Hora de renovar o compromisso batismal

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Por Dom Orani João Tempesta*
O tempo do Natal se encerra com a Festa do Batismo do Senhor e, no dia seguinte, começa o Tempo Comum durante o ano. Para nós, no Rio de Janeiro, é tempo da trezena de São Sebastião, quando a cidade e a Arquidiocese preparam a grande festa do seu padroeiro. Caminhamos para os 450 anos de fundação da cidade e os 60 anos da celebração do, até agora, único Congresso Eucarístico Internacional realizado no Brasil. No ano passado vivemos com toda a Igreja o “Ano da Fé”, com os temas desenvolvendo o "discipulado", a "Igreja" e a "juventude". Neste ano, como já anunciado, iremos abrir, no dia 20 de janeiro, o "Ano da Caridade" que deve ser o "ano da defesa e da promoção da vida".

O papa Francisco nos recorda na Evangelii Gaudium que "o conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade" (177). Ele acrescenta: "confessar um Pai que ama infinitamente cada ser humano implica descobrir que ´assim lhe confere uma dignidade infinita´". (178)

Por isso, neste último domingo do tempo do Natal, quando celebramos com imensa alegria o mistério da Encarnação, o “Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós”, tornando-se assim próximo de nós, somos chamados a aprofundar o dom do Batismo. Se para Jesus foi o momento de sua manifestação como “Filho de Deus” e início de sua vida pública, para nós é tempo de redescoberta das consequências batismais em nossa vida pessoal e as consequências sociais.

No Antigo Testamento, por várias vezes o Céu se abriu para que o Senhor intervisse, com seus sinais, na vida do povo eleito com a finalidade de instruí-lo. Para nós, o batismo de Jesus no rio Jordão por João Batista foi mais uma vez a “abertura do Céu”. Ato voluntário de Jesus que, por ser de condição Divina, e por ser o Messias esperado, não necessitava ter se submetido ao batismo de João, que era destinado aos pecadores e aos que se preparavam para a chegada do Salvador (cf. Mt 3, 11-15). No entanto, em atitude de aniquilamento e para manifestar-se ao mundo, assim o faz. E quando o faz, o Céu se abre e sobre Ele vem o Santo Espírito em forma de Pomba, e a voz do Pai que O revela como seu próprio Filho.

Jesus não precisava ser batizado, mas ele se humilhou recebendo o batismo de João, um batismo de conversão para demonstrar que pela sua paixão, morte e ressurreição todos nós receberíamos a salvação.

Assim sendo, é importante neste final do Tempo do Natal e início do Tempo Comum, dentro da trezena de São Sebastião, aprofundar as consequências de nossa vida de batizados. Pelo batismo, somos mergulhados nas águas que comunicam o Espírito Santo. Por isso, na Festa do Batismo do Senhor revivemos a nossa consagração batismal, pela qual fomos incorporados a Cristo “para sermos interiormente transformados por Ele”, é o que pedimos na oração do dia da missa.

Em virtude do batismo, somos chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo. Ensina o Documento de Aparecida, em seu nº 209, que: “Os fiéis leigos são os cristãos que estão incorporados a Cristo pelo batismo, que formam o povo de Deus e participam das funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Realizam, segundo a sua condição, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo. São homens da Igreja no coração do mundo e homens do mundo no coração da Igreja.” “Enquanto batizado, o homem deve sentir-se enviado pela Igreja a todos os campos de atividade que constituem sua vocação e missão, para dar testemunho como discípulo e missionário de Jesus Cristo…” (nº 460 do DdAp).

Nós formamos a assembleia de batizados, proclamamos, pela Eucaristia, as maravilhas Daquele que nos chamou das trevas à sua luz, e aceitamos ser mergulhados com Cristo no mistério de sua entrega filial ao Pai. Acolhemos em piedosa oração, particularmente em nossa Arquidiocese participando da trezena de São Sebastião, o Espírito que nos é entregue e, na voz do Pai, recebemos a confirmação de sermos seus filhos amados, com a missão de ser luz para as nações e alegres anunciadores da boa-nova do Reino. Celebrando a Eucaristia, vivemos o núcleo da vida batismal, entrando em comunhão com Deus, com os irmãos, plenificando de sentido pascal à vida. Ouvindo Jesus, o Filho amado, prolongamos no mundo sua missão de serviço à justiça com coração manso e humilde, “fazendo o bem e curando a todos”, para que todos vivam de fato como filhos amados de Deus.

Os que recebem o sacramento do Batismo tornam-se partícipes da morte e ressurreição de Cristo, iniciam com Ele a aventura jubilosa e exaltante do discípulo. A liturgia apresenta-a como uma experiência de luz.

Por ocasião do batizado é entregue a cada um uma vela acesa no círio pascal. Neste significativo gesto litúrgico, a Igreja afirma: "Recebei a luz de Cristo!" Sob esta luz deverão caminhar por toda a vida os batizados que, seguindo o exemplo de seus pais, padrinhos e madrinhas, serão sempre iluminados pelo Cristo, luz que se manifestou ao mundo, como celebramos na Epifania comemorada domingo passado.

Por isso, é sempre oportuno lembrar aos pais e padrinhos que estes, primeiramente, deverão comprometer-se a alimentar com as palavras e com o testemunho da sua vida as chamas da fé dos que trilham o catecumenato e recebem o batismo, para que possa resplandecer neste mundo a levar a luz do Evangelho, que é vida e esperança.  Esta é a fé da Igreja. E nós alegramo-nos por professá-la em nosso Senhor Jesus Cristo.

O papa Francisco, em sua recente Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, já a partir dos sacramentos, cujas portas, disse, não "se deveriam fechar por uma razão qualquer". O princípio se aplica em especial ao Batismo, mas também à Eucaristia, que "não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos".

Sendo assim, quero convidar os meus arquidiocesanos, a redescobrirem, cultivarem e testemunharem o dom da fé no Ressuscitado, vivendo a beleza e a alegria de sermos cristãos, aderindo a Cristo, princípio e fim da vida humana.
CNBB, 08-01-2013.
*Dom Orani João Tempesta é arcebispo do Rio de Janeiro (RJ).

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