Alegria, nele havia os sinais da paixão

domingo, 18 de abril de 2010

Acorreram as multidões louvando a Deus e dizendo: “Louvado e bendito sejas, Senhor nosso Deus, que a nós indignos confiastes tão santo espólio! Louvor e glória a ti, Trindade inefável!”
Toda a cidade de Assis veio em peso, e a região inteira acorreu para presenciar as grandezas de Deus, que o Senhor da majestade tinha mostrado com a glória do seu santo servo. Cada um cantava seu canto de alegria, conforme lhe inspirava a alegria do coração, e todos bendiziam a onipotência do Salvador por terem cumprido seu desejo. Mas os filhos choravam por ter perdido semelhante pai e mostravam com lágrimas e suspiros a afeição piedosa de seus corações.
A tristeza era temperada por um gozo inaudito e a novidade do milagre enchera-os de assombro. Mudou-se o luto em cântico e o pranto em júbilo. Nunca tinham ouvido falar nem tinham lido sobre o que seus olhos estavam agora vendo. Se o testemunho não fosse tão evidente, mal poderiam acreditar. Brilhava nele uma representação de cruz e da paixão do Cordeiro imaculado, que lavou os crimes do mundo, parecendo que tinha sido tirado havia pouco da cruz, tendo as mãos e os pés atravessados pelos cravos e o lado como que ferido por uma lança.
Contemplavam sua pele, escura em vida, brilhando de brancura, e confirmando por sua beleza o prêmio da bemaventurada ressurreição. Viam seu rosto como o de um anjo, como se estivesse vivo e não morto, e seus outros membros tinham adquirido a flexibilidade e a contextura de uma criança nova. Seus nervos não se contraíram, como acontece com mortos, não se endureceu a pele nem se enrijeceram os membros, mas dobravam para onde se quisesse.
Resplandecendo essa admirável beleza diante de todos os que assistiam, e como sua carne tinha ficado mais alva, era admirável ver em suas mãos e pés não as feridas dos cravos mas os próprios cravos, formados por sua carne, com a cor escura do ferro, e o seu lado direito rubro de sangue. Os sinais do martírio não incutiam horror nos que olhavam, mas emprestavam muita beleza e graça, como pedrinhas pretas num pavimento branco.
.Acorriam os frades seus filhos e, chorando, beijavam as mãos e os pés do piedoso pai que os deixava, e também o lado direito, cuja chaga era uma lembrança preclara daquele que também derramou sangue e água desse mesmo lugar e assim nos reconciliou com o Pai. Para as pessoas do povo era o maior favor serem admitidas não só para beijar mas até só para ver os sagrados estigmas de Jesus Cristo, que São Francisco trazia em seu corpo. Diante dessa visão, todos eram levados mais à alegria do que ao pranto, e se alguém chorava era mais pelo gozo que pela dor. Quem teria um coração de ferro para ficar sem gemer? Quem teria um coração de pedra, que não se partisse de compunção, não se acendesse pelo amor divino, não se enchesse de boa vontade ? Quem haveria tão duro e insensível que não chegasse a entender que o santo, honrado na terra por esse privilégio especial, não seria engrandecido no céu com uma glória inefável?

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