'O templo que Jesus Cristo entra é a própria Humanidade'

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Frederico Westphalen, RS - Dom Antônio Carlos Rossi Keller, bispo da diocese de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul, escreveu um artigo em que ele aborda a festa da apresentação do Senhor, celebrada neste domingo. Ele inicia o texto afirmando que a 1ª leitura da liturgia do próximo domingo, tirada do livro do Profeta Malaquias, procura retratar o amor incondicional de Deus ao seu Povo, a sua paciente e misericordiosa fidelidade à Aliança, mas mostra também a não correspondência a este maravilhoso Deus de amor.

De acordo com o prelado, Deus queixa-se de tanta ingratidão, do desprezo a que é votado; de como perverteram os seus ensinamentos; do afastamento e infidelidade à Aliança; de uma religião pesada e ritualista, sem consequência na vida pessoal e comunitária. Para dom Antônio, este quadro conduz o Povo à dissolução moral, ao não cumprimento da justiça e do amor; ao abandono e exploração dos pobres e dos pequeninos; ao culto reduzido ao puro ritualismo, vazio, incoerente e inconsequente. "Mas o amor deste Deus que é graça e misericórdia clama: purificai-vos; voltai para mim, vereis a justiça, vereis a luz: os meus olhos viram a vossa Salvação. Toda a Palavra de Deus é a constatação do Deus que é Dom e Misericórdia. Deus irrompe no meio do seu povo de forma surpreendente e maravilhosa. A entrada no Templo como expressão do Encontro, da Festa, da Comunhão é afirmada por meio de sinais grandiosos", completa.

O bispo ainda salienta que, no Evangelho, São Lucas apresenta o cumprimento das promessas: Jesus Cristo, Filho de Deus e de Maria, é o Messias esperado, o rosto amoroso de Deus, o Salvador para todas as nações e povos. Segundo ele, Simeão e Ana são o símbolo do Povo de Israel que permanece fiel à Aliança; são o símbolo de uma oração bíblica e encarnada na vida, de oração sincera e autêntica; são o símbolo dos que viveram segundo o Espírito de Deus e agora são testemunhas da maravilhosa surpresa de Deus no meio do seu Povo. "Simeão apresenta Jesus não já como pertença ao Povo de Israel, mas a todas os povos e nações. E Maria, nas palavras de Simeão, é fortemente relacionada com a Missão do Messias: ´uma espada trespassará a tua alma´. O papel maravilhoso de compromisso, de testemunha e de discípulo dá-se em Maria. Opera-se como consequência da Encarnação e da Maternidade, mas também no anunciado martírio de maternidade universal."

Conforme dom Antônio, é por isso que Maria é o símbolo mais transparente e genuíno da Igreja, do Povo de Deus, e no pensamento do Concílio a Igreja está chamada a ser o que Maria foi na sua Pessoa (Lumen Gentium 63 e 64). O bispo ressalta que são os pobres que vivendo na segurança e no amor de Deus se comprometem verdadeiramente com Ele. "Maria e José oferecem, segundo o prescrito na Lei, a oferta dos pobres: um par de rolas ou duas pombinhas. Neles o culto é a vida e é o amor. Por isso aquela oblação foi única: a oferta do Verdadeiro Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, e suas próprias vidas, totalmente comprometidas com este projeto", acrescenta. "Tornou-se semelhante em tudo aos seus irmãos", diz a passagem bíblica, citada pelo prelado. Ela também destaca que a linguagem do amor e entrega de Deus torna-se perfeita comunicação ao fazer-se igual a nós. Para o bispo, o templo que Jesus Cristo penetra é a própria Humanidade, e sendo este momento celebração da glória de Deus é por essa razão momento de celebração da glória humana.

"A glória do verdadeiro homem é Jesus Cristo. Em Cristo se ilumina todo o sentido e fundamento do Homem. Cristo veio cuidar-nos, ajudar-nos, socorrer-nos, servir-nos. Nele por Ele e com Ele compreendemos a grandeza da nossa vida, a glória a que estamos chamados e a experimentar a força do seu mistério pascal na vitória sobre o pecado e a morte." Outra questão abordada pelo bispo é que somos convidados a uma vida sintonizada com a beleza de toda a história de Salvação e a assumi-la: pela conversão total a Deus, sem medo e com responsabilidade; pela vivência da religião e do culto como uma relação amorosa com incidência na vida, nos compromissos e opções; pela ação do Espírito Santo que permite "ver" a salvação e partilhá-la com alegria e como anúncio da Palavra e da Vida e pelo testemunho pessoal de uma vida coerente e santa.

Por fim, dom Antônio afirma que na festa de domingo, há uma especial interpelação à família. Ele avalia que as famílias sentem-se muitas vezes tentadas e seduzidas a uma educação que leve ao êxito, à busca de primeiros lugares, à competição egoísta, ao desejo de poder, de riqueza, de beleza, de ser estrela. "É forçoso e necessário educar para a Fé, para a relação pessoal e sincera com Deus, para a bondade, a humildade, o espírito de serviço, o reconhecimento da dignidade de cada pessoa. É necessário educar para o amor numa sadia relação de gerações e na escuta e testemunho dos mais velhos, dos idosos", enfatiza. Para o prelado, os pais são os primeiros e fundamentais educadores da fé, e por isso os filhos necessitam de ver e palpar neles uma autêntica relação com Deus. O bispo conclui explicando que a presença de Deus nas suas vidas deve ser notório como acontecimento de alegria e não um peso, um "frete", uma religião de mero cumprimento ritualista sem incidência na vida.
SIR

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