Os papas verdes - A preocupação com o meio ambiente faz parte da doutrina social da Igreja.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Por Dwight Longenecker*

Muita gente anda dizendo que o papa Francisco é o primeiro "papa verde" da Igreja católica. É que circulam notícias sobre a próxima encíclica a ser lançada por ele, cujo tema seria o meio ambiente, além de comentários sobre as medidas que o papa defenderia para combater as mudanças climáticas no planeta.

O fato de ele ter escolhido o nome Francisco (daquele São Francisco que pregava aos pássaros, domava lobos, amava a natureza e é o padroeiro das causas ambientais) ajuda para que o papa seja tido em alta estima pelos “ativistas verdes”.

Mas que o papa Francisco esteja dedicando especial atenção ao meio ambiente não é coisa inédita no papado. Em 1990, João Paulo II chamou a atenção durante um discurso na Jornada Mundial da Paz ao instar os católicos a considerarem o mundo natural como uma criação de Deus cuja proteção é de nossa responsabilidade.

Bento XVI estava tão envolvido em questões ambientais que também ele foi chamado de "papa verde". Na Jornada Mundial da Paz de 2010, ele declarou: "Se queremos justiça e paz, temos que proteger o habitat que nos sustenta". Em seguida, citando um relatório da Academia Pontifícia de Ciências, ele recomendou que os líderes mundiais cortassem as emissões de dióxido de carbono, reduzissem a poluição existente e se preparassem para os impactos inevitáveis das mudanças no clima.

O mesmo Bento XVI também fez o que pôde no Vaticano: aprovou um projeto para cobrir a Sala Paulo VI com painéis solares, a fim de gerar energia suficiente para iluminar, aquecer e climatizar uma boa parte da cidade do Vaticano; adquiriu créditos de carbono através do financiamento de uma floresta na Hungria, o que faria da cidade-Estado católica o único país de todo o mundo a neutralizar totalmente as emissões de carbono; vários anos mais tarde, ele apresentou um novo papamóvel híbrido que seria parcialmente elétrico.

A National Geographic reproduziu os elogios feitos aos esforços de Bento XVI por Walter Grazer, conselheiro da Parceria Religiosa Nacional para o Meio Ambiente e ex-porta-voz da Conferência Episcopal dos Estados Unidos (USCCB): "Eu acho que é notável a grande atenção que ele deu ao meio ambiente. Para ele, este era um grande tema".

Se algum papa recente foi pioneiro na defesa católica da responsável gestão do meio ambiente, esse papa foi Bento XVI. Ele entendia que as questões ambientais não são uma simples ideologia que está na moda, mas sim uma questão seriamente relacionada com o bem-estar humano. A preocupação com o meio ambiente caminha de mãos dadas com a atenção aos pobres. Glazer disse a respeito de Bento XVI: "Ele tem uma grande preocupação com o que aconteceria às pessoas mais pobres em decorrência da destruição do meio ambiente".

Com Francisco, vemos mais uma vez a preocupação, a metodologia e a filosofia profunda e unificada com que a Igreja aborda a questão ambiental. Enquanto a imprensa laica gostaria de pintar o papa Francisco como um amigo dos abraçadores de árvores, os conservadores tendem a sentir contra ele uma reação instintiva de desconfiança. Enquanto os progressistas se entusiasmam, os conservadores lamentam o "papa hippie". Nenhum dos dois lados compreendeu de verdade a questão. A preocupação católica com uma gestão melhor dos recursos do mundo faz parte da doutrina social da Igreja. E as preocupações dos papas Bento e Francisco devem ser entendidas no contexto histórico integral da doutrina social católica.

Em um artigo abrangente, J.J. Ziegler descreve a profundidade de pensamento que existe por trás da posição da Igreja a respeito das questões ambientais. Ele cita Kyle Kramer, autor de “A Time to Plant: Life Lessons in Work, Prayer, and Dirt” (“Tempo de plantar: lições de vida no trabalho, na oração e na sujeira”), dizendo: “O mundo é criação de Deus e o nosso papel é cuidar dele de forma responsável, para o bem de todas as pessoas e das outras criaturas, em especial dos mais pobres e das gerações futuras. A Igreja nos desafia a agir em solidariedade com a criação e com os pobres: ajudando os mais afetados pelos problemas ambientais, como as alterações climáticas e a seca; simplificando o nosso estilo pessoal de vida e de consumo; defendendo uma reforma política e econômica que nos leve a uma sustentabilidade social e ecológica de longo prazo".

A preocupação com o meio ambiente não faz parte apenas da preocupação com os pobres: ela também está relacionada com a espiritualidade autêntica. William Patenaude, que mantém um blog sobre ecologia católica, diz que o desafio de ser bons administradores dos recursos da terra "faz parte do próprio desafio de viver: temos que viver uma vida sóbria, equilibrada, virtuosa, sacramental, santa e focada em Deus e no próximo. Quando se busca primeiro a santificação, quando se luta para viver uma vida virtuosa, se é menos propenso a adotar comportamentos que diminuem a dignidade humana e prejudicam os ecossistemas. O consumismo excessivo dos indivíduos é sintoma, frequentemente, de uma alma que não está em paz; que procura a saciedade nas coisas mundanas".

Como parte da doutrina social da Igreja católica, a encíclica do papa Francisco sobre o meio ambiente certamente proporá esta questão num contexto mais amplo, ligando os pontos para mostrar que a preocupação com o meio ambiente tem implicações econômicas, demográficas e sociológicas. Seguindo os passos dos seus antecessores, que sempre demonstraram preocupações sociais, o ensinamento do papa Francisco brotará em primeiro lugar da preocupação com a salvação da humanidade e da compaixão católica não apenas pela criação, mas por toda a família humana.
SIR
*Dwight Longenecker é padre.
11/02/2015  |  domtotal.com

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