Bakhita nasceu no Sudão, África, em 1869. Este nome, que significa "afortunada", não recebeu de seus pais ao nascer, lhe foi imposto por seus raptores, traficantes de escravos árabes. Esta flor africana conheceu as humilhações, os sofrimentos físicos e morais da escravidão, sendo vendida e comprada várias vezes. A terrível experiência e o susto, provado naquele dia, causaram profundos danos em sua memória, inclusive o esquecimento do próprio nome.
Na capital do Sudão, Bakhita foi finalmente comprada em 1888, por um cônsul italiano, que depois a levou consigo para a Itália. Durante a viagem, ele a entregou para viver com a família de um amigo, que residia em Veneza, e cuja esposa, havia se afeiçoado à ela.Depois, com o nascimento da filha do casal, Bakhita se tornou sua babá e amiga.
Os negócios desta família, na África, exigiam que retornassem. Mas, aconselhado pelo administrador, o casal confiou as duas, às irmãs da congregação de Santa Madalena de Canossa, em Schio, também em Veneza. Alí, Bakhita, conheceu o Evangelho. Era 1890 e ela tinha vinte e um anos quando foi batizada recebendo o nome de Josefina.
Após algum tempo, quando vieram buscá-las, Bakhita ficou. Queria se tornar uma irmã canossiana, para servir a Deus que lhe havia dado tantas provas do seu amor. Depois de sentir muita clareza do chamado para a vida religiosa, em 1896, Josefina Bakhita se consagrou para sempre a Deus, que ela chamava com carinho "o meu Patrão!".
Por mais de cinqüenta anos, esta humilde Filha da Caridade, se dedicou às diversas ocupações na congregação, sendo chamada por todos de "Irmã Morena". Ela foi cozinheira, responsável do guarda-roupa, bordadeira, sacristã e porteira. As irmãs a estimavam pela generosidade, bondade e pelo seu profundo desejo de tornar Jesus conhecido. "Sedes boas, amem a Deus, rezai por aqueles que não O conhecem. Se soubésseis que grande graça é
conhecer a Deus!".
A sua humildade, a sua simplicidade e o seu constante sorriso, conquistaram o coração de toda população. Com a idade, chegou a doença longa e dolorosa. Ela continuou a oferecer o seu testemunho de fé, expressando com estas simples palavras, escondidas detrás de um sorriso, a odisséia da sua vida: "Vou devagar, passo a passo, porque levo duas grandes malas: numa vão os meus pecados, e na outra, muito mais pesada, os méritos infinitos de Jesus. Quando chegar ao céu abrirei as malas e direi a Deus: Pai eterno, agora podes julgar.
E a São Pedro:
fecha a porta, porque fico".
Na agonia reviveu os terríveis anos de escravidão e foi a Santa Virgem que a libertou dos sofrimentos. As suas últimas palavras foram: "Nossa Senhora!". Irmã Josefina Bakhita faleceu no dia 8 de fevereiro de 1947, na congregação em Schio, Itália. Muitos foram os milagres alcançados por sua intercessão. Em 1992, foi beatificada pelo Papa João Paulo II e elevada à honra dos altares em 2000, pelo mesmo Sumo Pontífice. O dia para o culto de "Santa Irmã Morena" foi determinado o mesmo de sua morte. Santa Josefina Bakhita é agora a padroeira do Sudão, na África.
Sobre ela,
S.S. Bento XVI dedicou um trecho de sua mais recente Encíclica, Spes Salvi, a nos ensinar
sobre sua vida e a
"esperança":
"Refiro-me a Josefina Bakhita, uma africana
canonizada pelo Papa João Paulo II. Nascera por volta de 1869 – ela mesma não
sabia a data precisa – no Darfur, Sudão. Aos nove anos de idade foi raptada
pelos traficantes de escravos, espancada barbaramente e vendida cinco vezes nos
mercados do Sudão. Por último, acabou escrava ao serviço da mãe e da esposa de
um general, onde era diariamente seviciada até ao sangue; resultado disso mesmo
foram as 144 cicatrizes que lhe ficaram para toda a vida. Finalmente, em 1882,
foi comprada por um comerciante italiano para o cônsul Callisto Legnani que,
ante a avançada dos mahdistas, voltou para a Itália. Aqui, depois de « patrões
» tão terríveis que a tiveram como sua propriedade até agora, Bakhita acabou
por conhecer um « patrão » totalmente diferente – no dialeto veneziano que
agora tinha aprendido, chamava « paron » ao Deus vivo, ao Deus de Jesus Cristo.
Até então só tinha conhecido patrões que a desprezavam e maltratavam ou, na
melhor das hipóteses, a consideravam uma escrava útil. Mas agora ouvia dizer
que existe um « paron » acima de todos os patrões, o Senhor de todos os
senhores, e que este Senhor é bom, a bondade em pessoa. Soube que este Senhor
também a conhecia, tinha-a criado; mais ainda, amava-a. Também ela era amada, e
precisamente pelo « Paron » supremo, diante do qual todos os outros patrões não
passam de miseráveis servos. Ela era conhecida, amada e esperada; mais ainda,
este Patrão tinha enfrentado pessoalmente o destino de ser flagelado e agora
estava à espera dela « à direita de Deus Pai ». Agora ela tinha « esperança »;
já não aquela pequena esperança de achar patrões menos cruéis, mas a grande
esperança: eu sou definitivamente amada e aconteça o que acontecer, eu sou
esperada por este Amor. Assim a minha vida é boa. Mediante o conhecimento desta
esperança, ela estava « redimida », já não se sentia escrava, mas uma livre
filha de Deus. Entendia aquilo que Paulo queria dizer quando lembrava aos
Efésios que, antes, estavam sem esperança e sem Deus no mundo: sem esperança
porque sem Deus. Por isso, quando quiseram levá-la de novo para o Sudão,
Bakhita negou-se; não estava disposta a deixar-se separar novamente do seu «
Paron ». A 9 de Janeiro de 1890, foi batizada e crismada e recebeu a Sagrada
Comunhão das mãos do Patriarca de Veneza. A 8 de Dezembro de 1896, em Verona,
pronunciou os votos na Congregação das Irmãs Canossianas e desde então, a par
dos serviços na sacristia e na portaria do convento, em várias viagens pela
Itália procurou sobretudo incitar à missão: a libertação recebida através do
encontro com o Deus de Jesus Cristo, sentia que devia estendê-la, tinha de ser
dada também a outros, ao maior número possível de pessoas. A esperança, que
nascera para ela e a « redimira », não podia guardá-la para si; esta esperança
devia chegar a muitos, chegar a todos."
"Se tivesse hoje a oportunidade de encontrar os mercadores de escravos que me capturaram e até mesmo aqueles que me torturaram, eu ajoelharia e beijaria suas mãos, pois se isto não tivesse acontecido, eu, hoje, não seria cristã e religiosa." Esta é uma afirmativa de Santa Josefina Bakhita, que
também relata uma amostra dos sofrimentos que passava nas mãos dos seus senhores:
"Uma mulher habilidosa nesta arte cruel
(tatuagem) veio à casa principal... nossa patroa colocou-se atrás de nós, com o
chicote nas mãos. A mulher trazia uma vasilha com farinha branca, uma vasilha
com sal e uma navalha. Quando terminou de desenhar com a farinha, a mulher
pegou da navalha e começou a fazer cortes seguindo o padrão desenhado. O sal
foi aplicado em cada ferida... Meu rosto foi poupado, mas 6 desenhos foram
feitos em meus seios, e mais 60 em minha barriga e braços. Pensei que fosse
morrer, principalmente quando o sal era aplicado nas feridas... foi por milagre
de Deus que não morri. Ele havia me destinado para coisas melhores."
Esta mulher, que tudo isto passou, viveu para ver
dias melhores, para ter um encontro com seu "Mestre". Acrisolada na escola
do sofrimento, Santa Bakhita é um exemplo da esperança cristã, da esperança
transformadora, da esperança que contra tudo espera e aguarda nosso
"destino para coisas melhores". É a verdadeira esperança de quem se
sabe amado e jamais esquecido, de quem sabe que há um Pai Altíssimo que cuida
de todos nós.
Santa Josefina Bakhita está entre os santos cujo
corpo não sofreu
corrupção após a morte.
Oração à Santa Josefina Bakhita:
Oh
Santa Josefina Bakhita, que, desde menina, foste enriquecida por Deus com
tantos dons e a Ele correspondeste com todo o amor, olha por nós.
Intercede junto ao Senhor para que cresçamos no
Seu amor e no amor a todas as criaturas humanas, sem distinção de idade, de
raça, de cor, de situação social.
Que pratiquemos sempre, como tu, as virtudes da
fé, da esperança, da caridade, da humildade, da castidade e da obediência.
Pede agora ao Pai do Céu, oh Bakhita, as graças
que mais preciso, especialmente (indicar o pedido...).
Amém.
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