O Reino de Deus e as árvores

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

                         Árvores trazem a ideia de segurança, de que algo é inabalável e inatingível. 

                                       Deveríamos aprender com as árvores a beleza da vida.

Fabrício Veliq*
Gosto de pensar em árvores. Elas possuem suas raízes geralmente grandes, seus troncos ora grossos, ora não tão grossos assim e suas folhas verdes nas estações corretas.

Gosto de pensar que toda árvore serve para alguma coisa. Seja para dar sombra, seja para embelezar paisagens, seja para servir de ninhos aos pássaros.
Árvores geralmente são admiradas pelas flores ou frutos que produzem. Sinceramente prefiro observar as flores aos frutos, mas de toda forma, há sempre alguém admirando uma árvore em algum lugar.
Árvores trazem a ideia de segurança, de que algo é inabalável e inatingível, de que podemos repousar sobre ela e ela continuará para sempre a nos proteger do calor do sol, que sempre terá uma beleza para se ver e um fruto para comer dela.
O que gosto de pensar é que árvores assim, que trazem todas essas conotações, são as árvores que possuem as raízes profundas. Raízes que foram se estendendo para além da terra no decorrer do tempo.
Leva-se tempo para que árvores se tornem fortes e inabaláveis nas diversas tempestades e ventanias que se abate sobre elas e, não é sem perdas que essas se tornam fortes.
E assim somos nós também.
Deveríamos aprender com as árvores a beleza da vida, a consciência de que é com raízes profundas que se alcançam alturas inimagináveis e que crescimento interior leva tempo e exige a disposição de penetrar nos solos da alma e sondar-se a cada dia.
Árvores não desejam ser grandes, simplesmente crescem e se desenvolvem, tanto para baixo, quanto para cima.
Na maioria das vezes não percebemos seu crescimento para baixo, somente o crescimento para cima. E acho que isso é uma grande lição para nós.
As pessoas ao nosso redor, dificilmente perceberão o crescimento de nossas raízes, só perceberão o aparecimento de nossas flores e frutos. Mas nós devemos saber como nossas raízes tem crescido e para onde ela tem crescido e isso fará diferença nas flores e frutos que serão vistos.
Devemos estender nossas raízes para os lugares e para as pessoas que nos farão crescer e desenvolver a fim de que possamos dar frutos e flores que alimentem vidas e encante almas ao se aproximarem de nós.
Jesus certa vez comparou o reino de Deus a um grão de mostarda que mesmo sendo a menor das sementes, ao crescer se torna uma grande árvore e dá repouso às aves que fazem nela os seus ninhos. Disso podemos também tirar um grande ensinamento: de que aquilo que, muitas vezes parece imperceptível e que, muitas vezes, consideramos como insignificante, esconde em si um potencial de grande transformação e alento para diversas pessoas.
O reino de Deus, que aos olhos de muitos é visto como mera projeção de um mundo que queremos ou como tentativa de fuga da realidade que vivemos no dia a dia, na fala de Jesus, se mostra somente como devir.
No instante que vemos o grão de mostarda, somente pela fé é que conseguiremos ver a grande árvore que sairá dali. Da mesma forma, é somente pela fé que vemos, nas pequenas sementes do Reino que já se mostra, o Reino vindouro de Deus, onde Ele reinará sobre todas as coisas.
Assim, pensar em árvores e pensar no Reino de Deus nos traz outro grande ensinamento: de que a fé, aliada à esperança, nos faz, apesar de todas as dificuldades e de todas as mazelas que vemos no mundo, lutar contra as injustiças e contra o descaso contra os oprimidos, sofrer com eles em simpatia e empatia por percebermos que não é esse o Reino que há de vir.
Ao fazermos isso, lutando por justiça, por igualdade e contra toda opressão, mostramos os diversos grãos de mostarda que, aos nossos olhos, um dia se transformarão em grande árvore dando alento a todo aquele que a buscar.
* Fabrício Veliq é mestre e doutorando em teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), formado em matemática e graduando em filosofia pela UFMG.Atualmente ministra cursos de teologia no curso de Teologia para Leigos do Colégio Santo Antônio, ligado à ordem Franciscana. É protestante e ama falar sobre teologia em suas diversas conversas por aí.
31/08/2016 | domtotal.com


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