'Tráfico de pessoas é crime contra a humanidade'

terça-feira, 15 de abril de 2014

Consolo. Acompanhamento e inclusão. Foi o que o Papa ofereceu para quatro vítimas do tráfico de pessoas. Reuniu-se com elas por um longo tempo, antes de ir à Casina Pio IV, sede da Pontifícia Academia para as Ciências Sociais do Vaticano, onde dirigiu uma mensagem sobre o tema. Com esse gesto, Francisco repetiu o que fez dezenas de vezes na Argentina, onde salvou a muitos atingidos pelas escravidões modernas.

A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez.

“O encontro foi privado, somente eles e ninguém mais. Ao sair elas estavam muito agradecidas pelo dom de recuperar suas vidas”, revelou o cardeal Vincent Nichols, arcebispo de Westminster e um dos organizadores da conferência internacional “Combatendo o tráfico humano: Igreja e forças da ordem em aliança”.

Antes de receber em audiência os participantes nesse simpósio, o pontífice cumprimentou as vítimas: uma procedente de um país da América Latina e as demais originárias de nações do leste europeu. A Santa Sé não quis dar mais detalhes sobre a reunião, para respeitar a privacidade das mulheres.

Em seus tempos como arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio reservou um tratamento especial para os que padeciam desse sofrimento. Em silêncio, longe do clamor midiático, ajudou prostitutas ameaçadas por seus exploradores. Um testemunho desses atos de generosidade é o de seu compatriota Gustavo Vera, atualmente deputado pela capital argentina e um dos líderes da organização “La Alameda”.

“Quando alguma vítima do tráfico estava muito desesperada e precisava de auxílio ou de ser escutada, nós lhe pedíamos uma audiência e ele era capaz de colocar a gente no centro de sua agenda, fazendo reuniões muito importantes com políticos ou funcionários para receber as vítimas e lhes dar todo o tempo que fosse necessário”, contou Vera em entrevista ao Vatican Insider.

“Chorou junto com elas, lutou e protegeu a muitas também. Com aquelas que denunciaram e que haviam sido ameaçadas de morte, tirava alguma foto, mesmo sendo muito ermitão, fazia isso para dirigir uma mensagem de proteção. Conseguiu lugares em casas de congregações religiosas para alojar vítimas porque não havia muita confiança em que o Estado dispusesse de lugares ou porque neles havia o perigo à sua integridade física”, acrescentou.

Na Argentina, o então cardeal de Buenos Aires apreciava o trabalho das freiras que trabalhavam para salvar as mulheres. Entre outras as Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, conhecidas como “adoradoras”. Fundada em 1856, na Espanha, as 1.100 consagradas dessa obra trabalham atualmente em 23 países do mundo, 10 deles na América Latina e o Caribe.

“Era muito sensível a esta realidade e conhecia pessoalmente as irmãs, teve gestos muito bonitos, que tem sido trabalhado ali. Às vezes, pessoas lhe ofereciam uma doação e ele a passava para elas e hoje quando o cumprimentei, disse-me ‘para continuar trabalhando’”, revelou Aurelia Agredano, vice-superiora geral das “adoradoras”.

Como Papa, Bergoglio manteve sua preocupação. Por isso, pediu para Academia das Ciências dedicar especial esforços no combate ao tráfico de pessoas. “O tráfico de seres humanos é uma praga, uma praga na carne de Cristo. É um crime contra a humanidade”, sustentou, nesta quinta-feira, em uma mensagem dirigida aos participantes da conferência.

Considerou, além disso, necessário o trabalho coordenado das forças de polícia em nível internacional com as instituições, em especial da Igreja, dedicadas à acolhida e ao resgate das vítimas. “O fato de nos encontrarmos aqui, para unir nossos esforços, significa que queremos que as estratégias e as competências sejam acompanhadas e reforçadas pela compaixão evangélica, pela proximidade dos homens e as mulheres que são vítimas deste crime”, acrescentou.
Vatican Insider

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