Destruição da floresta não para

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

                                       Árvore solitária-extensa área de desmatamento ilegal no estado do Pará
Desmatamentos de pequena e grande extensão, produção de soja e criação de gado em áreas embargadas.
O Brasil conseguiu reduzir as taxas de desmatamento nos últimos anos. Saiu de 25.000 Km2 para 5.000 Km2. Esta redução foi comemorada e divulgada para o mundo inteiro. O setor agropecuário nacional pegou carona nesse cenário repetindo um discurso de que, graças a ele, “moderno e ambientalmente sustentável”, essa queda foi possível. Grandes expoentes do setor chegaram a afirmar que não é mais necessário desmatar para ampliar a produção agrícola.

Infelizmente a realidade é outra. Neste mês de outubro, o Greenpeace realizou um sobrevoo de monitoramento no norte do estado do Mato Grosso e Leste de Rondônia, algumas das maiores fronteiras da agropecuária do País. A paisagem é de destruição.  Desmatamentos de pequena e grande extensão, produção de soja e criação de gado em áreas embargadas pela justiça, incêndios em áreas de florestas - inclusive dentro de terras indígenas - e extração ilegal de madeira estão entre os principais crimes e irregularidades flagradas.

“A falta de governança na Amazônia, aliada à certeza de impunidade trazida pela anistia dada pelo código florestal e ao alto preço das commodities, continua a impulsionar a expansão da fronteira agrícola sob a floresta”, afirma Rômulo Batista, da campanha da Amazônia do Greenpeace.

O “nortão” do Mato Grosso, como é chamada a região, faz parte do bioma Amazônico. Esta área faz parte do arco do desmatamento, uma espécie de cinturão que vai do norte do Maranhão ao sul de Rondônia, que exerce pressão sobre o bioma devido ao avanço da fronteira. Atualmente essa região monitorada do Mato Grosso, que fica no triângulo entre os municípios de Brasnorte, Alta Floresta e Gaúcha do Norte, já não lembra em quase nada uma verdadeira floresta, devido a intensa atividade agropecuária. O que resta de floresta está sob séria ameaça.

Queimadas

Entre janeiro e outubro deste ano o número de focos de queimadas cresceu 62% no Mato Grosso, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O resultado coloca o estado no topo da lista de “territórios em chamas” entre as demais unidades da federação.

Durante o sobrevoo, foram  identificadas queimadas realizadas em áreas recém desmatadas, mas também em perímetros de florestas nativas e até dentro de uma das mais antigas áreas protegidas do Brasil, o Parque Indígena do Xingu. “Todas essas queimadas dificultam muito o nosso trabalho, toda a região sobrevoada estava mergulhada em uma cortina de fumaça, tornando muito difícil a identificação das áreas.”, conta Rômulo Batista.

Agricultores sofrem

Outubro é o mês em que tradicionalmente se inicia o plantio das safras na região. Durante o sobrevoo o Greenpeace identificou áreas desmatadas depois de 2006 sendo preparadas para a semeadura, em desacordo com a moratória da soja. Mas apesar de a preparação do terreno para o plantio estar em estado avançado, poucos produtores já semearam de fato, devido a forte estiagem que atinge diversas regiões do Brasil. Jornais da região estimam que a perda de sementes de agricultores que já plantaram chegue a 60% este ano.

“Os próprios agricultores e pecuaristas estão pagando caro pela falta de planejamento e desrespeito às florestas. A seca prolongada que afeta o sudeste também é sentida no centro-oeste, região de maior produção agrícola do País. Essa relação entre o desmatamento e a falta de chuva, que ameaça o completo desabastecimento de grandes cidades como São Paulo, foi recentemente reconhecida até pela diretor da Sociedade Nacional da Agricultura”, observa Rômulo.

A região no norte do Mato Grosso também concentra grande parte da produção pecuária. Mas o que mais se avista são áreas imensas de pasto degradado com baixíssima concentração de bois. Durante o monitoramento, foram identificados pecuaristas em plena atividade em áreas embargadas pelo Ibama por crimes ambientais Os animais ocupavam grandes áreas recém-desmatadas. Outro problema constatado durante o sobrevoo foi a criação bovina dentro de Terras Indígenas.

Madeira derrubada 

Além de registrar a dinâmica de avanço do desmatamento na região, principalmente pela agropecuária, o sobrevoo também flagrou focos de extração de madeira a pleno vapor nos remanescentes florestais daquela parte do Mato Grosso. “O que mais nos surpreendeu foi o ritmo intenso de exploração nas poucas florestas que ainda restam na região. Chegamos a avistar grandes pátios de madeira ativos, um deles com cerca de 5 grandes caminhões de carrocerias duplas sendo carregados com madeira nativa”, afirmou Rômulo Batista.

Apesar da queda significativa do desmatamento nos últimos anos (com exceção de 2013, que registrou nova subida no índice), o Brasil continua sendo o segundo país que mais destrói suas florestas, perdendo assim sua rica e única biodiversidade. O retrato da destruição que avistamos durante esse monitoramento não condiz em nada com a imagem de país desenvolvido e protagonista do combate às mudanças climáticas repercutida internacionalmente.

A presidente Dilma Rousseff foi recentemente reeleita para continuar governando o Brasil. Em sua campanha para o segundo turno, Dilma assumiu um compromisso com a mudança, “Governo Novo, Ideias Novas”, dizia o slogan. Pois é isso que esperamos, que nos próximos quatro anos o governo mude a madeira de olhar e de tratar a Amazônia e seu povo. Nós do Greenpeace continuaremos cumprindo a nossa missão de investigar, expor e combater pacificamente qualquer crime e dano ambiental que ameace a Amazônia.
Greenpeace

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