Quando a misericórdia invade nosso coração, podemos perceber a presença e o amor de Deus.
Por Dom José Gislon*Estimados Diocesanos! O tempo da Quaresma nos convida a refletirmos sobre a nossa vida de comunhão com o Senhor. Recordamos do amor de Deus Pai, manifestado por cada um de nós, na paixão de seu Filho Jesus. Mas esse amor tem algo de diferente, não se extingue no tempo e na história, não cai no vazio e na indiferença, não faz promessas que caem no esquecimento. Esse amor que está ao alcance do coração humano é divino, pois através dele podemos perceber a presença de Deus agindo no mundo, nos reconciliando com a sua misericórdia.
Quando deixamos a misericórdia invadir o nosso coração, podemos perceber a presença e o amor de Deus na nossa vida. É o momento em que a graça de Deus nos ajuda a olhar o caminho percorrido e nos faz perceber que talvez tenhamos vivido longe do Criador e da sua casa. Podemos ter perdido o sentido da vida, a dignidade de ser humano e, às vezes, até a coragem de recomeçar, porque não sabemos mais quem somos.
Lembro que foi na mais profunda desolação, depois de ter dissipado toda a herança que recebera, que o filho pródigo recordou-se do Pai, do aconchego da sua casa. Porém, precisou primeiro olhar para dentro de si mesmo, tomar consciência da sua situação de abandono, para depois criar coragem e iniciar o caminho que o conduziria novamente à casa do Pai. Ao ver de longe o filho chegando o Pai vai ao seu encontro, o acolhe na sua misericórdia com um abraço de ternura, alegre pelo seu retorno. Não pediu quanto restava da herança ou no que tinha sido gasta. O Pai estava feliz porque o filho tinha voltado. Ao retornar para a casa do Pai, o filho pródigo recuperou sua dignidade, percebeu que o Pai sempre estivera à sua espera, amando-o como filho.
Santo Ambrósio, num de seus escritos, lembra que “não são os laços de sangue que nos tornam próximos uns dos outros, mas a misericórdia”. Dos laços de misericórdia, que unem os homens em vínculos novos, nascem as obras de misericórdia, aquelas obras que produzem a justiça. Um homem rico de misericórdia, quando não tem nada para doar a um pobre, lhe doa o seu amor, tornando-se próximo daquele que vive na miséria. Deus Pai nos ama como filhos e filhas e nos espera na sua casa com o abraço da misericórdia.
CNBB 24-02-2016.
*Dom José Gislon: Bispo de Erexim.
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