Que maravilha ouvir da boca de um papa que ele sofre, que em sua vida, como na de qualquer homem da rua, há de tudo, coisa boa, ruim e regular!",
Por Pedro Miguel Lamet*
A sacralização dos homens da Igreja sempre foi mais prejudicial do que benéfica. Recordo que quando eu era criança, jogando futebol no pátio do colégio, a batina de um dos irmãos de La Salle, que participava do jogo, levantou-se e suas calças foram vistas. Um garoto gritou: “Ah vá, veja, existe um homem por baixo!”.
Aquela frase me fez refletir, porque quase acreditávamos que por baixo os padres eram sólidos como as imagens do presépio. Com a proliferação de notícias sobre fragilidades de homens e mulheres da Igreja, não acredito que essa sacralização, hoje, tenha muito êxito. Embora existam coletivos que parecem querer ressuscitá-la com um absurdo retorno ao padre distanciado, protegido por seu papel, com o ouro dos ornamentos e sua batina, mais próximo a um guru da tribo do que a um irmão, um membro da comunidade que os reúne diante do Senhor.
Certamente, não é essa a atitude do papa Francisco. Desde o primeiro momento, esforçou-se em falar a linguagem da rua, evitar excesso de vestimentas e proteções de todo tipo, demonstrando-se um homem normal, que sorri, cansa-se e se emociona.
Por exemplo, o papa Francisco acaba de afirmar ter “sofrimentos” como um “homem qualquer”, com uma vida com “coisas boas como ruins”.
Disse isso durante um encontro privado, mantido nesse fim de semana, em Roma, com cem refugiados na Paróquia salesiana do Sagrado Coração de Jesus. Uma afirmação que despontou nos meios de comunicação italianos.
“Cada um de nós tem a sua própria história. Quando eu penso na minha, vejo muitas coisas boas e muitas coisas ruins”, comentou no domingo, Dia Internacional do Migrante. Na igreja, o papa Bergoglio confessou para cinco pessoas, entre elas um refugiado e um mendigo que estavam entre os mais de cem com os quais manteve um encontro privado, em uma sala de oração junto à basílica.
Francisco incentivou essas pessoas a “compartilhar as coisas boas” quando se encontrarem “em família” e a contar, além disso, como estão superando as coisas ruins. “Compartilhem também a fé que receberam de seus pais, que sempre os ajudará a seguir adiante. Aqueles que são cristãos, com a Bíblia, e os que são muçulmanos, com o Alcorão”, disse. Francisco finalizou a visita aos refugiados agradecendo-lhes a acolhida, após afirmar que entre eles se sentiu “como em casa”. “Posso fazer visitas educadas e de protocolo, mas não há esse calor”, disse aos refugiados.
Que maravilha ouvir da boca de um papa que ele sofre, que em sua vida, como na de qualquer homem da rua, há de tudo, coisa boa, ruim e regular!
Suponho que aqueles que querem enganar a si mesmos, fixando-se na mistificação, pensem que isso desvaloriza a figura do papa, como se o externo fosse mais importante que a atitude interior. Inclusive, para alguns o aparecer como ser humano resulta em algo “fajuto”, que tira a magnificência e a dignidade do pontífice de Roma, como se a parafernália estivesse mais perto do evangelho do que a humildade. No fundo, continuarão preferindo o papa-rei em detrimento daquele que se parece com Jesus de Nazaré, que pisa a poeira da estrada e que se identifica com os pobres e pequenos das bem-aventuranças.
A sacralização dos homens da Igreja sempre foi mais prejudicial do que benéfica. Recordo que quando eu era criança, jogando futebol no pátio do colégio, a batina de um dos irmãos de La Salle, que participava do jogo, levantou-se e suas calças foram vistas. Um garoto gritou: “Ah vá, veja, existe um homem por baixo!”.
Aquela frase me fez refletir, porque quase acreditávamos que por baixo os padres eram sólidos como as imagens do presépio. Com a proliferação de notícias sobre fragilidades de homens e mulheres da Igreja, não acredito que essa sacralização, hoje, tenha muito êxito. Embora existam coletivos que parecem querer ressuscitá-la com um absurdo retorno ao padre distanciado, protegido por seu papel, com o ouro dos ornamentos e sua batina, mais próximo a um guru da tribo do que a um irmão, um membro da comunidade que os reúne diante do Senhor.
Certamente, não é essa a atitude do papa Francisco. Desde o primeiro momento, esforçou-se em falar a linguagem da rua, evitar excesso de vestimentas e proteções de todo tipo, demonstrando-se um homem normal, que sorri, cansa-se e se emociona.
Por exemplo, o papa Francisco acaba de afirmar ter “sofrimentos” como um “homem qualquer”, com uma vida com “coisas boas como ruins”.
Disse isso durante um encontro privado, mantido nesse fim de semana, em Roma, com cem refugiados na Paróquia salesiana do Sagrado Coração de Jesus. Uma afirmação que despontou nos meios de comunicação italianos.
“Cada um de nós tem a sua própria história. Quando eu penso na minha, vejo muitas coisas boas e muitas coisas ruins”, comentou no domingo, Dia Internacional do Migrante. Na igreja, o papa Bergoglio confessou para cinco pessoas, entre elas um refugiado e um mendigo que estavam entre os mais de cem com os quais manteve um encontro privado, em uma sala de oração junto à basílica.
Francisco incentivou essas pessoas a “compartilhar as coisas boas” quando se encontrarem “em família” e a contar, além disso, como estão superando as coisas ruins. “Compartilhem também a fé que receberam de seus pais, que sempre os ajudará a seguir adiante. Aqueles que são cristãos, com a Bíblia, e os que são muçulmanos, com o Alcorão”, disse. Francisco finalizou a visita aos refugiados agradecendo-lhes a acolhida, após afirmar que entre eles se sentiu “como em casa”. “Posso fazer visitas educadas e de protocolo, mas não há esse calor”, disse aos refugiados.
Que maravilha ouvir da boca de um papa que ele sofre, que em sua vida, como na de qualquer homem da rua, há de tudo, coisa boa, ruim e regular!
Suponho que aqueles que querem enganar a si mesmos, fixando-se na mistificação, pensem que isso desvaloriza a figura do papa, como se o externo fosse mais importante que a atitude interior. Inclusive, para alguns o aparecer como ser humano resulta em algo “fajuto”, que tira a magnificência e a dignidade do pontífice de Roma, como se a parafernália estivesse mais perto do evangelho do que a humildade. No fundo, continuarão preferindo o papa-rei em detrimento daquele que se parece com Jesus de Nazaré, que pisa a poeira da estrada e que se identifica com os pobres e pequenos das bem-aventuranças.
El alegre cansancio, 21-01-2014.
*Pedro Miguel Lamet é jornalista.
24/01/2014 | domtotal.com


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