Necessário e urgente

sábado, 16 de julho de 2016

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 10,38-42
Por José Antonio Pagola*
Enquanto o grupo de discípulos segue o seu caminho, Jesus entra sozinho numa aldeia e dirige-se a uma casa onde encontra duas irmãs a quem aprecia muito. A presença de Jesus, seu amigo, provoca nas mulheres duas reações muito diferentes.
Maria, seguramente a irmã mais jovem, deixa tudo e fica "sentada aos pés do Senhor". A sua única preocupação é escutá-lo. O evangelista descreve-a com os traços que caracterizam o verdadeiro discípulo: aos pés do Mestre, atenta à sua voz, acolhendo a sua Palavra e alimentando-se dos seus ensinamentos.
A reação de Marta é diferente. Desde que chegou Jesus, não faz mais do que esforçar-se em acolhê-lo e atendê-lo devidamente. Lucas descreve-a preocupada por múltiplas ocupações. Sobrecarregada pela situação e magoada com a sua irmã, expõe as suas queixas a Jesus: “Senhor, não te importa que a minha irmã me tenha deixado sozinha com o serviço? Diz-lhe que me ajude”.
Jesus não perde a paz. Responde à Marta com um grande carinho, repetindo pausadamente seu nome; logo, faz-lhe ver que também a Ele o preocupa a sua aflição, mas que deve saber que escutá-lo é tão essencial e necessário que nenhum discípulo pode ficar sem a sua Palavra. “Marta, Marta, andas inquieta e nervosa com tantas coisas; só uma é necessária”. “Maria escolheu a parte melhor e não lhe será tirada”.
Jesus não critica o serviço de Marta. Como o poderia fazer se Ele mesmo está a ensinar a todos com o Seu exemplo de viver acolhendo, servindo e ajudando os demais? O que critica é o seu modo de trabalhar de forma nervosa, debaixo da pressão de demasiadas ocupações.
Jesus não contrapõe a vida ativa e a contemplativa, nem a escuta fiel da sua Palavra e o compromisso de viver na prática o Seu estilo de entrega aos demais. Alerta sim, para o perigo de viver absorvidos por um excesso de atividade, em agitação interior permanente, apagando em nós o Espírito, contagiando o nervosismo e a aflição mais do que a paz e o amor.
Pressionados pela diminuição das forças, estamos a habituar-nos a pedir aos cristãos mais generosos todo o tipo de compromissos dentro e fora da Igreja. Se, ao mesmo tempo, não lhes oferecemos espaços e momentos para conhecer Jesus, escutar sua Palavra e alimentar-se do seu Evangelho, corremos o risco de fazer crescer na Igreja a agitação e o nervosismo, mas não o seu Espírito e a Sua paz. Poderemos vir a encontrar-nos com comunidades animadas por funcionários afligidos, mas não por testemunhas que irradiam o alento e a vida do seu Mestre.

Instituto Humanitas Unisinos
*José Antonio Pagola: teólogo espanhol.
16/07/2016 | domtotal.com

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