800 anos do Perdão de Assis

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Por Cardeal Orani João Tempesta*
Iniciamos o mês vocacional – Agosto – com o eco da grande JMJ da misericórdia de Cracóvia e com a comemoração do oitavo centenário do perdão de Assis, a assim chamada indulgência da Porciúncula que contará com a visita do Papa Francisco nesta semana. 
Uma feliz providência: um centenário de concessão da misericórdia no ano do jubileu extraordinário da misericórdia com dois homens que levam o nome de Francisco. Com textos consultados na rede mundial de computadores e de domínio público reflitamos sobre este importante momento.
Francisco nasceu em Assis, na Úmbria (Itália) em 1182. Jovem orgulhoso, vaidoso e rico, que se tornou o mais italiano dos santos e o mais santo dos italianos. Com 24 anos, renunciou a toda riqueza para desposar a “Senhora Pobreza”. Levará consigo para sempre essa missão evangelizadora e entusiasmada de servir a Cristo nos irmãos, em especial nos mais pobres.
Aconteceu que Francisco foi para a guerra como cavaleiro, mas doente ouviu e obedeceu a voz do Patrão que lhe dizia: “Francisco, a quem é melhor servir, ao amo ou ao criado?”. Ele respondeu que ao amo. “Porque, então, transformas o amo em criado?”, replicou a voz. No início de sua conversão viveu como eremita e na solidão, quando recebeu a ordem do Senhor na igrejinha de São Damião: “Vai restaurar minha igreja, que está em ruínas”. Partindo em missão de paz e bem, seguiu com perfeita alegria o Cristo pobre, casto e obediente. 
Nessa época campo de Assis havia também uma antiga ermida abandonada dedicada a de Nossa Senhora no local chamado Porciúncula (de pequena porção). Este foi um dos lugares prediletos de Francisco e dos seus companheiros. Sim, companheiros, pois na Primavera do ano de 1200 já não estava só; tinham-se unido a ele alguns jovens que pediam também esmola, trabalhavam no campo, pregavam, visitavam e consolavam os doentes. A partir daí, Francisco dedica-se a viagens missionárias: Roma, Chipre, Egito, Síria… Peregrinando até aos Lugares Santos dentro da expansão da Ordem. O trabalho na terra santa dos freis franciscanos até hoje é um belo sinal de dedicação às terras e locais por onde Jesus passou. 
Em 1223, foi a Roma e obteve a aprovação mais solene da Regra, como ato culminante da sua vida. Na última etapa de sua vida, recebeu no Monte Alverne os estigmas de Cristo, em 1224. Já enfraquecido por tanta penitência e cego por chorar pelo “amor que não é amado”, São Francisco de Assis, na igreja de São Damião, encontra-se rodeado pelos seus filhos espirituais e assim, recita ao mundo o cântico das criaturas. São Francisco de Assis, retira-se então para a Porciúncula, onde morre deitado nas humildes cinzas a 3 de outubro de 1226. Passados dois anos incompletos, a 16 de julho de 1228, o Pobrezinho de Assis era canonizado por Gregório IX.
A hodierna e majestosa Basílica de Santa Maria dos Anjos abriga no seu interior a pequena Capela da Porciúncula, local onde Francisco confirmou a sua vocação numa noite do ano 1216. O nome de Santa Maria dos Anjos provém da tradição de que, naquela pequena Capela, que foi construída por quatro peregrinos que retornavam da Terra Santa, era venerado um fragmento do túmulo da Virgem Maria, e que sempre se ouvia no local o canto dos anjos. Foi também nesta pequena Capela, que recebeu o nome de Porciúncula, isto é, pequena porção, que São Francisco recebeu a indulgência do “Perdão de Assis”. Conta-se a história desse momento místico da vida de São Francisco: estava certa noite em sua cela, rezando pela conversão dos pecadores, quando um anjo convidou a dirigir-se à Capela da Porciúncula. Lá chegando, encontrou-a toda iluminada e no meio de um coro de anjos estava a Virgem Maria ao lado de seu Divino Jesus.
Jesus, dirigindo-se a Francisco, disse-lhe: “Em recompensa ao teu zelo pela conversão dos pecadores, pede-me o que quiseres”. Francisco pediu-lhe então a indulgência Plenária para todos aqueles que tendo confessado e comungado, visitassem aquela pequena igrejinha. São Francisco, meio que assustado com seu atrevimento, suplicou a intercessão da Virgem Maria. O pedido teria que ser aprovado pelo Papa, Francisco com a face no chão. Adorou o seu Senhor. No dia seguinte, Francisco foi ao encontro do Santo Padre; este, porém, lhe concedeu a graça apenas um dia no ano, ou seja a cada 02 de Agosto. Nesta data, denominada “Perdão de Assis”, é enorme a afluência de fiéis à Basílica da Porciúncula e a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora dos Anjos.
Esta festa é uma das mais importantes, ainda hoje, da família franciscana, pois foi estendida, mais tarde, pelo Papa Sisto IV, a todas as igrejas do orbe.  Então, somos todos beneficiados pelo “Perdão de Assis” ou “Dia do Perdão”, para tanto, devemos fazer uma boa confissão, participar da Eucaristia, e, entrando na igreja franciscana, rezar pelo Santo Padre, o Papa. Louvemos ao Senhor que fez nascer São Francisco, que revolucionou, com sua ordem, a Igreja, sem precisar abandoná-la ou fundar outra. No mês das vocações, vamos lembrar o despojamento, a coragem, a simplicidade, o amor e a pobreza do Santo de Assis.
Encerramos este artigo rezando a oração de Nossa Senhora dos Anjos: “Augusta Rinha dos céus e soberana Senhora dos Anjos, Que recebeste de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás, Nós vos pedimos humildemente: Enviai as legiões celestes para que, sob Vossas ordens persigam os demônios; Combatam-nos em toda a parte, reprimam a sua audácia e os precipitem no abismo. Quem é como Deus? Santos, anjos e arcanjos protegei-nos, defendei-nos! Ó boa e terna Mãe, vós sereis sempre O nosso amor e a nossa esperança! Ó divina mãe, enviai os vossos anjos, Para que nos defendam e afastem de nós O cruel inimigo! Assim seja!” (Papa Leão XIII).

CNBB 02-08-2016.
*Cardeal Orani João Tempesta: Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ).

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