O superior dos padres
redentoristas em Roma disse que lamenta profundamente que o padre Tony Flannery
(foto) tenha rompido o silêncio que ele havia sido solicitado a observar,
informou o Catholic News Service no dia 23 de janeiro.
O padre redentorista Michael Brehl, superior
geral da ordem, também confirmou que Flannery está sob investigação do Vaticano
por supostas ambiguidades "referentes a áreas fundamentais da doutrina
católica, incluindo o sacerdócio, a natureza da Igreja e a Eucaristia".
Brehl afirmou que queria "convidar
sinceramente" Flannery "a renovar os esforços para encontrar uma
solução consensual para as preocupações levantadas pela Congregação para a
Doutrina da Fé".
Ele também pediu que os redentoristas
irlandeses "se unam a mim em oração e trabalhando juntos no espírito de
Santo Afonso para manter e fortalecer a nossa comunhão com a Igreja
universal".
O padre redentorista irlandês Tony Flannery
rompeu um ano de silêncio no último domingo para revelar que o Vaticano o havia
ameaçado com a excomunhão e com a remoção da sua congregação religiosa porque
ele defende debates abertos sobre os ensinamentos da Igreja sobre a ordenação
de mulheres, o celibato clerical, contraceptivos e homossexualidade.
A Congregação para a Doutrina da Fé do
Vaticano removeu Flannery, 66 anos, do ministério público em fevereiro passado,
enquanto se aguarda o resultado das suas investigações sobre os pontos de vista
que ele expressou na Reality, revista dirigida pelos redentoristas.
Flannery também disse que não teve nenhum
contato direto pessoalmente ou por escrito com a congregação. Toda a
comunicação ocorreu através do superior geral dos redentoristas em Roma, o
padre Michael Brehl.
Flannery descreveu as ações contra ele como
"assustadoras, desproporcionais e reminiscentes da Inquisição".
Ele disse que, inicialmente, tentou firmar um
compromisso com a congregação vaticana, mas em setembro ficou claro que isso
não aconteceria.
"Eu gradualmente tomei consciência de que
a Congregação para a Doutrina da Fé continuamente levantava barreiras até que
eu cheguei ao ponto em que eu não podia mais negociar", disse Flannery.
"Fui confrontado com uma escolha. Ou eu assinava uma declaração, para
publicação, afirmando que eu aceitava os ensinamentos que eu não podia aceitar,
ou eu ficaria permanentemente banido do ministério sacerdotal, e talvez
enfrentaria sanções mais graves".
"É importante deixar claro que essas
questões não eram questões de ensino fundamental, mas sim de governo
eclesial", disse ele.
Flannery, um popular diretor de retiros e
escritor, disse que a congregação também havia lhe ordenado a "não ter
qualquer envolvimento, público ou privado" com a Associação dos Padres
Católicos. Flannery cofundou a associação em 2010 como um fórum de discussão
entre clérigos irlandeses sobre questões que afetam a Igreja irlandesa e a
sociedade.
"Eu servi a Igreja, os redentoristas e o
povo de Deus durante dois terços da minha vida. Durante esse tempo, em sã
consciência, eu levantei questões que eu acreditava que eram importantes para o
futuro da Igreja em livros e em ensaios amplamente lidos por católicos
praticantes, em vez de levantá-los na mídia", disse Flannery em um
comunicado divulgado em uma coletiva de imprensa. "Estou longe de ser uma
figura importante e subversiva dentro da Igreja que mereça a excomunhão e a
expulsão da comunidade religiosa dentro da qual eu vivi desde a minha
adolescência".
A escolha diante dele, afirmou, era entre
decidir entre Roma e a sua consciência.
"Submeter-me a essas ameaças seria uma
traição ao meu ministério, aos meus colegas padres e aos católicos que querem a
mudança", disse.
Os redentoristas da Irlanda emitiram uma forte
defesa de Flannery no domingo.
"Compreendemos e apoiamos os seus
esforços para ouvir cuidadosamente e às vezes para articular os pontos de vista
de pessoas que ele encontra ao longo do seu ministério", disse a equipe de
liderança provincial dos redentoristas irlandeses em um comunicado.
Eles disseram que lamentam imensamente que
"ainda não foram descobertas na Igreja algumas estruturas ou processos de
diálogo que têm uma capacidade maior de se engajar com vozes discordantes do
povo de Deus, ao mesmo tempo em que respeitam a responsabilidade-chave e o
papel central da Congregação para a Doutrina da Fé".
A Associação dos Padres Católicos também
afirmou "nos termos mais fortes possíveis" o seu apoio a Flannery. A
associação disse que Flannery estava sendo visado como "parte de um
esforço mundial para negar a influência das associações independentes de padres
na Áustria, EUA, Alemanha, França, Suíça e outros lugares".
Também estava presente na coletiva de imprensa
o padre Helmut Schüller, da Iniciativa dos Párocos Austríacos. Ele criticou a
"falta de direitos básicos e de respeito pela consciência pessoal" na
Igreja.
A ex-presidente irlandesa Mary McAleese falou
em apoio de Flannery e de outros clérigos irlandeses dissidentes no dia 20 de
outubro, no lançamento do seu livro Quo Vadis?: Collegiality in the Code of
Canon Law [Quo Vadis? Colegialidade no Código de Direito Canônico], na sede dos
jesuítas em Dublin. Lá, ela falou em particular com Flannery, que estava
fazendo uma rara aparição pública.
O grupo de reforma Nós Somos Igreja da Irlanda
anunciou uma vigília pacífica do lado de fora da Nunciatura Apostólica do
Vaticano em Dublin, prevista para o dia 27 de janeiro, para oferecer seu apoio
incondicional ao direito de Flannery "de não ser forçado por um abuso do seu
voto de obediência a se submeter a demandas secretas" da congregação
doutrinal.
Flannery disse: "As ameaças são um meio
não apenas de me aterrorizar em sua submissão, mas também de enviar uma
mensagem para qualquer outro sacerdote que expresse pontos de vista em
desacordo com os da Cúria Romana".
Biografia
Biografia
Natural do oeste da Irlanda, Flannery nasceu
em Attymon, condado de Galway, e passou um tempo como pregador redentorista em
Limerick. Ele tem um grande número de seguidores tanto como pregador, quanto
como diretor de retiros. Ele é um divulgador, mais do que um grande estudioso.
Ele prende a atenção do público por meio do diálogo, especialmente com os pais
que acham que os escândalos dos abusos clericais afastaram os seus filhos da
religião.
Conhecidos antigamente pelos seus sermões
afiados, os redentoristas têm estado na vanguarda dos esforços pela necessária
mudança da Igreja. O livro de Flannery de 1999, From the Inside: A Priest´s
View of the Catholic Church [Do lado de dentro: A visão de um padre sobre a
Igreja Católica], é em parte autobiográfico e em parte uma avaliação do
catolicismo irlandês. Ele é composto de artigos curtos e legíveis, destacando a
inadequada formação sexual e espiritual dos padres. Ele examina as linhas de
falha que surgiram na sequência da encíclica Humanae Vitae, de 1968, do Papa
Paulo VI, mantendo a proibição da Igreja às formas artificiais de contracepção.
Também nesse livro, Flannery criticou o mau
tratamento dado ao celibato clerical por parte da instituição.
Seu livro Fragments of Reality [Fragmentos da
realidade], publicado em 2008 pela Columba Press de Dublin, contém seus
escritos selecionados desde 1998, quando ele era membro da Equipe de Missão
Redentorista que incluía leigos e clérigos.
Ele viu em primeira mão o declínio constante
em toda a Irlanda da participação na Igreja e de candidatos ao sacerdócio.
Ele também testemunhou a continuada negação de
qualquer papel significativo para as mulheres no ministério. "Por mais
quanto tempo essa política pode ser sustentada?", escreveu. "Devemos
ser a última instituição do mundo ocidental que continua mantendo uma
discriminação tão clamorosa contra as mulheres. Eu não tenho nenhuma dúvida de
que não há nenhuma base teológica ou escritural para essa posição, mas se trata
puramente de uma construção social e institucional escondendo um desejo
bastante descarado e primitivo de dominação masculina".
No artigo "A Ordenação de Mulheres",
em Fragments of Reality, ele revelou que conhece algumas das mulheres que foram
ordenadas no movimento de sacerdotisas católicas romanas em um barco em
Pittsburgh, em 2006. Ele conhece pessoalmente a irlandesa Bridget Mary Meehan,
que é uma bispa da Associação de Sacerdotisas Católicas Romanas.
A reportagem é de John
Cooney, publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 23-01-2013.


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