Existe uma exigência de luta espiritual, de combate para alcançar a qualidade própria de todo ser humano, que une crentes comprometidos a discernir a sua incredulidade e não crentes que visam a reafirmar os fundamentos do seu pensamento: é a luta anti-idolátrica, o esforço cotidiano para responder à fundamental pergunta: "a quem ou a que, como pessoa livre, eu decido obedecer livremente?". O ídolo – ou, melhor, os ídolos, porque a não unicidade é a sua característica – continua sendo obra do homem, e a sua criação, sobrevivência, transformação e funcionamento respondem a instâncias e necessidades antropológicas específicas.
O que emerge em nível de "simulacro", de objeto, se revela autêntico também em nível mais profundo da imagem: o ídolo – seja ele estátua, realidade imaterial ou ideologia – fornece certezas referentes ao divino, e a presunção com que as oferece esconde o engano mais radical, o de não parecer enganoso. Desse aspecto, nasce a surpreendente eficácia "política" do ídolo: antigamente, ele tornava próximo, ao alcance das mãos, o deus que, identificando-se com a polis, lhe assegurava uma identidade e lhe garantia proteções. É por isso que, mesmo depois do declínio do paganismo, a política não deixou de suscitar "ídolos", seres humanos divinizados que esconjuram o divino, ou, se se preferir, o destino humano. É a idolatria que confere dignidade ao culto da personalidade, que a transforma em uma figura "próxima", familiar, domesticada do divino. Capta-se, então, a dimensão política da idolatria, o seu ser um atentado contra a liberdade humana, e se compreende também como a luta anti-idolátrica requer adesão à realidade e à ativação de uma dimensão espiritual, de um espaço interior, da capacidade crítica, para que a liberdade não seja apenas liberdade de reagir, mas de agir, de propor, de projetar.
Além disso, o cancelamento da distância, isto é, essa "familiaridade" que torna escravos (não esqueçamos que o termo familia indicava originalmente o conjunto dos servidores de uma casa), se encontra também nos ídolos "imateriais" tão poderosos hoje: não é por acaso que um dos mitos desde sempre mais fascinantes – o sucesso em termos de poder, de dinheiro e de sexo – favorece e dá vazão a três libidines inerentes a todo ser humano: a libido dominandi, a libido possidendi e a libido amandi. Assim, obra não das mãos, mas das pulsões do homem, essas três forças se erguem diante dele, pedem-lhe adoração e serviço, roubam-lhe a liberdade prometendo-lhes participação ao "divino", acesso ao sobre-humano, proteção contra as forças mortíferas.
Ora, quando a cessão aos apelos das três libidines passa da esfera pessoal para a social, ela assume conotações idolátricas que, na nossa sociedade ocidental, podem ser identificadas no plano econômico com a adoração de tudo a que se pode "dar um preço", enquanto no plano ético e sociológico alimentam a adequação ao comportamento da "massa": é exatamente isso que todos fazem, em uma espécie de reedição demagógica do adágio vox populi, vox Dei. Mas a opinião pública na sua acepção degenerada de "gente" não é uma entidade autônoma, livre, não é um corpo cujos membros interagem pelo bem comum, mas sim um aglomerado indefinido, uma aproximação de individualidade fortemente manipulável. Nesse sentido, a realidade virtual não só supera, mas afugenta a realidade efetiva: então, verdadeiro, objetivo é o que aparece; lícito é o que é tecnicamente possível; recomendável é o que desperta inveja.
No fundo, a estrada em direção à idolatria é sempre a mesma: uma fascinante estrada de escravidão, cujas cadeias e cuja jaula aparecem cada vez mais douradas, mas se revelam cada vez mais rígidas. É a estrada do agir humano desvinculado de uma instância superior – a dimensão do "divino" – que, sozinha, é capaz de trazer à tona toda a grandeza do ser humano e de lhe conferir unidade e plenitude.
É significativo que, para a Bíblia, não existam os ateus, os sem-Deus: ao invés, existem os idólatras, e existe acima de tudo a tentação da idolatria que afeta a todos, o crente assim como aquele que não se define como crente. O ser humano abandonado a si só, que ignora ou despreza a dimensão interior, a capacidade do bem, a dignidade da existência – aquela que a fé chama de imagem de Deus – presentes em si mesmo e no seu próprio semelhante, é idólatra, é escravo das dominantes mais instintivas: se ele renunciar a cultivar a própria dimensão espiritual, descobrirá que o seu coração é presa dos elementos deteriorados que o desumanizam.
Por isso, a luta espiritual diz respeito a todos, combate-se na interioridade de cada um e é mais exigente do que todos os combates exteriores. Mas, ao mesmo tempo, a sua prática constante também produz frutos de pacificação, de liberdade, de mansidão e de caridade: é graças a ela que a fé-confiança torna-se perseverança no bem, que o conhecimento de si renova e vivifica as relações com o outro, que o amor é purificado e ordenado.
O que emerge em nível de "simulacro", de objeto, se revela autêntico também em nível mais profundo da imagem: o ídolo – seja ele estátua, realidade imaterial ou ideologia – fornece certezas referentes ao divino, e a presunção com que as oferece esconde o engano mais radical, o de não parecer enganoso. Desse aspecto, nasce a surpreendente eficácia "política" do ídolo: antigamente, ele tornava próximo, ao alcance das mãos, o deus que, identificando-se com a polis, lhe assegurava uma identidade e lhe garantia proteções. É por isso que, mesmo depois do declínio do paganismo, a política não deixou de suscitar "ídolos", seres humanos divinizados que esconjuram o divino, ou, se se preferir, o destino humano. É a idolatria que confere dignidade ao culto da personalidade, que a transforma em uma figura "próxima", familiar, domesticada do divino. Capta-se, então, a dimensão política da idolatria, o seu ser um atentado contra a liberdade humana, e se compreende também como a luta anti-idolátrica requer adesão à realidade e à ativação de uma dimensão espiritual, de um espaço interior, da capacidade crítica, para que a liberdade não seja apenas liberdade de reagir, mas de agir, de propor, de projetar.
Além disso, o cancelamento da distância, isto é, essa "familiaridade" que torna escravos (não esqueçamos que o termo familia indicava originalmente o conjunto dos servidores de uma casa), se encontra também nos ídolos "imateriais" tão poderosos hoje: não é por acaso que um dos mitos desde sempre mais fascinantes – o sucesso em termos de poder, de dinheiro e de sexo – favorece e dá vazão a três libidines inerentes a todo ser humano: a libido dominandi, a libido possidendi e a libido amandi. Assim, obra não das mãos, mas das pulsões do homem, essas três forças se erguem diante dele, pedem-lhe adoração e serviço, roubam-lhe a liberdade prometendo-lhes participação ao "divino", acesso ao sobre-humano, proteção contra as forças mortíferas.
Ora, quando a cessão aos apelos das três libidines passa da esfera pessoal para a social, ela assume conotações idolátricas que, na nossa sociedade ocidental, podem ser identificadas no plano econômico com a adoração de tudo a que se pode "dar um preço", enquanto no plano ético e sociológico alimentam a adequação ao comportamento da "massa": é exatamente isso que todos fazem, em uma espécie de reedição demagógica do adágio vox populi, vox Dei. Mas a opinião pública na sua acepção degenerada de "gente" não é uma entidade autônoma, livre, não é um corpo cujos membros interagem pelo bem comum, mas sim um aglomerado indefinido, uma aproximação de individualidade fortemente manipulável. Nesse sentido, a realidade virtual não só supera, mas afugenta a realidade efetiva: então, verdadeiro, objetivo é o que aparece; lícito é o que é tecnicamente possível; recomendável é o que desperta inveja.
No fundo, a estrada em direção à idolatria é sempre a mesma: uma fascinante estrada de escravidão, cujas cadeias e cuja jaula aparecem cada vez mais douradas, mas se revelam cada vez mais rígidas. É a estrada do agir humano desvinculado de uma instância superior – a dimensão do "divino" – que, sozinha, é capaz de trazer à tona toda a grandeza do ser humano e de lhe conferir unidade e plenitude.
É significativo que, para a Bíblia, não existam os ateus, os sem-Deus: ao invés, existem os idólatras, e existe acima de tudo a tentação da idolatria que afeta a todos, o crente assim como aquele que não se define como crente. O ser humano abandonado a si só, que ignora ou despreza a dimensão interior, a capacidade do bem, a dignidade da existência – aquela que a fé chama de imagem de Deus – presentes em si mesmo e no seu próprio semelhante, é idólatra, é escravo das dominantes mais instintivas: se ele renunciar a cultivar a própria dimensão espiritual, descobrirá que o seu coração é presa dos elementos deteriorados que o desumanizam.
Por isso, a luta espiritual diz respeito a todos, combate-se na interioridade de cada um e é mais exigente do que todos os combates exteriores. Mas, ao mesmo tempo, a sua prática constante também produz frutos de pacificação, de liberdade, de mansidão e de caridade: é graças a ela que a fé-confiança torna-se perseverança no bem, que o conhecimento de si renova e vivifica as relações com o outro, que o amor é purificado e ordenado.
Avvenire, 27-09-2013.
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