O mundo e Deus

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Por Lev Chaim, de Amsterdã*

Alguns se encantam com um lugar, uma pessoa; outros com um livro, um passeio e eu, nesta semana, encantei-me com um artigo da revista trimestral Morashá, editada pelo Instituto Morashá de Cultura: A "Unicidade de D’us". Como entender o criador, um ser infinito, com a nossa mente finita, perecível? Embora sem qualquer pretensão maior, o artigo esclareceu muitas coisas que ainda estavam nebulosas em minha cabeça.

Em primeiro lugar, temos que entender uma passagem da bíblia, Deuteronômio, 4:39: "E saberás hoje e considerarás no teu coração, que o Eterno, Ele é D’us, em cima, nos céus, e embaixo, na Terra; não há nada além D’Ele". Com isto, vamos em frente. Alguns acreditam que Deus criou o mundo e se afastou dele. Outros acham que Ele apenas intervém em algumas ocasiões, como durante a realização de um milagre, por exemplo.

O artigo deixou claro que essas duas visões do mundo estão erradas – de que existe um mundo e de que há um Deus e ambos interagem ou não interagem. O artigo fala também: "O mundo não é uma realidade absoluta; somente D’us o é. Como os pensamentos residem na mente de uma pessoa, o mundo reside em D’us. E é por isso que Ele conhece tudo o que transpira no universo – não porque ele invade nossa mente e nosso domínio individual, mas porque residimos dentro dele". Resumindo: "O nosso universo é o conjunto dos pensamentos de Deus". Reflita sobre esta frase.

A Cabala, conjunto de leis e ensinamentos que reúnem a alma do judaísmo, revelou que o mundo foi criado não apenas pela fala Divina, mas também pelo Tzimtzum – a Divina Constrição ou o Divino Ocultamento. "D’us ocultou Sua Luz infinita para que o mundo não parecesse estar sendo anulado dentro d’Ele. Nós, portanto, vemos o mundo, mas não vemos D’us". Muitas vezes, a luz solar é ocultada pelas nuvens da chuva. Mesmo assim, sabemos que o sol está lá, soberano.

Por isto mesmo é que a Cabala diz que o mundo somente pode existir quando D’us Se esconde. "Se a Luz Infinita fosse revelada, instantaneamente Ela consumiria e anularia tudo o que existe", ponderou TevDjmal, autor do artigo da Morashá. Com isto, podemos entender que o mundo é um produto da Revelação Divina e do Ocultamento Divino, com um denominador comum – o Eterno, não deixando espaço para mais nada.

Até mesmo Moisés, o mais humilde de todos os profetas, quando teve o seu encontro com Deu e não o pode ver, entendeu que estava na presença do Eterno, no episódio bíblico que ficou conhecido como o fenômeno da sarça ardente que não se consumia. Ali, D’us falou com ele: "Não chegues para cá! Tira teus sapatos de teus pés porque o solo em que estás é terra sagrada. Eu sou o D’us de teu pai, D’us de Abrahão, D’us de Isaac, D’us de Jacob".

Segundo ainda este belíssimo artigo, D’us percebe tudo, em todos os níveis, seja ele o desejo não expresso de uma criança ou o canto de um anjo. Ele está sempre infinitamente próximo, ainda que não O possamos ver. Com isto, pergunta-se: qual então o objetivo da nossa existência? De acordo com muitos teólogos, é o de passar de uma existência escura para uma existência clara, quando chegar o dia em que D’us fará de nós a sua morada, revelando livremente a Sua Luz Infinita.  Nas palavras da Bílbia, Isaías, 25:9, pode-se decifrar esse objetivo comum da humanidade: “Este é o nosso D’us; esperamos por Ele e Ele nos salvou. Este é o Eterno por Quem ansiamos, exultemos e rejubilemos em Sua salvação”.

Para você que esteja lendo este artigo, caso o assunto tenha ficado um pouco incompreensível, não se assuste. Leia-o outra vez, discuta-o com outras pessoas, que a coisa ficará mais clara. Reconheço que tive que ler o artigo da Morashá várias vezes, para poder começar a entender a grandeza daquelas palavras, lá escritas.

Peça à Deus por iluminação, peça ao anjo Gabriel, que sempre circula na presença de Deus, para que torne tudo isso mais claro em sua cabeça. Mas, nunca se esqueça: essa é uma tarefa difícil, até mesmo para os mais sábios entre os sábios. Mesmo que você diga não crer em Deus, pense no assunto, pois vale a pena.

Obs: a grafia do nome de Deus, às vezes, pode ser D’us, justamente porque o homem não quer pronunciar integralmente este nome tão sagrado. Sendo assim, escreve-se pela metade...
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da Fala Brasil e trabalhou 20 anos para a RádioInternacional da Holanda, país onde mora. Escreve às terças-feiras no Dom Total.
18/02/2014  |  domtotal.com

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