A missa, lugar de acolhida e misericórdia

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A assembléia eucarística, que celebra a misericórdia do Pai, deve saber acolher todos os seus filhos.
A assembléia eucarística é o lugar da misericórdia: ela deveria, por conseguinte, ser "um lugar onde todos se sintam em casa": migrantes, fiéis em situação matrimonial irregular, pessoas inábeis, doentes, pobres, anciãos, crianças. É a exortação, em extrema síntese, contida numa longa intervenção que o bispo Núncio Galantino, secretário geral da Conferência episcopal italiana (CEI), pronunciou quarta-feira em Orvieto, por ocasião da 65ª Semana Litúrgica Nacional, organizada pelo CAL (Centro de Ação Litúrgica).

O prelado evidenciou antes de tudo a necessidade de adotar a conduta sugerida pelo Papa Francisco, de um a Igreja “em saída”, que "toma a iniciativa" de ser "acolhedora" e “encurtar as distâncias”. Isto não está em contraste com a imagem da Igreja reunida em assembléia litúrgica.

"Segundo certo modo de ver a Igreja – disse o bispo Galantino – da parte de quem está de fora e talvez até da parte de alguns cristãos, goza de maior apreço a ação pelos pobres, como por exemplo, uma mesa da Caritas, e não a imagem de uma assembléia reunida para a celebração litúrgica. Este juízo, embora talvez justificada, é na verdade um juízo superficial; não capta, de fato, a realidade autêntica e profunda da comunidade eclesial, que vive, por sua natureza, deste duplo movimento: a acolhida do dom de Deus e sua transmissão vital”.

A constituição dogmática Lumen gentium, acrescenta o prelado, “delineando os traços da Igreja missionária, mostra que, quando celebra os sacramentos, a Igreja desenvolve a própria missão: neste sentido, a liturgia é ato missionário, embora não no modo da Igreja “em saída”.

Mas, a “cultura da misericórdia”, disse o bispo, “deve ser atuada na Igreja de modo evidente em casa gesto seu. Não só na ação social e caritativa, com a atenção voltada para os últimos, mas também na celebração litúrgica, em particular da Eucaristia. A assembléia litúrgica é epifania (manifestação divina) da Igreja misericordiosa e encarnação da misericórdia do Pai”. Nesta ótica, dom Galantino recomendou, passando ao âmbito litúrgico, que não se organizem celebrações litúrgicas “setoriais”, ou seja, pensadas “somente para algum grupo ou categoria”, mas como momento de “convocação e reunião de toda a comunidade”.

Nas “missas das crianças”, por exemplo, “não se trata de celebrar ‘de modo infantil’, nem de desnaturar os ritos litúrgicos com a ilusão de torná-los mais compreensíveis ou interessantes, mas de por em ato algumas atenções”, como “cantos adaptados, valorização das posições do corpo, oportunas e breves admoestações”. Também os grupos presentes nas comunidades são convidados “a não querer isolar-se no próprio caminho”.

Uma atenção particular da assembléia eucarística, recordou o bispo Galantino, é “a misericórdia perante os pobres”: “estão longe os tempos nos quais era evidente, nas igrejas, a diferença entre ricos e pobres – observou dom Galantino – por exemplo, com os lugares reservados para as pessoas mais idosas ou também com cadeiras e bancos de sua propriedade. Isto, graças a Deus, não acontece mais. Mas, basta isto para dizer que os pobres, nas nossas assembléias, são acolhidos? Os pobres são incômodos, sabemo-lo bem”.

O secretário geral da CEI colocou uma série de perguntas provocadoras sobre as quais os cristãos são chamados a interrogar-se: “Estamos seguros – questionou-se o prelado – que os pobres participem voluntariamente da missa dominical porque se sentem acolhidos?

Estamos seguros que em nossas assembléias não se façam realmente diferenças entre ricos e pobres? De que modo nos interroga a presença de pessoas que pedem esmola na porta da igreja? Talvez aqueles sejam cristãos, também católicos, e entram na Igreja para rezar ou para participar da missa: que acolhida lhes é reservada? “ Da mesma forma, prosseguiu, as celebrações devem dedicar particulares desvelos com “enfermos, sofredores, pessoas deficientes”, por exemplo, eliminando as barreiras arquitetônicas e reservando lugares que “se adaptem às condições físicas e psicológicas dos doentes, em particular para as dificuldades motoras e auditivas”.

A mesma conduta será expressa perante migrantes: “As comunidades do lugar têm o dever da acolhida, devem conceder-lhes hospitalidade, evitando fazer que se sintam hóspedes, porque na Igreja cada cristão está na própria casa”. No caso de cada fiel, de famílias ou grupos, “se deve prever uma acolhida e um conhecimento da parte do sacerdote ou de outras pessoas”.  Para as comunidades maiores “não se trata apenas de oferecer a hospitalidade num prédio de culto – sugeriu o bispo Galantino – mas é oportuno procurar também contatos entre as comunidades e, pelo menos alguma vez ao ano, promover e realizar celebrações comuns”.

Enfim, o secretário geral da CEI recordou a situação dos fiéis em situação matrimonial irregular, que “vivem sua condição com grande sofrimento” e “percebem a disciplina da Igreja como muito severa, não compreensiva, se não realmente punitiva”. Disse o bispo: “Com sinceridade deveremos, todavia, reconhecer que também os outros fiéis percebem a disciplina da Igreja como uma exclusão destes seus irmãos e irmãs, e, talvez, os observem com um olhar carregado de preconceito”, impondo-lhes ”uma ulterior fiança a pagar, uma discriminação de fato dos mesmos”. Serve, portanto, “acolhida, compreensão, acompanhamento, suporte,” e “percursos de vida eclesial”, embora estes fiéis “não possam receber a comunhão eucarística”.

“É toda a comunidade cristã”, concluiu dom Galantino, “que deve empenhar-se por estas atenções pastorais, a se manifestarem também no âmbito da assembléia litúrgica. Se alguns fiéis se sentem excluídos da vida da comunidade e por isso não participam da assembléia dominical, seguramente são os primeiros a sofrer por isso; mas, isso deveria ser motivo de sofrimento para toda a comunidade, por causa da ausência de alguns filhos seus, os quais evidentemente não souberam acolher com misericórdia.”

"A assembléia eucarística, que celebra a misericórdia do Pai, sabe acolher todos os seus filhos, sobretudo aqueles que se encontram em situações de sofrimento".
L'Osservatore Romano, 28-08-2014.

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