Dom Orani: Humanismo cristão e universalismo

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Por Dalmo de Abreu Dallari
O Brasil está em festa pela decisão do papa Francisco de conceder ao Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, o título de Cardeal, o que, a par de ser sumamente honroso, implica a atribuição de enorme responsabilidade, dando-lhe a possibilidade de exercer influência sobre as decisões do próprio Papa e dos órgãos superiores da Igreja Católica quanto a questões fundamentais para a proteção da dignidade humana, a convivência justa e a conquista da Paz.

Com efeito, os agraciados com a dignidade cardinalícia passam a integrar o Colégio dos Cardeais, cujas atribuições, da mais alta relevância, estão definidas no Cânon 349. Como está ali disposto, os Cardeais constituem um Colégio especial, que tem a responsabilidade de prover a eleição do Pontífice Romano.

Além disso, diz ainda o mesmo Cânon, os cardeais dão assistência ao papa, tanto colegialmente, quando são convocados para tratar em conjunto de questões da maior importância, como pessoalmente, mediante as diversas funções que desempenham, ajudando sobretudo o Papa em seu governo cotidiano da Igreja universal.

Dalmo Dallari

O cardeal Dom Orani reúne todas as condições para desempenhar com sabedoria, tranquilidade e eficiência as funções inerentes à dignidade cardinalícia. Modesto, sem nenhum apego ao aparato brilhante e a demonstrações de autoridade, alguns o consideram tímido, o que não expressa com precisão um traço fundamental de sua personalidade, que é o respeito pela dignidade humana de todos e a forma cortez e fraterna como se relaciona com os subordinados, sem nenhum sentimento de superioridade.

Na realidade, sua trajetória sacerdotal é uma demonstração de firmeza e determinação na definição e busca de concretização dos objetivos que considera positivos e desejáveis. A par disso, é uma constante revelação de seu espírito conciliador e de mentalidade aberta, jamais impondo sua vontade e procurando sempre o esclarecimento, a aproximação e o diálogo.

Refletindo sobre os mais prováveis motivos da decisão do papa Francisco de conceder a Dom Orani a dignidade cardinalícia, vários pontos devem ser considerados. Sem nenhuma dúvida, foi de grande importância o relacionamento de Dom Orani com o papa quando este participou no Rio de Janeiro da Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013. O que se verificou, então, foi que havia absoluta identificação de concepções e de estilo entre o Sumo Pontífice e o Arcebispo do Rio de Janeiro.

Houve um grave imprevisto, que foi a ocorrência de grandes chuvas determinando a mudança de local do evento. E Dom Orani, com serenidade, lucidez e firmeza, fez rapidamente as necessárias adaptações, inclusive dando ao papa Francisco a possibilidade de estar bem próximo ao povo, justamente na busca de aproximação, que para ambos deve ser uma diretriz básica da Igreja Católica. E, obviamente, o papa Francisco já viu ali a figura de um valioso assessor e conselheiro, absolutamente identificado com sua concepção do papel da Igreja Católica e com seu estilo conciliador, desprovido de arrogância e de preconceitos.

A par disso, é muito provável que também tenha influído para a escolha de Dom Orani o fato de ser brasileiro, um latino-americano, o que contribui para a busca de universalização da Igreja Católica, reduzindo a tradicional supremacia italiana no Colégio de Cardeais.

Quanto a esse ponto, é oportuno lembrar que a própria eleição do papa Francisco, um argentino, foi reveladora da forte tendência universalista entre os principais responsáveis pelas diretrizes da Igreja. Mas também devem ter pesado bastante as informações do papa sobre a formação e a experiência de D.Orani, que é especialista em Comunicação e já foi titular da diocese de São José do Rio Preto, no Estado de São Paulo, e da Arquidiocese de Belém do Pará, antes de se tornar Arcebispo do Rio de Janeiro, onde, aliás, vem realizando um notável trabalho de aproximação com as comunidades, além de dialogar com os cristãos não católicos e com os membros de outras religiões.

Por tudo isso, existem muitos motivos para se festejar a sábia decisão do papa Francisco elevando Dom Orani à dignidade cardinalícia, pois, com toda a certeza, ele será um valioso assessor do Papa na afirmação do humanismo cristão como diretriz fundamental e na busca de universalidade por meio do diálogo, em benefício da Paz mundial.
SIR/Jornal do Brasil, 05-02-2014.
*Dalmo de Abreu Dallari é jurista.
06/02/2014  |  domtotal.com

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