Missa de canonização reúne 800 mil no Vaticano

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Cidade do Vaticano - A multidão calculada em 800 mil peregrinos que assistiram neste domingo à missa de canonização dos papas João XXIII e João Paulo II prendeu a respiração por um instante e em seguida aplaudiu, entre sorrisos e lágrimas, as palavras que Francisco pronunciou em latim, ao anunciar a decisão de declarar santos os seus dois predecessores. A fórmula era ritual, mas a emoção foi muito grande diante do quadro que se tinha à frente, com a imagem de quatro papas - Francisco ao lado do papa emérito Bento XVI no altar e os dois novos santos projetados em painéis coloridos na sacada da Basílica de São Pedro.

Eram 10h15 (5h15 no horário de Brasília). Uma chuva fina que ameaçava a festa parou de repente e o sol apareceu no céu nublado. Teresina Mariani, da cidade de Seregno, província de Bérgamo, soluçou de alegria. Vizinha de Sotto il Monte, terra natal de João XXIII, ela comemorava mais a canonização de João Paulo II. "Tenho uma foto ao lado dele, de quando recebeu em audiência um grupo de Seregno", contava. A seu lado, Mariangela Asmaghi e seu marido Adélio, da cidade de Mera, na mesma região, rezavam a São João XXIII. "Tenho 57 anos e perdi a visão aos 26", disse ela, confiante na possibilidade de voltar a enxergar por intercessão do papa conterrâneo. "Ou dos dois, porque estou recorrendo também a João Paulo II", emendou.

O grupo de italianos estava perdido entre centenas de poloneses que agitavam bandeiras vermelho e branco, suas cores nacionais, e cartazes com declarações de amor ao papa Wojtyla. Num deles apareciam os dois papas santos, ao lado da imagem de Jesus. "Kamyk, Jezu Ufam Tobie", ou "Pedro, Jesus ama vocês," como traduziu uma mulher do nordeste da Polônia. Mais adiante, uma faixa de uns 10 metros presa a balões amarelo e branco (as cores da Santa Sé) ostentava em latim as palavras Deo Gratias, agradecendo a canonização de João Paulo II. Como ocorreu no dia da beatificação, em maio de 2011, os poloneses se destacavam entre os peregrinos que enchiam a Praça São Pedro, a Praça Pio XII e a Via della Concilliazione, até as margens do Rio Tibre.
Início
A cerimônia começou com o canto da Ladainha de Todos os Santos, às 9h45, no momento em que o papa emérito Bento XVI, de 87 aos, chegou ao altar. O povo aplaudiu. Bento XVI foi cumprimentado pelo presidente da Itália, Giorgio Napolitano, arrancando novos aplausos. Entre as quase 100 delegações oficiais presentes, a Televisão Vaticano destacou o rei Juan Carlos e a rainha Sofia, da Espanha, e o ex-presidente da Polônia, Lech Walessa. O Brasil não entrou na lista de delegações, mas dois brasileiros estavam entre as autoridades: o ministro conselheiro da Embaixada do Brasil na Santa Sé, Sílvio Meneses, e o diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Francisco Graziano da Silva.
A homilia do papa, em italiano, durou dez minutos. Francisco comentou o Evangelho do domingo, cantado pelos diáconos em latim e em grego, sobre o episódio em que Jesus mostra suas chagas aos discípulos, aos quais apareceu após a ressurreição. O papa aplicou o texto aos novos santos. "São João XXIII e São João Paulo II tiveram a coragem de olhar as chagas de Jesus", disse Francisco, acrescentando: "Foram sacerdotes, bispos e papas do século 20. Conheceram todas as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Deus era mais forte neles, mais forte era a fé em Jesus Cristo, redentor do homem e senhor da história, mais forte neles era a misericórdia de Deus, que se manifesta nessas cinco chagas, mais forte era a presença materna de Maria"
Delegações
Após a missa, Francisco quis cumprimentar todos os membros das delegações e, em seguida, percorreu a Praça de São Pedro no papamóvel, estendendo o giro à Via della Concilliazione. Os pontos de saída ficaram fechados durante uma hora, até o papa se retirar. Os peregrinos estavam cansados, pois já se encontravam na praça desde a madrugada. O acesso foi aberto às 4 horas, mas não era fácil chegar aos pontos eletrônicos de controle. As filas duraram uma hora e meia. Os policiais italianos pareciam nervosos e tratavam as pessoas com rispidez.

Na Praça de São Pedro, a segurança era mais atenciosa. Um agente que pediu para duas jornalistas francesas descerem de uma fonte desativada, perto do obelisco na área central, irritou-se com a recusa delas, mas só disse que ia se fazer respeitar. Cinco minutos depois, dois policiais chegaram e só com um aceno convenceram as mulheres a descer da fonte. Quem pretendia dormir na Praça São Pedro para garantir um bom lugar não conseguiu ficar, porque a segurança não deixou. Padre Clairisson Saraiva, de Belo Horizonte, acampou nas redondezas e foi dos primeiros a entrar. "Eu devo minha vocação a São João XXIII, pois ele foi um exemplo para mim, quando entrei para o seminário e fui ordenado aos 32 anos", disse.

Também um grupo da Comunidade Shalom, que trouxe 500 peregrinos a Roma, foi obrigado a sair da praça. Diego Macedo, de Fortaleza, e Edionê Cristina Santos, de Marajó, acamparam com outros colegas nas proximidades do Vaticano. Ninguém se queixava do desconforto.
SIR/O Estado de S. Paulo

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