Quando almas do purgatório retornam dos mortos

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Sim, às vezes elas voltam... Será que temos que ter medo ou agradecer?
Por Susan E. Wills

Não ouvimos mais falar com muita frequência sobre o purgatório hoje em dia, o que é uma pena: a maioria de nós, afinal, vai ter muita sorte se tiver que passar por lá antes de chegar ao céu, em vez de cair direto e para sempre no inferno.

E para que ninguém se queixe de que Deus é “malvado” por mandar as pessoas ao inferno (ou ao purgatório), é bom lembrar que isso depende inteiramente de nós mesmos e do nosso uso do livre arbítrio.

Que presente (assustador, mas maravilhoso) ganharíamos se, alguma noite, fôssemos despertados pela presença de um falecido parente ou amigo nos pedindo orações, sacrifícios e missas para se libertar do purgatório! E seria especialmente bom se essa alma sofredora nos deixasse algum sinal perceptível e duradouro, para que, à luz do dia, tivéssemos a certeza de que aquela visita não foi apenas um pesadelo ocasionado por algum excesso no jantar...

Na parábola do pobre Lázaro e do rico epulão (Lc 16, 19-31), este último, após morrer e ir para o inferno, implora para que Abraão envie "alguém dentre os mortos" a fim de alertar os seus irmãos ainda vivos e fazê-los se arrepender enquanto há tempo. Abraão responde: "Se eles não ouvem Moisés e os profetas, não se deixarão persuadir nem sequer se alguém ressuscitar dos mortos". A referência, é claro, era à própria ressurreição de Jesus, mas, em sua grande misericórdia, nosso Senhor também enviou aos vivos, em várias ocasiões, alguns emissários dentre os mortos. E eles deixaram provas da sua visita.

Por "provas" eu não me refiro aos muitos testemunhos escritos que tantos santos nos legaram sobre o purgatório e sobre o inferno: Santa Margarida Maria de Alacoque, Santa Gertrudes, Santa Brígida da Suécia, São João Maria Vianney, Santa Maria Faustina, Santa Catarina de Sena, Santa Catarina de Gênova... Sem falar de videntes como as crianças de Fátima ou de Kibeho, Medjugorje e Garabandal.

Falo de provas materiais tangíveis, como as que são custodiadas numa pequena sala ao lado da sacristia de uma igreja de Roma, a do Sagrado Coração de Jesus em Prati. Também chamada de “Sacro Cuore del Suffragio” ou Sagrado Coração do Sufrágio, essa igreja neo-gótica, cuja construção foi finalizada em 1917, está situada às margens do rio Tibre, a meros dez minutos da Praça de São Pedro. Ela é bastante peculiar porque abriga o “Piccolo Museo del Purgatorio”, ou seja, o Pequeno Museu do Purgatório.

A missão da Ordem do Sagrado Coração, fundada em 1854 na França, era a de orar e oferecer missas em sufrágio das almas do purgatório. A capela da ordem em Roma, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, ficou severamente destruída pelas chamas em 15 de setembro de 1897. Após o incêndio, o sacerdote designado para a capela, o padre Victor Jouet, ficou atônito ao ver a imagem de um rosto sofrido que parecia ser de uma alma do purgatório em uma das paredes atingidas pelo fogo. Ele pediu e obteve, depois desse episódio, a permissão do papa Pio X para viajar por toda a Europa a fim de coletar relíquias que servissem como indícios de outras visitas feitas por almas do purgatório ao nosso “mundo dos vivos”.

Uma das relíquias expostas hoje no museu mostra um pedaço de madeira da mesa que tinha pertencido à venerável madre Isabella Fornari, abadessa do mosteiro das clarissas de São Francisco, em Todi. A madre Isabella tinha sido visitada pelo falecido padre Panzini no dia 1º de novembro de 1731. Para mostrar a ela que estava sofrendo no purgatório, ele colocou a sua mão esquerda "em chamas" sobre a mesa de trabalho da religiosa, deixando ali impressa a sua mão queimada, além de gravar na madeira da mesa uma cruz com o dedo indicador, igualmente ardente. Para completar, ele colocou a mão também na manga da túnica da abadessa, queimando o braço da religiosa a ponto de fazê-lo sangrar. Depois de relatar o fato ao confessor, padre Isidoro Gazata, este pediu que a religiosa cortasse aquelas partes da túnica e as entregasse à sua custódia juntamente com a pequena mesa.

Em 1815, Margherite Demmerlé, que viveu na diocese de Metz, foi visitada por uma alma que se identificou como sua sogra falecida trinta anos antes, ao dar à luz. Ela pediu que Margherite fosse em peregrinação até o Santuário de Nossa Senhora de Mariental e pedisse a celebração de duas missas por ela. Margherite pediu um sinal e a alma pôs a mão sobre o livro que ela estava lendo, "A Imitação de Cristo": a mão ficou impressa na página aberta. A sogra retornou após a peregrinação, quando as missas solicitadas já tinham sido rezadas, para agradecer e contar que tinha sido liberada do purgatório.

Em 1875, Luisa Le Sénèchal, morta havia dois anos, apareceu para o marido Luigi em sua casa de Ducey, na França. Pedindo-lhe orações, ela deixou a marca incandescente dos seus cinco dedos em suas vestes, além de solicitar que a filha do casal encomendasse missas em intenção do repouso eterno da sua alma.

Cerca de uma dúzia de outras relíquias marcadas por similares eventos sobrenaturais podem ser vistas no Pequeno Museu do Purgatório.

Estes exemplos não pretendem chocar nem assustar. Muitíssimos outros podem ser encontrados, por exemplo, em livros de autoria do renomado padre jesuíta francês do século XIX, François Xavier Schouppe, como "O purgatório explicado". Ele escreveu: “Ao nos dar esse tipo de aviso, Deus nos mostra a sua grande misericórdia. Ele nos exorta, da maneira mais eficaz, a ajudar as pobres almas que sofrem e a permanecermos vigilantes no tocante à nossa própria”.

Quem pensa nos quatro “novíssimos” ou “quatro últimas coisas” (morte, juízo, inferno e paraíso) pode ficar curioso quanto ao purgatório. Embora a Igreja não afirme conhecer a natureza do sofrimento que aflige as almas no purgatório, os comentários do papa emérito Bento XVI e os escritos de Santa Catarina de Gênova (1447-1510), especialmente o seu "Tratado sobre o purgatório", são iluminadores. Ela descreveu o purgatório não como um lugar envolto em chamas, e sim como um estado em que as almas experimentam o tormento das chamas interiores por reconhecerem a sua profunda pecaminosidade diante da perfeição da santidade e do amor de Deus para com elas.

O beato John Henry Newman compôs uma bela oração pelas almas do purgatório. Neste mês dedicado aos fiéis defuntos, seria bom recitarmos esta prece muitas vezes.
SIR
05/11/2014  |  domtotal.com

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