IMPRESSÃO DAS CHAGAS DE NOSSO PAI SÃO FRANCISCO

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

FESTA CELEBRADA DEVOTAMENTE PELA FAMÍLIA FRANCISCANA A 17 DE SETEMBRO

O Seráfico Pai Francisco, desde o início de sua conversão, dedicou-se de uma maneira toda especial à devoção e veneração do Cristo  crucificado, devoção que até a morte ele inculcava a todos por palavras e exemplo. 

Quando em 1224 Francisco se abismava em profunda contemplação do Monte Alverne, por um admirável e estupendo prodígio, o Senhor Jesus imprimiu-lhe no corpo as chagas de sua paixão. O Papa Bento XI concedeu à Ordem dos Menores que todos os anos, neste dia, celebrasse a memória de tão memorável prodígio, comprovado pelos mais fidedignos testemunhos.

(O trecho abaixo, descreve vivamente os momentos antes e durante esse extraordinário acontecimento na vida de São Francisco, em que estado de espírito ele se encontrava).
                                      
                                    A sua Oração


Estamos na Europa, no sufocante mês de agosto dos grilos e das cigarras, do sol e dos temporais imprevistos. Francisco parte para a Toscana, em companhia de Leão, Masseu, Ângelo, Tancredi, Silvestre e Iluminado.

Na Toscana, existe um  monte rochoso e coberto de bosques, inacessível e sublime, com fendas horríveis cobertas de musgos e de frescor. Há muitos anos, o conde Orlando de Chiusi lho doara, em sinal de devoção, para que se servisse dele nos seus encontros com Deus.

Estava na hora de subir ao monte, que se chama Alverne e que esconde seu cume quando as nuvens são baixas.

O homem de Deus caminha penosamente, como que atraído por uma voz que o chama. Ele sabe que algo de excepcional está amadurecendo entre aquelas pedras da montanha.
Caminha; sobe; procura. 
Eis, finalmente, o lugar apropriado. Não aquele que, com amor, lhe mandara preparar o conde, que viera venerar o santo pai chegado às suas terras.

Escolhe outro lugar, sobre um penhasco de arrepiar. Tanto que, os companheiros tiveram dificuldade de colocar um tronco de árvore para servir de ponte entre a montanha e a fenda abrupta do precipício.

Francisco sente necessidade da solidão, não para evitar os homens, mas para ver a Deus, para tocar a Deus numa experiência que já prevê nova e excepcional.
Escolhe também uma forma de vida particular. Solidão, um pouco de pão e um gole de água quando Frei Leão achar oportuno.
Ordena: “Este é o modo de viver que imponho a mim e a vós”(Cons.Estigmas, 2).

Conta Tomás de Celano (I Cel 93) que, mais ou menos naqueles dias (não importa se antes ou durante a permanência no Alverne), Francisco quis enfrentar mais uma vez o “juízo de Deus”. Já o havia feito no início de sua conversão e agora, que se via perto de uma nova e inédita experiência, sentia a necessidade de interrogar a Deus e de assim preparar-se para cumprir integralmente a vontade do Pai que está nos céus.

Tomou, pois, o Evangelho e, feito o sinal da cruz, o abriu. Aconteceu que seus olhos pousaram sobre o trecho do Evangelho que preanuncia a paixão do Senhor. Abriu outra vez o volume e depois uma vez mais; e pela segunda e terceira vez os trechos evangélicos falaram da Paixão do Senhor.

A premonição era claríssima. A mente e a alma de Francisco sentiram um arrepio, como por uma certeza ao mesmo tempo feliz e dolorosa.
“Absorvei, Senhor, eu vos suplico, o meu espírito, e pela suave e ardente força do vosso amor, desafeiçoai-me de todas as coisas que debaixo do céu existem, a fim de que eu possa morrer por vosso amor, ó Deus, que por meu amor vos dignastes morrer”.
Assim rezou do fundo da alma.

Iniciou a quaresma em honra de São Miguel Arcanjo, em meados de agosto. Frei Leão, o único que podia partilhar algum momento com o homem de Deus, respeitava muito bem a senha: “Domine, labia mea aperies”, gritava, pondo o pé sobre o tronco que fazia de ponte entre o mundo dos frades e a solidão do santo.

Nem sempre Francisco respondia, e então Frei Leão não ousava ir além, pois havia recebido ordem de não ultrapassar a ponte sem um convite expresso, quer fosse de dia para levar um pouco de pão e uma escudela de água, quer fosse de noite para recitar as matinas.

A bem da verdade, mais tarde Leão contou que desobedecera um pouco, para certificar-se que Francisco estava bem. E nós podemos perdoar-lhe este tipo de desobediência. Contou também que, mais de uma vez, sempre por ocasião das desobediências, assistira a visões e a colóquios entre o santo e Deus. Mais tarde, a fantasia e a aura de santidade que envolvia Francisco, conjugados com a realidade, criaram um florilégio de visões e colóquios místicos que o leitor interessado pode desentranhar à vontade nas várias obras antigas sobre o santo, particularmente nas Considerações sobre os estigmas, que muitos autores incluem na edição dos Fioretti.

Já que para Francisco os fatos tinham muito valor, depois de ter visto a pobreza do menino de Belém no Natal de Greccio, surgiu-lhe espontaneamente outro desejo:



“Senhor, peço-te que antes de morrer me concedas duas graças: a primeira é que em vida eu sinta na alma e no corpo, quanto for possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportastes na hora da tua acerbíssima paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível,aquele extremo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para voluntariamente suportar tal paixão por nós pecadores”(Cons.Est.3).

A invocação a Cristo é calorosa, participativa. Francisco já sente chegada a hora de fazer sua a experiência dolorosa de Cristo, para falar dela a si mesmo e aos homens. 

Não se pode falar com convicção e profundidade senão das realidades que queimaram a alma e criaram uma experiência.

Francisco estava em êxtase. Com os olhos fechados às coisas materiais, saboreava a paixão do Senhor, como com um beijo se saboreia o amor.

Diante de seus olhos, fechados e prontos a ver, pouco a pouco, tomou forma uma espécie de cruz, distante, embaçada, sustentada por asas de Serafim. Seis asas: duas cobriam a cabeça, duas o corpo duas os pés. Ao centro da cruz, uma figura de homem crucificado.

Uma realidade maravilhosa, na qual alegria e sofrimento se fundem num misto de sentimentos que chamamos e é amor. E, com a aparição que lentamente se dissolve no azul, desabrocham no lado, na mão esquerda e na mão direita e nos pés, cinco chagas que doem e causam prazer e tomam a cor de sangue vivo. Vermelho.




A fortíssima experiência de participar com Cristo da dor da cruz deixa no corpo os sinais da paixão. Como quando o sofrimento te consome e o vês aparecer no rosto seco e no corpo emagrecido.
Pois a alma toca o corpo e o corpo confere quase uma dimensão física às alegrias e às angústias da alma.

Um fato novo, jamais visto, acontecera no penhasco do Alverne, diante de uma fenda que se abria para o abismo e que as legendas populares querem que se tenha aberto no momento da morte de Cristo na cruz, quando o Gólgota tremeu de terror.

Os estigmas de Francisco eram feridas abertas na sua carne. Uma oração encarnada. Lembrança e sinal de uma dor sofrida ao contemplar a crucificação do Filho de Deus.

Naquele momento, “todo o monte Alverne parecia arder em chama esplendidíssima, que resplendia e iluminava todos os montes e vales vizinhos, como se fosse o sol sobre a terra”(Cons. Est.3)

Era o dia 14 de setembro de 1224.

Trecho extraído do Livro “Francisco Homem Cristão”, de Gian Maria Polidoro-Trad. Fr. Ary E. Pintarelli,ofm- Ed.FFB 2001
Original italiano: Francesco d’Assisi – Edizioni Porziuncola 1998

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