"Quando acreditei que existia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa senão viver somente para Ele".
Pobre para mim para ser rico para ti!
Charles de Foucauld nasceu em Strasburg, na França, em 15 de
setembro 1858. Era descendente de família nobre, de tradição militar. Aos doze
anos, morava com o avô, pois já era órfão. Aos dezesseis anos, Charles escolheu
a carreira militar e, ao final dos estudos nas melhores escolas militares, era
um subtenente do exército francês. Foi uma época repleta de entusiasmos, crises
e desvios, que o levaram a abandonar a fé. Entregava-se, facilmente, a prazeres
e amores libertinos, escandalizando a cidade. Porém sentia necessidade de preencher
sua vida tão vazia e sem rumo.
Em 1883, Charles deixou o exército e viajou para o Marrocos, na África. Ele
conhecia a Argélia e tinha fascínio pelo país que conhecera como oficial
francês. Disfarçou-se de um rabino pobre, vivendo entre as comunidades
judaicas, organizando mapas e esboços dos lugares por onde passava. Esse
trabalho lhe conferiu uma medalha de ouro oferecida pela Sociedade Francesa de
Geografia.
Desde a saída do exército começou a mudança de vida. Com grande apoio dos
parentes e de seu conselheiro espiritual, retornou à fé cristã, que o arrebatou
de vez. Em 1890, Charles decidiu viver apenas para servir a Deus. Ingressou
como noviço num mosteiro trapista de Nossa Senhora das Neves, onde ficou por
alguns anos. Mas a mesa farta e a disciplina pouco rígida, como ele próprio
concluiu, não produzia monges "tão pobres quanto o Senhor Jesus".
Decidiu procurar um estilo de vida que se assemelhasse à humildade de Jesus.
Abandonou o mosteiro e foi à Terra Santa. Lá, sentiu-se mais próximo de Jesus e
adotou a vida de pobreza total. Foi aceito no Mosteiro das irmãs clarissas de
Nazaré, trabalhando nos serviços gerais. Em 1900, retornou a Paris e completou
os estudos no Mosteiro de Nossa Senhora das Neves; recebeu a ordenação
sacerdotal e voltou à África. Mas agora com uma nova missão: levar os
ensinamentos de Cristo àqueles povos que não o conheciam.
Padre Charles desembarcou em Argel, capital da Argélia, em 1901 e rumou para o
sul, bem próximo dos muçulmanos. Em pouco tempo, tornou-se um verdadeiro
eremita e muito querido pela população local. Mas seu objetivo maior era ir
para o Marrocos, evangelizar a terra dos muçulmanos. Contatou amigos tuaregues,
espécie de nômades do deserto, para obter ajuda no seguimento da missão.
Intensificou o estudo da língua nativa daqueles povos. Em 1904, já havia
traduzido os quatro evangelhos na língua dos tuaregues, além de um dicionário
tuaregue-francês. Estava estabelecido no povoado de Tamanrasset, era amigo do
chefe dos tuaregues e tinha construído uma pequena cabana para viver, depois
transformada no seu eremitério.
Em 1912, estourou a guerra entre a Turquia e a Itália. A tensão entre as tribos
tuaregues aumentava. Embora o eremitério de Charles parecesse uma fortaleza,
não era suficiente para protegê-lo. No dia 1o de dezembro de 1916, ele foi
brutalmente assassinado com um tiro na cabeça, por um adolescente de quinze
anos, durante uma tentativa de seqüestro e roubo naquele local.
O exemplo de Charles de Foucauld jamais foi esquecido. Em 1933, seus seguidores
fundaram a união dos Irmãozinhos de Jesus, em sua homenagem. Mais tarde, em
1939, uma congregação feminina foi fundada com o mesmo nome. Ambas adotaram o
estilo de vida que ele sugerira. A obra continuou a florescer e atingiu o
alvorecer do terceiro milênio com mais de dez famílias de religiosos e leigos
que seguem o seu carisma, espalhadas em missões em todos os continentes,
especialmente no africano. A Santa Sé considerou "venerável" Charles
de Foucauld, em 2001 e em 13 de novembro de 2005 o papa João Paulo II o
declarou Bem-aventurado.
Dos Escritos do Beato Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário:
Meu Senhor Jesus, quão depressa será pobre aquele que,
amando-Vos de todo o coração, não puder suportar ser mais rico do que o seu
Bem-Amado!
Quão depressa será pobre aquele que, sabendo que tudo o que
for feito a um destes pequeninos é a Vós que é feito e que tudo o que o não for
também o não será a Vós (cf. Mt 25,40.45), aliviar toda a miséria ao seu
alcance!
Quão depressa será pobre aquele que receber com fé as
palavras que dizem: «Se queres ser perfeito, vende o que tens e dá o dinheiro
aos pobres. Felizes os pobres. Todo aquele que tiver deixado os seus bens por
causa do Meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna»
(Mt 19,21.29; 5,3; 19,29), e tantas outras como estas!
Deus meu, não me parece que seja possível a todas estas
almas, ao ver-Vos pobre, permanecerem ricas por vontade e assim se reverem
maiores do que o seu Mestre, o seu Bem-Amado, ou, se depender delas, não
quererem ser parecidas convosco em tudo, sobretudo nas Vossas humilhações.
Seja como for, não consigo conceber o amor sem a necessidade
imperiosa de tornar conformes, semelhantes e, acima de tudo, correspondidas,
todas as dores, todas as penas, todas as asperezas da vida. Por mim, meu Deus,
não me é possível ser rico e viver desafogadamente dos meus bens quando Vós
fostes pobre e vivestes com dificuldades, tirando laboriosamente o sustento
duma custosa profissão. Não sei amar assim.
Não existe, penso, palavra do
Evangelho que tenha causado em mim uma impressão mais profunda e transformado
ainda mais a minha vida do que esta: "todas as vezes que fizestes estas
coisas a um só destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes".
Se pensarmos que estas palavras são as da Verdade não criada, as da boca que
disse "este é o meu Corpo... este é o meu Sangue", com que força
somos levados a procurar e a amar Jesus nestes "pequeninos", estes
pecadores, estes Pobres!" (1 de Agosto de 1916 a Luís Massignon).
Escrevia no seu Diário espiritual: "A ideia de partir ao encontro dos meus irmãos enchia-me o coração de alegria... A minha ternura cresce sempre... e com esta ternura amo as filhas que a Providência me confiou, amo o mundo inteiro, amo a natureza com todas as belezas" (4 de Abril de 1928).
"Quando acreditei que existia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa senão viver somente para Ele".
Escrevia no seu Diário espiritual: "A ideia de partir ao encontro dos meus irmãos enchia-me o coração de alegria... A minha ternura cresce sempre... e com esta ternura amo as filhas que a Providência me confiou, amo o mundo inteiro, amo a natureza com todas as belezas" (4 de Abril de 1928).
"Quando acreditei que existia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa senão viver somente para Ele".
Beato Carlos de Foucauld, rogai por nós.
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