação à Síria, à Lampedusa, à fome no mundo. Assumir uma postura de conduzir, de chamar a atenção da humanidade. Depois, é claro, a questão da Igreja enquanto instituição, que abrange a reorganização que o Papa está fazendo. A Igreja tem muita coisa positiva e bonita, mas existem coisas a serem melhoradas. Nas comunicações, por exemplo: o Vaticano tem muitos tipos de veículos e de agências, mas não tem uma articulação. Articular a comunicação é uma oportunidade para a Igreja ser ainda mais uma presença organizada na sociedade, de dizer aquilo que pensa, e que é a verdade, para que ela possa ser transmitida. Outra questão está ligada à formação do leigo e do padre. Isso já foi detectado desde outros pontífices. E o Papa Francisco também está salientando esse aspecto, chamando a atenção para o aprofundamento da própria fé e do conhecimento geral.
TF – O senhor tem sido definido como um homem conciliador. E o seu lema episcopal é “Para que todos sejam um”. O senhor se considera um conciliador?
Dom Orani – Eu sempre tive essa convicção: de querer ser conciliador. E esse lema está comigo desde minha ordenação sacerdotal. Somente na época em que fui abade eu mudei o meu lema para “É melhor servir”. Depois, quando fui sagrado bispo, retornei com ele. Estou convicto que na Igreja temos muitos dons e muitos carismas, e que é necessário que se articule todos como valor muito importante. Porém, creio que também na sociedade, no mundo de hoje, se pode trabalhar em conjunto muitas questões que existem, otimizando meios e maneiras de viver a fraternidade e a solidariedade. E isso é um desafio. Muitas coisas se perdem na Igreja e na sociedade devido a brigas e divisões, enquanto poderíamos trabalhar unidos.
TF – Seu episcopado foi marcado por uma ação pastoral direta, em diálogo constante com o povo e a sociedade. Logo após eleito, o papa disse que os pastores devem ter o cheiro das ovelhas. Viu nessas palavras uma confirmação do seu ministério episcopal?
Dom Orani – Eu creio que o papa, sendo da América Latina e vivendo um pouco da realidade dessa região do mundo, expressou aquilo que de certa forma é o jeito de ser da Igreja latino-americana. Claro que há diversas nuances, lugares em que se vive mais de um jeito que de outro. Mas desde o começo da minha formação filosófica e teológica e mesmo antes como religioso, sempre vi desse forma: o pastor e o padre junto a seu povo. E vemos que isso acontece muito em diversos lugares, como aqui no Rio de Janeiro. Temos muitos padres que vivem seu sacerdócio trabalhando pelo povo. Sem dúvida, o papa Francisco confirma um jeito latino-americano de ser e de se preocupar de estar junto com o povo.
TF – Durante a JMJ, Deus permitiu que o senhor tivesse um contato mais próximo com o papa Francisco. Quais são os ensinamentos deixados pelo pontífice que o senhor pretende colocar em prática agora como cardeal do Rio?
Dom Orani – Uma questão bem particular do papa é a piedade e a vida de oração. Todas as vezes que o Santo Padre passava pela imagem de São Joaquim, na residência episcopal, colocava as mãos e fazia uma oração. Da mesma maneira, quando passávamos pela imagem do Cristo Redentor, mesmo sem poder colocar a mão, Papa Francisco parava, olhava, fazia o sinal da cruz e rezava. Ele é uma pessoa com uma piedade popular em seu coração. Outro ponto é a simplicidade. Aquilo que ele é para o povo, é durante as refeições e encontros. Sempre simples, sem grandes sofisticações.
TF – O papa Francisco enviou uma carta pessoal a cada um dos que foram nomeados cardeais. Em certa parte da carta ele afirma que “cardinalato não significa uma promoção; é simplesmente um serviço que exige que se amplie o olhar e se alargue o coração”. Como o senhor planeja atender esse pedido do papa Francisco?
Dom Orani – O papa é livre para nomear os cardeais, e não é obrigado a nomear cardeais de sede cardinalícia, nem tão pouco alguém que tenha feito um grande evento. O pontífice escolhe quem ele acredita que o Espírito o inspira para a Igreja. Estou muito agradecido pela confiança, e sem dúvida ele coloca bem claro na carta que enviou aos novos cardeais que não é uma honraria, mas sim um serviço. Na noite de domingo, quando terminei a peregrinação, estava lembrando do último ato da Trezena diante do Cristo Redentor. De lá, nós temos dois tipos de olhar: um é o olhar nosso a Jesus; você não olha só o Cristo, mas a cidade inteira. E o segundo, é o olhar como o Cristo do alto do monte para toda a cidade, para as pessoas. Daí eu pedi para o Senhor que eu nunca deixasse de olhar para Cristo na minha vida, e que Ele me ajudasse a olhar o mundo com seus olhos. O fato de ser cardeal não vai mudar o jeito de ser da pessoa. Mas é preciso saber que é um trabalho a mais, um cargo de servir a Igreja.
TF – Seu primeiro almoço como cardeal foi na companhia de pessoas que o acompanhavam. Tendo o alimento sido preparado numa paróquia e servido em descartáveis. Isso mostra uma característica muito semelhante entre o senhor e o Santo Padre: a simplicidade. Como viver essa simplicidade mesmo sendo abordado a todo instante pela imprensa e tendo sua imagem ligada a publicações em todo o mundo?
Dom Orani – Não tenho planos para mudanças. Daquilo que tenho como atividades no cotidiano, não existe nada que eu queria mudar. Quero continuar vivendo e acolhendo as pessoas, fazendo visitas e vivendo justamente a simplicidade no dia a dia. Mais que ter uma coisa a ser feita, o importante é viver essa atitude. É ser mais do que fazer.
TF – O que o senhor gostaria de dizer aos fiéis do Rio de Janeiro e também do Brasil?
Dom Orani – A nomeação de um cardeal para o Rio de Janeiro é a nomeação de todo o povo carioca ao cardinalato. Na minha pessoa, estão todos sendo nomeados. Agora, já que tinham tanto o desejo de um cardeal para a Arquidiocese do Rio, o povo tem a obrigação de rezar pelo cardeal eleito (risos).
Com a criação do novo cardeal durante o Consistório que acontecerá em 22 de fevereiro, em Roma, a Arquidiocese do Rio, sede cardinalícia, retoma a tradição de ter à frente de seu trabalho pastoral um dirigente com o título de cardeal arcebispo.
A notícia da nomeação veio dentre as diversas atividades da Trezena de São Sebastião 2014. Completamente envolvido na programação, Dom Orani ainda conseguiu reservar tempo para celebrações de Ação de Graças, atendimento à imprensa e às muitas pessoas que quiseram prestar sua homenagem e manifestar seu carinho.
Em entrevista exclusiva para o jornal “Testemunho de Fé”, o cardeal eleito fala sobre sua infância, a passagem pelo mosteiro, o carisma cisterciense, a visita do papa Francisco ao Brasil e como dará continuidade a sua missão depois do cardinalato.
Testemunho de Fé (TF) – O que significa para o senhor ser um dos primeiros cardeais nomeados pelo papa Francisco?
Dom Orani João Tempesta – Creio que é um compromisso de estar com ele nesse momento de muitos ideais, como: a reforma interna da Igreja, uma maior presença e proximidade junto ao povo, especialmente os mais pobres, e uma evangelização mais constante, num diálogo maior com a sociedade. Claro que como bispos já temos essa obrigação e missão. Porém, agora como cardeal, a responsabilidade é ainda maior. Supõe que possamos traduzir através do nosso trabalho, da proximidade com o Santo Padre, nos conselhos que faremos parte, o desejo e o que o papa, que age iluminado pelo Espírito Santo, vê como importante para a Igreja nos dias de hoje.
TF – De coroinha a cardeal. Como foi a descoberta de sua vocação?
Dom Orani – Minha vocação nasceu na adolescência. Embora tivesse presente na época de coroinha e de criança, mas não muito clara, ela começou a esclarecer quando tive que decidir sobre a vida. Na época do ensino médio, após o antigo ginásio, apareceram as perguntas, e foi aí que o Senhor me iluminou para decidir pela vida religiosa, na Ordem Cisterciense, que eu conhecia. Foi uma sintonia muito grande daquilo que experimentei na vida cisterciense, com o meu desejo de seguir uma vida de oração, de trabalho, de ação pastoral. A época em que morei no mosteiro me fez muito feliz.
TF – Sua formação é monástica. Hoje o senhor é um cardeal da Igreja. Como sua espiritualidade o preparou para essa missão?
Dom Orani – Um dos fundamentos marcantes é o que São Bernardo coloca para os monges cistercienses: o “sentir com a Igreja”. Além da oração e do trabalho, que pode ser escolar, pastoral, no campo e muito variado, é preciso sentir com a Igreja. Creio que esse aspecto foi muito marcante em nosso mosteiro. O sentir com a Igreja local e diocesana, de estar junto com as preocupações da Igreja universal, do Santo Padre. Esse “sentir com a Igreja” marcou muito meu modo de ser. Então, a oração e o trabalho, que faz parte da vida monástica beneditina, segundo a Regra de São Bento, foram acrescentados com São Bernardo, com seu exemplo de preocupar-se com a Igreja. Na época do mosteiro, tínhamos um prior (superior de uma ordem religiosa) que falava muito desse amor à Igreja, o que marcou também minha presença. Assim, pude servir à diocese no Conselho de Presbíteros, no Colégio de Consultores, na Coordenação de Pastoral, sem deixar a vida monástica. Isso me levou a servir a Igreja diocesana, o Regional Sul 1 da CNBB e por onde estive até hoje.
TF – Sua ordenação presbiteral, em São José do Rio Pardo, foi realizada no dia 7 de dezembro de 1974. Nessa época passava em seu coração, como todo sacerdote, o desejo de servir ao seu povo. E agora como cardeal, o que passa em seu coração?
Dom Orani – Nunca pensei em deixar o mosteiro, nem minha cidade, onde eu fui ordenado e estava atuando. Lá servi primeiro como vice prior, depois como vigário paroquial, mais tarde como superior da casa, abade e como pároco. Sempre imaginei que terminaria minha vida por ali, e muito feliz de poder viver a vida de padre e religioso, que eu achava um belo equilíbrio. Quando a Igreja me chamou para ser bispo de Rio Preto, eu também achei que fosse terminar ali, em Rio Preto. Depois, fui pra Belém, no Pará. Foi uma bela experiência cultural. E também achei que fosse terminar por lá. Agora, no Rio de Janeiro, sou criado cardeal. Creio que aquilo tudo que vamos recebendo na gratuidade e sem esperar é sempre um dom, uma graça. Assim como Deus me conduziu por seus caminhos até hoje, vai continuar me conduzindo, porque não deve depender de mim e de minha capacidade, mas sim dessa graça de Deus.
TF – A seu ver, quais os maiores desafios da Igreja no mundo de hoje?
Dom Orani – Creio que o Papa tem colocado isso com muita clareza. Ele mostrou que a Igreja deve ser mais proativa e não tanto reativa, de adiantar as questões e ser um sinal para a sociedade. Como ele fez em muitas situações: em relação à Síria, à Lampedusa, à fome no mundo. Assumir uma postura de conduzir, de chamar a atenção da humanidade. Depois, é claro, a questão da Igreja enquanto instituição, que abrange a reorganização que o Papa está fazendo. A Igreja tem muita coisa positiva e bonita, mas existem coisas a serem melhoradas. Nas comunicações, por exemplo: o Vaticano tem muitos tipos de veículos e de agências, mas não tem uma articulação. Articular a comunicação é uma oportunidade para a Igreja ser ainda mais uma presença organizada na sociedade, de dizer aquilo que pensa, e que é a verdade, para que ela possa ser transmitida. Outra questão está ligada à formação do leigo e do padre. Isso já foi detectado desde outros pontífices. E o Papa Francisco também está salientando esse aspecto, chamando a atenção para o aprofundamento da própria fé e do conhecimento geral.
TF – O senhor tem sido definido como um homem conciliador. E o seu lema episcopal é “Para que todos sejam um”. O senhor se considera um conciliador?
Dom Orani – Eu sempre tive essa convicção: de querer ser conciliador. E esse lema está comigo desde minha ordenação sacerdotal. Somente na época em que fui abade eu mudei o meu lema para “É melhor servir”. Depois, quando fui sagrado bispo, retornei com ele. Estou convicto que na Igreja temos muitos dons e muitos carismas, e que é necessário que se articule todos como valor muito importante. Porém, creio que também na sociedade, no mundo de hoje, se pode trabalhar em conjunto muitas questões que existem, otimizando meios e maneiras de viver a fraternidade e a solidariedade. E isso é um desafio. Muitas coisas se perdem na Igreja e na sociedade devido a brigas e divisões, enquanto poderíamos trabalhar unidos.
TF – Seu episcopado foi marcado por uma ação pastoral direta, em diálogo constante com o povo e a sociedade. Logo após eleito, o papa disse que os pastores devem ter o cheiro das ovelhas. Viu nessas palavras uma confirmação do seu ministério episcopal?
Dom Orani – Eu creio que o papa, sendo da América Latina e vivendo um pouco da realidade dessa região do mundo, expressou aquilo que de certa forma é o jeito de ser da Igreja latino-americana. Claro que há diversas nuances, lugares em que se vive mais de um jeito que de outro. Mas desde o começo da minha formação filosófica e teológica e mesmo antes como religioso, sempre vi desse forma: o pastor e o padre junto a seu povo. E vemos que isso acontece muito em diversos lugares, como aqui no Rio de Janeiro. Temos muitos padres que vivem seu sacerdócio trabalhando pelo povo. Sem dúvida, o papa Francisco confirma um jeito latino-americano de ser e de se preocupar de estar junto com o povo.
TF – Durante a JMJ, Deus permitiu que o senhor tivesse um contato mais próximo com o papa Francisco. Quais são os ensinamentos deixados pelo pontífice que o senhor pretende colocar em prática agora como cardeal do Rio?
Dom Orani – Uma questão bem particular do papa é a piedade e a vida de oração. Todas as vezes que o Santo Padre passava pela imagem de São Joaquim, na residência episcopal, colocava as mãos e fazia uma oração. Da mesma maneira, quando passávamos pela imagem do Cristo Redentor, mesmo sem poder colocar a mão, Papa Francisco parava, olhava, fazia o sinal da cruz e rezava. Ele é uma pessoa com uma piedade popular em seu coração. Outro ponto é a simplicidade. Aquilo que ele é para o povo, é durante as refeições e encontros. Sempre simples, sem grandes sofisticações.
TF – O papa Francisco enviou uma carta pessoal a cada um dos que foram nomeados cardeais. Em certa parte da carta ele afirma que “cardinalato não significa uma promoção; é simplesmente um serviço que exige que se amplie o olhar e se alargue o coração”. Como o senhor planeja atender esse pedido do papa Francisco?
Dom Orani – O papa é livre para nomear os cardeais, e não é obrigado a nomear cardeais de sede cardinalícia, nem tão pouco alguém que tenha feito um grande evento. O pontífice escolhe quem ele acredita que o Espírito o inspira para a Igreja. Estou muito agradecido pela confiança, e sem dúvida ele coloca bem claro na carta que enviou aos novos cardeais que não é uma honraria, mas sim um serviço. Na noite de domingo, quando terminei a peregrinação, estava lembrando do último ato da Trezena diante do Cristo Redentor. De lá, nós temos dois tipos de olhar: um é o olhar nosso a Jesus; você não olha só o Cristo, mas a cidade inteira. E o segundo, é o olhar como o Cristo do alto do monte para toda a cidade, para as pessoas. Daí eu pedi para o Senhor que eu nunca deixasse de olhar para Cristo na minha vida, e que Ele me ajudasse a olhar o mundo com seus olhos. O fato de ser cardeal não vai mudar o jeito de ser da pessoa. Mas é preciso saber que é um trabalho a mais, um cargo de servir a Igreja.
TF – Seu primeiro almoço como cardeal foi na companhia de pessoas que o acompanhavam. Tendo o alimento sido preparado numa paróquia e servido em descartáveis. Isso mostra uma característica muito semelhante entre o senhor e o Santo Padre: a simplicidade. Como viver essa simplicidade mesmo sendo abordado a todo instante pela imprensa e tendo sua imagem ligada a publicações em todo o mundo?
Dom Orani – Não tenho planos para mudanças. Daquilo que tenho como atividades no cotidiano, não existe nada que eu queria mudar. Quero continuar vivendo e acolhendo as pessoas, fazendo visitas e vivendo justamente a simplicidade no dia a dia. Mais que ter uma coisa a ser feita, o importante é viver essa atitude. É ser mais do que fazer.
TF – O que o senhor gostaria de dizer aos fiéis do Rio de Janeiro e também do Brasil?
Dom Orani – A nomeação de um cardeal para o Rio de Janeiro é a nomeação de todo o povo carioca ao cardinalato. Na minha pessoa, estão todos sendo nomeados. Agora, já que tinham tanto o desejo de um cardeal para a Arquidiocese do Rio, o povo tem a obrigação de rezar pelo cardeal eleito (risos).
SIR/Arquidiocese do Rio



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