No tempo do Império Romano, o cristianismo no norte da África contava com admiráveis figuras de cristãos, mártires, bispos e escritores eclesiásticos, que marcaram profundamente a história da Igreja. Entre eles, merece especial destaque São Fulgêncio, bispo de Ruspe, um dos últimos clarões da ciência e santidade da gloriosa Igreja africana dos primeiros séculos.
Fábio Cláudio Gordiano Fulgêncio nasceu perto de Cartago, terra de santo Agostinho, atual Tunísia, pelo ano 467, de família distinta, que lhe deu ótima formação intelectual. Sua luminosa inteligência permitiu-lhe grandes progressos nos estudos, levando-o a desempenhar um elevado cargo social.
Contudo Fulgêncio não se deixou levar pela ambição. Nos tempos livres, procurava a convivência dos monges dum mosteiro vizinho, admirando-lhes a vida e a doutrina. Na biblioteca do convento aperfeiçoava sua cultura religiosa. Sua leitura predileta eram as obras de santo Agostinho, grande mestre da Igreja Africana. Foi exatamente o contato com a espiritualidade deste santo que fez Fulgêncio amadurecer o desejo de se consagrar a Deus na vida monástica, abandonando sua vantajosa posição social.
Contudo, os tempos eram difíceis, atribulados. A África cristã era dominada em parte pelos vândalos, povo migrante, que procurava conquistar territórios através da guerra; em parte por pagãos, que já viviam naquela região; em parte por cristãos arianos, igualmente hostis à Igreja. Fulgêncio sofreu provações, ameaças, perseguições, e foi marcado por sucessivos exílios por causa da fé. Apesar da intranquilidade dos tempos, ele adquiriu prestígio pelo seu alto saber e virtude, a ponto de ser escolhido como bispo de Ruspe. Tinha, então, quarenta anos de idade. Dedicou-se com afinco à reorganização da diocese, procurando consolidar a fé ortodoxa, ameaçada pelas doutrinas donatistas e arianas.
Em 510, mais uma vez, Fulgêncio foi exilado para a ilha da Sardenha, em companhia de outros sessenta bispos africanos. No mosteiro do exílio, Fulgêncio se tornou professor dos bispos, padres, monges, e conselheiro e pacificador entre a população. Tornou-se, dentro da sua humildade, um líder, uma figura que nem mesmo o rei podia ignorar. Gozando já de notável ascendência sobre os outros bispos, formou ali, uma espécie de conselho teológico permanente. Durante o longo exílio, Fulgêncio escreveu muito, escreveu diversos tratados contra a heresia ariana e manteve-se em correspondência epistolar com as mais notáveis personalidades religiosas do tempo, tratando de assuntos teológicos e disciplinares.
Tendo retornado mais tarde à sua sede episcopal, foi recebido triunfalmente por aqueles fiéis que ele tinha animado à fidelidade, com seus escritos. Dedicou-se, então, de corpo e alma à reestruturação da diocese, na qual, durante sua ausência, tinham-se dado diversas irregularidades. Com brandura e firmeza procurou abolir os abusos, purificar a doutrina, restabelecer a ordem e a disciplina eclesiásticas.
As virtudes que mais caracterizaram a vida deste santo Bispo, foram a humildade, a mansidão e a paciência. Nunca se lhe ouviu da boca uma palavra que revelasse egoísmo, nunca lhe escapou uma expressão que pudesse melindrar, entristecer ou ofender o próximo. Não cedia aos impulsos da impaciência, por mais difícil que fosse vencê-la. Tinha por lema sujeitar-se sempre à vontade de Deus, nos lances mais duros da vida. A sua caridade para com o próximo parecia não ter limites. O vivo interesse que tomava pelo bem-estar material e espiritual dos súditos, garantia-lhe a simpatia e o amor de todos.
Morreu no dia primeiro de janeiro de 533, aos sessenta e cinco anos, pregando a caridade como "o caminho que conduz ao céu".
Comentando o martírio de santo Estêvão que, perdoando seus inimigos, conquistou a Cristo e à Igreja o grande apóstolo são Paulo, Fulgêncio assim diz da caridade:"A caridade é fonte e origem de todos os bens, é a mais poderosa defesa, o caminho que conduz ao céu. Quem caminha na caridade não pode enganar-se nem temer, Ela dirige, protege, conduz ao fim. Assim, meus irmãos, já que o Cristo constituiu a escada da caridade por onde todo cristão pode subir ao céu, conservai com firmeza esta virtude pura, expressai-a mutuamente e, nela crescendo, subi".
O Concílio Vaticano II, no decreto sobre a atividade missionária da Igreja, faz menção ao pensamento de São Fulgêncio expresso em uma carta ao rei Trasamundo.
Este Santo, comemorado anteriormente no dia 12 de janeiro, continua ensinando através dos séculos. A Igreja determinou a festa de São Fulgêncio para o dia de sua morte.
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