Francisco muda o rosto da Igreja no Brasil

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O papa Francisco implementou uma série de mudanças na Igreja do Brasil, país que visitou em 2013, com vistas a fortalecer as comunidades eclesiais de base, ao mesmo tempo que tirou espaço de alguns bispos de tendência conservadora e recompôs as relações com o governo da presidenta Dilma Rousseff, assinalaram acadêmicos e religiosos. 

Em menos de um ano como pontífice, o argentino Jorge Mario Bergoglio colocou em prática algumas reformas que "levam seu selo", como o de ter enviado uma mensagem ao 13º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), observou Pedro Ribeiro de Oliveira, professor de Religião na Universidade Católica de Minas Gerais.

O encontro de cerca de 5.000 membros das CEBs, historicamente influenciadas pela Teologia da Libertação, aconteceu entre os dias 5 e 11 de janeiro passado no Ceará, um dos mais pobres do Brasil. "É um gesto importante porque é a primeira vez que um Papa se abre assim às CEBs, onde se compartilha a ideia de uma Igreja libertadora", opinou o monge beneditino Marcelo Barros.

Semanas antes do encontro das CEBs, uma entidade ligada ao Vaticano convidara o líder do Movimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, para participar de um seminário sobre a pobreza e a exclusão em Roma.

Pensadores da Teologia da Libertação, como o ex-sacerdote franciscano Leonardo Boff e o frade dominicano Frei Betto, expressaram elogios ao papa, sua influência favorável sobre o movimento religioso ligado à população simples e sobre o bom diálogo com a presidenta Rousseff.

As relações entre o governo brasileiro e o Vaticano experimentaram uma aproximação desde a chegada do novo pontífice, que foi visitado pela Dilma em março de 2013.

Rousseff voltou a se reunir com o papa mais duas vezes em julho passado, quando este permaneceu durante uma semana no Rio de Janeiro, onde participou da Jornada Mundial da Juventude, encerrada com uma missa da qual participaram milhões de jovens, em sua primeira viagem internacional.

O papa também adotou algumas decisões que afetaram a hierarquia eclesiástica brasileira, como a elevação a cardeal do arcebispo do Rio de Janeiro, Orani Tempesta, e o afastamento da comissão que auditava o Banco do Vaticano do cardeal arcebispo de São Paulo, Odilo Pedro Scherer.

Rousseff, cuja agenda internacional em 2014 será bem apertada devido às eleições presidenciais, voltará à Santa Sé este mês para participar da cerimônia em que Tempesta será criado cardeal por Francisco, em outro gesto de aproximação, conforme publicou nesta segunda-feira o jornal O Globo.

Entretanto, observadores calculam que Odilo Scherer, um religioso considerado próximo ao Papa Emérito Bento XVI, que o criou cardeal, teria perdido espaço na estrutura de poder da Conferência dos Bispos do Brasil, depois que Francisco anunciou, no mês passado, sua saída do organismo que acompanha o Banco do Vaticano.

Outro arcebispo tido como conservador é Murilo Krieger, da Arquidiocese de Salvador, Bahia, que também esteve ligado ao anterior papa Joseph Ratzinger.

Geralmente, o arcebispo de Salvador é criado cardeal, uma tradição que não foi seguida por Francisco, o que foi uma medida “sintomática e que parece sintonizar com a comunidade católica dessa cidade que deseja um cardeal mais progressista”, opinou o professor Ribeiro de Oliveira.

Estão previstas para esta semana nas 12 dioceses do estado nordestino do Maranhão mobilizações contra a violência. O arcebispo de São Luiz, José Belisário da Silva, confia em que esta convocatória estimule a relação das paróquias com seus fiéis.

“A chegada de Francisco marca um grande momento, porque a Igreja estava um pouco ausente nos últimos tempos e este papa, com sua grande simplicidade, tirou a Igreja do seu imobilismo”, assinalou Belisário à revista Carta Capital do último domingo.
Religión Digital, 03-02-2014.

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