SÃO CALISTO, PAPA, SEC. I I I

quinta-feira, 14 de outubro de 2010




Um dos mais importantes e gloriosos na história da Igreja é o pontificado de S. Calisto I, mas a sua figura luminosa está envolvida num halo de obscuridade e névoa, levantado pelas acusações e invejas dos seus adversários: Tertuliano e sobretudo Hipólito Romano, o autor mais provável do livro chamado Filosofúmena.Enquanto este livro denigre e rebaixa quanto pode o nome de S. Calisto, o Liber Pontificalis exalta-o e põe-no ao nível dos maiores papas.

Parece certo ter Calisto nascido escravo. Chamava-se o seu amo Carpóforo e deve ter sido cristão, embora clandestino, homem de muito dinheiro, e grandes negócios. Calisto já desde os primeiros anos era a pessoa de toda a confiança. Carpóforo encarregou-o do banco; muitas viúvas e muitos cristãos confiaram-lhe os seus bens. Não sabemos como – segundo o seus inimigos, por má administração Calisto perdeu o dinheiro. Temendo o castigo, fugiu; mas foi surpreendido por outros escravos do mesmo senhor e condenaram-no ao pistrino, lugar em que os servos faziam andar, como animais, a roda do moinho. 

Afinal parece ter sido Calisto vítima, nos seus negócios, dum engano urdido por parte dos judeus. O senhor acabou por restitui-lo à liberdade, com a esperança de ele recuperar o perdido. Calisto deve ter tido altercações violentas com os que o enganaram, os quais, sendo mais influentes que ele, conseguiram que fosse deportado para as minas da Sardenha, como cristão. 

A adversidade forjava assim o carácter do futuro diácono do papa Zeferino, que foi antecessor seu na Cátedra de Pedro. O confessor de Cristo, vítima ao que parece da avareza, voltou a Roma. Por morte do papa Vítor  que diríamos ter olhado sempre desfavoravelmente para S. Calisto, influenciado sem dúvida pelas calúnias levantadas pelos seus inimigos  S. Zeferino subiu à cátedra de S. Pedro. Devia conhecer muito de perto as notáveis qualidades de Calisto e depositou nele toda a confiança. Nomeou-o secretário e confiou-lhe a administração dos bens da Igreja.

 Como arcediago de Roma, desempenhou atividade benemérita para toda a comunidade e mesmo para os fiéis do mundo todo. Foi ele quem dirigiu a ampliação do cemiteriozinho entre a Via Ápia e a Ardeatina, que hoje é conhecido pelo nome de Catacumbas de S. Calisto; nos séculos III e IV adquiriram, importância excepcional, sendo hoje as mais visitadas de toda a Roma.

 A influência doutrinal e dogmática do arcediago que teve o papa Zeferino foi também decisiva nos princípios do século III.  Começavam em Roma as lutas trinitárias e cristológicas. Havia perigo de exagerar a unidade divina, negando a distinção real das três pessoas, ou também de insistir demasiado na trindade com detrimento da unidade de natureza e essência. Calisto combateu energicamente o monarquismo trinitário contra Práxeas e Sabélio: em Deus há três pessoas realmente distintas e em tudo iguais, ainda que a natureza seja a mesma para as três. Das três Pessoas divinas só o Filho encarnou e morreu por nós. 

No ano de 218 ou 219, foi eleito papa S. Calisto. Não se podia comparar em ciência com o presbítero Hipólito, que tinha alimentado esperanças de suceder a S. Zeferino. Ferido na ambição, Hipólito declarou guerra ao novo Papa;   bem depressa se apresentou a ocasião propicia para o combater. A antiga disciplina eclesiástica de reservar para o juízo de Deus os pecados mais graves contra a Fé e a moral, tais como a apostasia, o adultério e o homicídio, no século III era contraproducente, pois aumentara o número de cristãos e tinha diminuído o fervor. 

O Papa tornou público um decreto, prometendo a absolvição canónica a toda a espécie de pecadores, contanto que se sujeitassem à correspondente penitência. Muitos se alegraram com esta compreensão e mansidão do sucessor de Pedro, que recebera os poderes de Cristo para salvar e não para condenar, para abrir as portas do céu aos homens de boa vontade e não as fechar. Mas num setor de rigoristas, personificados na África por Tertuliano, já cismático, e em Roma por Hipólito, levantou-se grande poeirada de calúnias, tergiversações e atitudes ridículas. Tertuliano, adiantando-se em vários séculos aos cismáticos do Oriente, insulta o Papa, como autoritário insolente, que se arroga o título de Sumo Pontifice, Bispo dos Bispos. Hipólito dirigiu também violentas diatribes, exagerando os riscos que se seguiriam da prudência e do espírito acomodatício do novo papa contra a moralidade pública. As vozes deles, todavia, perderam-se no vácuo. O sentido equilibrado do papa impôs-se, as pessoas desapaixonadas colocaram-se do seu lado e, se bem tenha tido de sofrer muito, triunfou, porque tinha a verdade consigo e a assistência do Espírito Santo.

 S. Calisto, na sua benignidade e indulgência moderada, não fazia senão inspirar-se no espírito do Evangelho, nas palavras d’Aquele que disse a Pedro que devia perdoar ao irmão setenta vezes sete, isto é, sempre que ele confessasse a sua culpa. E quando falava em público aos fiéis, referia-lhes e explicava a parábola do Bom  Pastor, que não repara na contumácia e rebeldia da ovelha perdida, seja ela quem for, mas a procura, pega nela e põe-na aos ombros. Tertuliano ria-se desta linguagem e escrevia-lhe sarcasticamente  «Bom pastor, bondoso pai, referes a parábola da ovelha perdida, vais à busca da cabra extraviada e prometes que no futuro ela será fiel e não tornará a abandonar o rebanho». Sempre a verdade e a virtude foram a medida e a discrição, perante o extremismo inconsiderado e intemperante do erro e da heresia. Nada mais conforme ao Coração bondoso e manso de Jesus, que a bondade e perdão diante do pecador arrependido, que aceita a penitência para satisfazer a culpa. neste caso, todo o rigor é inimigo da salvação.

 S. Calisto coroou a vida com o martírio, como Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas, no ano 222. Segundo a tradição mais segura, morreu numa revolta popular contra os cristãos e foi lançado a um poço. Mais tarde, deram-lhe sepultura honorífica no Cemitério de Calepódio, na Via Aurélia, junto do lugar do seu martírio. Assim se explica não ter sido enterrado na grande necrópole que ele próprio ampliara e onde foram enterrados S. Zeferino e os Papas seguintes, na parte chamada precisamente Cripta dos Papas. Do Livro SANTOS DE CADA DIA, de www.jesuitas.pt.  Ver também www.es.catholic. e www.santioebeati.it


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