As obras de misericórdia espirituais

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Mais do que oferecer soluções, podemos mostrar um caminho que auxilie nas decisões.
Por Dom Adelar Baruffi*
O Jubileu da Misericórdia nos convida a um estilo de vida misericordioso. Ele se torna concreto, sobretudo, nas obras de misericórdia: corporais, que já apresentei, e as espirituais. Assim, a Igreja é “chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e atenção devidas.” (MV 15).
Aconselhar os indecisos. Mais do que oferecer soluções, podemos mostrar um caminho que auxilie nas decisões. O discernimento, dom do Espírito, é consequência da acolhida da Palavra e do conhecimento da realidade pessoal e social.
Ensinar os ignorantes. A ignorância pode ter várias faces. Uma delas, uma grande dívida social, é um ensino de qualidade, que ofereça cidadania a todos. Outra é a ignorância no que se refere à fé, ao conhecimento da Palavra e da doutrina cristãs. Daí que a comunidade cristã deve ser “a casa de iniciação à vida cristã”.
Admoestar os pecadores. “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão.” (Mt 18,15). Quem é misericordioso não é conivente com o erro, mas, com caridade, ajuda o irmão a crescer. Também os pecados sociais (corrupção, injustiças, fome, violência...) devem ser corrigidos, com ousadia e profetismo.
Consolar os aflitos. Saber ouvir “com o coração”, sem pressa, importando-se com a aflição de outra pessoa. Que os aflitos encontrem em nossas comunidades um ambiente de irmãos e irmãs. A indiferença é um grande pecado. Recomenda-nos São Paulo: “Consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros.” (1Ts 5, 11).
Perdoar as ofensas. Uma das características mais evidentes da misericórdia é o perdão. Deus é misericordioso e perdoa sempre. O caminho da paz e da fraternidade passa pelo perdão e a coragem de assumir posturas que não sejam de vingança. Na oração do Pai-Nosso rezamos: “perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
Suportar com paciência as pessoas molestas. A arte da convivência pacífica e harmoniosa exige de todos a paciência. A consciência de que Deus é paciente conosco, com nossas fraquezas, leva-nos a sermos tolerantes com os outros. A intransigência é fonte de violência. “Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente toda vez que tiverdes queixas contra os outros.” (Cl 3, 13).
Rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos. Nossa oração é sempre um ato eclesial. Rezo com a Igreja e pela Igreja, pelos que caminham conosco e pelos que já partiram. Em Cristo, formamos uma comunhão que nos une a todos, vivos e falecidos. A oração de intercessão liberta-nos de nosso individualismo e nos torna generosos. “Em todas as minhas orações, sempre peço com alegria por todos vós [...], pois vos tenho no coração.” (Fl 1,4.7), diz São Paulo.
Enfim, “a experiência da misericórdia torna-se visível no testemunho de sinais concretos como próprio Jesus nos ensinou. Todas as vezes que um fiel viver uma ou mais desta obras [obras de misericórdia] pessoalmente obterá sem dúvida a indulgência jubilar.” (Papa Francisco).
CNBB 20-01-2016.
*Dom Adelar Baruffi é bispo de Cruz Alta (RS).

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