Estudo relaciona desmatamento com a seca

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Estudo aponta como solução zerar o desmatamento para ontem e replantar florestas.
Nos últimos quatro meses o pesquisador Antônio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), analisou aproximadamente 200 artigos científicos lançados recentemente sobre a ligação da floresta amazônica e o serviço de regulação do clima do planeta. A conclusão da análise foi lançada na semana passada e, segundo o especialista, não adianta mais simplesmente parar de desmatar.  Será preciso replantar florestas para ter alguma chance de fugir da desertificação.

O relatório "O Futuro Climático da Amazônia” foi encomendado pela Articulación Regional Amazónica (ARA), grupo que reúne entidades da sociedade civil dos nove países que compartilham o bioma. De acordo com Nobre, ao longo dos anos o Brasil pareceu passar imune pela destruição da Mata Atlântica, que teve 90% de sua extensão dizimada, pois a Amazônia vinha compensando os serviços florestais perdidos. Mas nos últimos 40 anos, com a intensificação da degradação e do desmatamento na Amazônia, a floresta vem perdendo sua capacidade de captar e transportar umidade para o resto do País e as consequências disso já estão sendo sentidas.

“O desmatamento sem limite encontrou no clima um juiz que conta árvores, não esquece e não perdoa”, disse o pesquisador em entrevista ao jornal Valor Econômico. Em seu estudo o especialista, que também é pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), afirma que as árvores da Amazônia lançam aproximadamente 20 bilhões de toneladas de água por dia na atmosfera. E é esta água que é levada para o sul do continente, pelas correntes de ar, e se transformam em chuva.

Com o avanço do desmatamento, essa capacidade fica seriamente comprometida e seus efeitos já podem ser sentidos. Como, por exemplo, na falta de chuva que atinge as regiões centro-oeste e sudeste do Brasil. Sem a floresta amazônica, a região que vai de Cuiabá a Buenos Aires e de São Paulo aos Andes, que produz 70% do PIB da América do Sul, seria igual a seus equivalentes latitudinais. Se traçarmos uma linha no mapa mundi, a partir de Brasília, encontraremos quatro dos maiores desertos do mundo: o Atacama, o Kalahari, o deserto da Namíbia e o da Austrália. Isso acontece porque a floresta amazônica exporta “rios aéreos” de vapor, que transportam água para as chuvas fartas que irrigam essas regiões distantes.

"Estamos perdendo um serviço que era gratuito e trazia conforto, fornecia água doce e estabilidade climática”, diz o cientista. De acordo com Nobre, se a situação não mudar agora e radicalmente, ficaremos cada vez mais próximos de um ponto de não-retorno, de onde se seguirá uma irrefreável reação em cadeia, afetando não apenas o Brasil, mas todo o planeta.

Desmatamento Zero e imediato

A floresta tropical amazônica tem um papel fundamental para a regulação do clima do planeta. Mas mesmo com esse conhecimento, ela continua a ser violentamente destruída.

Alguns dos principais fatores que promovem o desmatamento do bioma são a atividade madeireira ilegal, a pecuária e a cultura de soja. Temas que se tornaram centrais em campanhas do Greenpeace Brasil para salvar a floresta.

Nos últimos dez anos várias iniciativas ajudaram a manter em queda os níveis de desmatamento na Amazônia Legal. Conquista que, infelizmente, está em risco.  Apenas um ano depois da assinatura do novo Código Florestal, que trouxe anistia àqueles que cortaram floresta ilegalmente, o desmatamento subiu 29%. Enquanto o Congresso se esforça para aprovar leis que comprometem a demarcação de novas Terras Indígenas e Unidades de Conservação – instrumentos eficazes de conservação da floresta –, o tema esteve simplesmente ausente das eleições deste ano. Além disso, há alguns meses Dilma Rousseff negou-se a assinar a declaração de Nova York, que visa zerar o desmatamento até 2030.

Mas podemos e devemos virar este jogo. O projeto de Lei do Desmatamento Zero vem ao encontro das considerações de Nobre. Lançado em 2012, ele prevê o fim da emissão de licenças de desmatamento em florestas nativas, ou seja, mesmo a porcentagem permitida por lei não poderá mais ser desmatada  A iniciativa já conta com o apoio de mais de 1 milhão de brasileiros.
Greenpeace

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