Papa Francisco atualiza regras morais para os namorados

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Por Lucetta Scaraffia*
Rapidamente, chegaram a um número muito elevado – 30 mil – os casais de namorados que, de todo o mundo, pediram para participar da audiência especial concedida a eles no dia de São Valentim pelo papa Francisco. O Pontifício Conselho para a Família, que organizou esse encontro, declara-se estupefato com a elevada adesão encontrada imediatamente pela iniciativa. E não se pode negar que se trata de uma iniciativa corajosa.

Mesmo que seja dedicada a jovens que vão se casar dentro de um ano e que estão percorrendo um caminho preparatório ao matrimônio sacramental, eles certamente representam uma amostra muito variada e, provavelmente, não totalmente "em regra" com relação à moral católica, que prevê o sexo só depois do casamento e sempre e somente dentro do vínculo matrimonial. Hoje, ao invés, os cursos de preparação ao casamento – ao menos nos países ocidentais – são frequentados quase em 80% dos casos por casais que moram juntos, que muitas vezes já têm um ou mais filhos.

Fazem bem, portanto, os organizadores do encontro ao definirem os noivos como aqueles que querem construir um vínculo por toda a vida, sem investigar além. Porque está justamente na escolha "por toda a vida" o sentido profundo do matrimônio cristão. E hoje fazer uma escolha por toda a vida está em tendência contrária à uma cultura de liberdade, que pressupõe que, para o indivíduo, a felicidade consiste em poder escolher sempre o que quiser, sem limites nem restrições.

Portanto, não é uma escolha fácil, mesmo que corresponda a um desejo profundo do ser humano, encontrar uma pessoa que a acompanhe na vida, aceitando-a e amando-a. Mas sabemos que a escolha implica sacrifício e tenaz vontade de construir um vínculo duradouro, um verdadeiro trabalho que a ajuda de Deus torna menos pesado.

Depois de ter tomado a decisão crucial de dedicar à família os próximos dois sínodos, aceitando assim abordar aquela área de questões que veem o ensino da Igreja menos aceito até mesmo pelos próprios católicos, o papa Francisco, com esse encontro, demonstra mais uma vez que a sua vontade é a de enfrentar os problemas com coragem, sem negar a realidade, mas debatendo com as pessoas que os vivem na sua realidade cotidiana, e não com normas e regulamentos. E com a lucidez e a força de olhar sempre e só ao coração do problema, ou seja, ao modo em que as pessoas vivem a mensagem evangélica, mais do que abordar a questão a partir de um conjunto de normas consideradas por muitos como superadas e insustentáveis na sociedade contemporânea.

A linha que Bergoglio está propondo é muito clara e surpreende que não seja entendida nem pelos críticos tradicionalistas, que temem uma reviravolta laxista na moral – tipo abertura aos anticoncepcionais ou ao segundo casamento –, nem pelos progressistas, que não fazem nada senão apontar o dedo contra as normas a serem eliminadas para se adequar à modernidade.

As sínteses que cada país está produzindo das respostas ao questionário lançado em preparação ao Sínodo sobre questões polêmicas, como o casamento dos sacerdotes, sacerdócio feminino, homossexualidade, aborto e similares, estão despertando comentários esperançosos naquelas que há décadas só pedem à Igreja uma adequação ao mundo moderno: a prova evidente de que, sobre a moral familiar e sexual, os católicos se comportam de modo muito distante do que o catecismo ensina – realidade que há anos estava debaixo dos olhos de todos – parece ser considerada em si mesma uma necessária admissão da necessidade de eliminar essas normas empoeiradas.

Mas o papa Francisco está surpreendendo a todos, porque coloca os problemas no seu lugar, no coração da vida humana, isto é, na relação de cada indivíduo com Jesus. Ele sabe muito bem que, se esse laço for refeito, se voltar a ser vital e apaixonado o desejo de realizar o Evangelho, todo o resto encontrará uma solução adequada. Ele entende bem que a Igreja pode voltar a ser uma luz para todos se realizar os ensinamentos de Jesus, se conseguir transmiti-los com credibilidade e paixão, não se se adequar à mentalidade dominante.

É isto que os namorados pedem ao papa: uma injeção de entusiasmo e de fé, para ter a força de enfrentar as inevitáveis misérias da vida cotidiana, e não um novo prontuário de normas sobre a vida sexual. Não é questão de ser moderno, mas de ser verdadeiro.
Il Messagero, 14-02-2014.
*Lucetta Scaraffia é historiadora, membro do Comitê Italiano de Bioética e professora da Universidade La Sapienza de Roma.
17/02/2014  |  domtotal.com

0 comentários:

Postar um comentário

 
São Francisco da Penitência OFS Cabo Frio | by TNB ©2010